Altas expectativas cercavam o show dos Titãs nessa Virada Cultural: completando 30 anos de carreira, a banda paulistana executaria na íntegra Cabeça Dinossauro, seu clássico álbum de 1986, no palco da Avenida São João, ao meio-dia do domingo. Entretanto, os milhares de fãs que compareceram ao centro de São Paulo viram uma banda que entregou bem pouco do que prometia, prejudicada em boa parte pelo som baixo, mas também pelo seu próprio desânimo.
A ocasião prometia bastante: Cabeça Dinossauro, vale lembrar, é o disco que tem uma meia dúzia de músicas "tapa na cara da sociedade" ("Polícia", "Porrada", "Igreja", "Estado Violência") , algo que São Paulo anda precisando bastante nesses tempos de Cracolândia, Pinheirinho e ocupação da Reitoria da USP. Executado em sua sequência, o disco parecia dar aos Titãs combustível suficiente para queimar a Avenida São João, mas a apatia de Branco Mello - tocando seu baixo de maneira temerária, fazendo muitos ali sentirem saudades de Nando Reis (é...) - e do baterista Mário Fabre sempre ajudavam a acolher essa chama.
Poucos foram os momentos realmente vibrantes da primeira parte do show - normalmente puxados pelo tecladista Sérgio Britto, como "AA UU" ou a introdução já clássica de "Acorda Maria Bonita" para "Polícia"; ou pelo guitarrista Paulo Miklos (pulando que nem um garoto), ao invocar o lixo e a podridão dos "Bichos Escrotos". A apresentação valia mais a pena pela força de suas canções, invocadas pela memória do público, capaz até de lembrar a letra da enigmática "O Que", do que pelo som que vinha do palco. Afinal, não é todo dia que os Titãs se dão ao luxo de tocar ótimos lados-B de seu repertório, como a já citada "Igreja" ou o ska "Dívidas", uma das melhores músicas sobre o momento econômico brasileiro dos anos 80.
Na segunda parte, os Titãs voltaram para mais uma dezena de canções, próximas ao universo de Cabeça. Se por um lado a medida é louvável, por não fazer concessões aos sucessos fáceis que o grupo fez nos últimos anos, como maneira de tentar se manter vivo ("Epitáfio", "Enquanto Houver Sol"); por outro, exibiu a disparidade entre os áureos anos da banda (entre Cabeça e Õ Blésq Blom) e o que ela fez depois, seja nos discos grunge (músicas como "A Verdadeira Mary Poppins" são interessantes como gags, mas não se sustentam) ou hoje em dia (a inédita "Fala Renata" é de uma vergonha que dói). Vale, porém, destacar, a boa presença de "O Pulso", "A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana" - uma música que envelhece bem e fica mais irônica a cada audição - e "Lugar Nenhum", que encerrou a apresentação.
Em 2011, no palco do SESC Santo André, os Titãs exibiram boa vitalidade no palco, embasada em grande parte na nostalgia de suas canções, que paradoxalmente persistem atuais. Essa também acabou sendo a tônica na Virada Cultural, mas com bem menos entrega por parte dos músicos - algo que pode ser ocasional: vale ver a boa resenha de Marcos Bragatto para show da mesma turnê, realizado na sexta, no Circo Voador, no Rio de Janeiro, argumentando a favor da performance titânica. No estúdio, porém, os horizontes parecem tenebrosos para a banda, a se julgar por "Fala Renata" e pela distância do último grande acerto dos Titãs - "Vossa Excelência", de 2006. Triste ver uma das máquinas criativas do rock nacional dos anos 80 nesse estado, aproveitando-se de amargas condecorações aos veteranos.
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