28 de abr. de 2011

Um Farol de Sinceridade

Dave Grohl é um bom sujeito. É difícil negar isso ao ver sua entrega quando canta ou exibe seus belos riffs de guitarra de maneira muito sincera. E essa possivelmente é a maior força de Wasting Light, o mais novo trabalho de sua principal banda, o Foo Fighters, e que pode ser ouvido no link a seguir. Wasting Light, é, sim, como tem sido dito por aí, um retorno à sonoridades mais básicas da banda, e talvez também seu disco mais pesado musicalmente falando. Entretanto, o elemento mais importante do álbum é a paixão: em uma época onde poucas canções soam honestas, as onze que compõe esse novo conjunto funcionam como um alento, um farol em meio a um oceano de superficialidade.

24 de abr. de 2011

Art Brut, Marcelo Camelo

Art Brut - Brilliant! Tragic!

Às vezes, certas bandas precisam de maturidade. Outras sofrem problemas quando evoluem musicalmente um pouco que seja. A banda de Eddie Argos e cia. é um exemplo típico do segundo caso. A estréia, Bang Bang Rock'n Roll, contava com deliciosas e urgentes faixas como "Moving to LA", "Formed a Band" e "My Little Brother" - petardos que dificilmente passavam dos três minutos. Aqui, entretanto, fica de lado a porradaria sonora pra faixas mais trabalhadas musicalmente - o que, para o Art Brut, significa tédio. A ironia de Argos ainda continua afiada, com boas frases aqui e ali, mas ao final de suas dez longas faixas, a sensação que fica é de tempo perdido.

Marcelo Camelo - Toque Dela

Talvez um problema que muitos artistas sofram ultimamente é com a fusão de gêneros - e a consequente rotulação por que passam. Poucos casos são mais emblemáticos que o de Marcelo Camelo. Ele - e sua antiga banda - transita por aquele espaço entre o rock e a música brasileira "tradicional", sem definir de fato em qual oceano navega. Entretanto, é possível perceber que desde Los Hermanos, o disco de 99, até o recente Toque Dela, seu trabalho vem sendo "acustificado" e "MPBizado". Isso se percebe tanto nos arranjos das músicas - poucos deles tem a pegada roqueira de outrota, e muitos nem utilizam guitarras - quanto em algumas referências - "Pretinha" é clara menção aos Novos Baianos, "Despedida" remete à clássica "Marinheiro Só", de Caetano Veloso. É um bonito disco - mas pra quem não quer simplesmente uma memória dos tempos dos hermanos. O destaque fica para "Três Dias", parceria entre Camelo e o quadrinista André Dahmer, e sua bonita atmosfera: "Se tiver insônia, sonha/se faltar a paz/Minas Gerais".

19 de abr. de 2011

De volta a 1986, a bordo do DeLorean

Antes de tudo, é preciso avisar que esse texto não pretende ser um retrato completo da Virada Cultural: seria humanamente impossível fazer isso de maneira coerente. Vou apenas me focar nos quatro shows que vi, durante a tarde de domingo, no palco da Praça Júlio Prestes: Plebe Rude, Frejat, Blitz e RPM. Qualquer leitor atento poderia perceber que se tratam de artistas que não estão no auge de sua carreira - e todos eles surgidos durante a pax roqueira dos anos 80 no Brasil. Feito Marty McFly em seu DeLorean, os shows do dia 17 valem a pena como uma viagem de volta a 1986.

14 de abr. de 2011

Dois Pesos, Duas Medidas

Mais um texto da série "do fundo do baú": pra quem ainda não percebeu, tratam-se de textos que escrevi antigamente e ficaram espalhados por outros projetos e sites - como o Pop To The People e o Cinéfilos. A menção ao Teenage Fanclub hoje se faz interessante pelos boatos de que os escoceses virão ao Brasil para dois shows em maio. O texto a seguir foi publicado no Pop To The People, em maio de 2010. Boa leitura!

