17 de jul. de 2012

Vidinha de Merda


Rita Lee está de volta. E talvez isso não seja uma coisa exatamente boa. Reza, seu 21º álbum de estúdio, chega nove anos após seu antecessor, Balacobaco, que emplacou nas rádios a chatíssima "Amor e Sexo", parceria da cantora com Arnaldo Jabor. Mais uma vez acompanhada pelo maridão coxinha Roberto de Carvalho, Rita comete um disco tétrico, longe da lucidez que exibiu em janeiro, num palco de Aracaju, ao ser detida pela polícia local por desacato à autoridade. 

Logo de cara, "Pistis Sophia" abre o álbum em uma cantilena pretensamente folclórica que parece não chegar a lugar nenhum, e soa como tudo o que Rita queria deixar para trás quando saiu/foi saída dos Mutantes em 1972, na época que o grupo ficou cabeça demais, pescando pessoas no mar. O trio "Bagdá", "Tutti Fuditti" e "Paradise Brazil" soa como composto em uma mesma sessão, usando colagens de palavras ligadas às culturas árabe e italiana, no caso das duas primeiras, e na visão do Brasil lá fora, resultando em versos bizarros como "Umberto Eco, ecco, ecco/Allegro, ma non trepo!" ou "Saddam Hussein pra lá/Aiatolá pra cá/tabule esfiha/kibe homus vatapá". 

Mas calma, que pode piorar: "Bixo Grilo" e "Divagando" são duas músicas eletrônicas de pegada lounge (ideal que ela já havia experimentado em "3001", faixa título de um disco seu de 2001), em que o sentimento e a verve costumeira de Rita passam longe. Na balada jazzy "Rapaz", a compositora chega a propor um trato com um parceiro para ser "sua dominatrix/sua namorada/sua bitch", fazendo corar (de vergonha) quem se lembra da declaração bonita de "Menino Bonito" ou da sensualidade de "Fruto Proibido", ambas da fase Tutti Frutti. 

Quando se dedica a fazer o que sabe melhor, rockinhos básicos com letras instigantes, o resultado chega até a ser acima da média do álbum, com a dupla "Vidinha" e "Tô um Lixo" (ambas com uma bateria imperceptível de Iggor Cavalera). As duas se dedicam a botar o dedo na cara da geração saudável dos últimos tempos, que pratica yoga, não fuma, não bebe, faz dieta e quer ser boa de cama (mas sem levar a fama), mas perdem um pouco de força em seus refrões, que parecem ser escritos por garotos de 15 anos (um simplesmente fala "tô um lixo", enquanto o outro repete insolentemente "vidinha de merda"). 

Vale pensar, entretanto, que os garotos de 15 anos de hoje não são nem capazes de escrever refrões assim (seja por incapacidade, apostando beijos por seu próprio corpo, ou por refinamento de querer dizer algo de maneira mais complicada), e Rita Lee possa ter tomado para si essa missão. De qualquer maneira, não é fazendo um soft rock dos mais primários (no caso de "Reza" ou de "Tô um Lixo") ou propondo um solo de guitarra de quase dois minutos enterrado na mixagem (de "Vidinha") que Rita Lee terá um resultado lá muito efetivo em dizer o que deveria estar sendo dito, arrombando a festa (ou a desgraça) da música popular brasileira. 

2 comentários:

  1. baixei o disco e podíamos fazer um favor para Rita Lee: esquecê-lo. Triste que Rita (grande Rita) tenha produzido algo tão ruim.

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  2. Só ouvi a música italiana, mas, pra mim, as frases "Umberto Eco, ecco, ecco/Allegro, ma non trepo!" foram absolutamente geniais, bem humoradas e totalmente Rita Lee.
    Adorei!

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