Uma das minhas expressões preferidas a respeito de injustiças do mundo não diz respeito à fome na África, nem às guerras do Oriente Médio, muito menos à má distribuição de renda ao redor do globo, mas sim a uma banda escocesa: "Se o mundo fosse justo, Teenage Fanclub tocaria no rádio de cinco em cinco minutos”. Você, leitor, entenderia o que eu digo se escutasse Grand Prix, disco que faz 15 anos em 2010 e é um perfeito exemplar do equilíbrio que a banda consegue estabelecer entre limpeza e distorção (clique para ver o clipe de “Sparky’s Dream”) em sua sonoridade. Tal aniversário é um dos motivos da existência desse texto. O outro, antes que você me pergunte, é o lançamento de Shadows, álbum mais recente do conjunto - e que, infelizmente, não faz jus nem à frase nem à idéia de equilíbrio acima citados.

10 de abr. de 2011

A Vida Até Parece Uma Festa

Não é novidade pra ninguém que, nos últimos anos, o Brasil tem sido invadido por um punhado de shows, pra todos os gostos e ouvintes. Isso significa que desde “a maior banda de todos os tempos da última semana” quanto dinossauros do rock têm se apresentado constantemente por aqui - em alguns casos, já virou até piada: "Mas quer dizer que o Iron/o Deep Purple/o Echo & The Bunnymen vai vir DE NOVO?". Apesar das gozações, ir a uma apresentação desses artistas veteranos é observar um ambiente lotado, cheio de fãs fanáticos cantando todas as músicas, de maneira empolgada e empolgante. Algumas bandas brasileiras também têm obedecido a esse fenômeno curioso: embora um tanto quanto indulgentes em seus últimos trabalhos de estúdio, no palco elas crescem e são capazes de fazer os espectadores voltar ao passado. Foi o que aconteceu na última apresentação dos Titãs no ABC Paulista, no palco do SESC Santo André, no último sábado (dia 9).

7 de abr. de 2011

The Vaccines, James Blake

The Vaccines - What Did You Expect from the Vaccines?

O título, irônico e talvez autodepreciativo, deixa entrever o hype (sabe se lá de onde surgido) que envolveu o lançamento deste What Did You Expect From the Vaccines?. Em um disco rápido, a banda inglesa, se não faz bonito, também não chega a decepcionar. Mostram-se influências de Strokes e Libertines aqui ("A Lack of Understanding", "Wreckin' Bar (Ra Ra Ra)", "Post Break Up Sex"), embaladas em uma atmosfera lo-fi, sujinha, querendo brincar com a clássica referência do Jesus & Mary Chain. O melhor momento do álbum fica por conta da chupação de "I Should Have Known Better" (ou de sua versão brasileira "Menina Linda") no refrão de "Blow It Up". Rock rápido e esquecível, à moda dos anos 00 e de 90% dos hypes feitos por aí.


James Blake - James Blake

Ao escutar pelas primeiras vezes o disco de estreia do inglês James Blake, a sensação que fica é de que os "blips" e "blops" que o cantor utiliza em suas músicas servem apenas para tornar a audição irritante. Entretanto, passada uma primeira fase de acostumar-se com os elementos eletrônicos, nuances cada vez mais interessantes do trabalho de Blake se mostram. É de se destacar a sua bela voz (que se assemelha, por exemplo, à do cantor andrógino Antony), a boa aplicação do Auto Tune em algumas faixas e o clima romântico-soturno-sentimental-confessional que ele entrega a petardos como "Unluck", "Limit to Your Love" (cover da cantora canadense Feist) e a belíssima "Wilhelm's Scream". Discão, especialmente pra quem não gosta de eletrônica, como este que vos escreve, começar a gostar.

2 de abr. de 2011

Geração X ou Geração Y?

Um dos mais famosos "conceitos" a respeito do rock'n roll é que, a cada década, sons de 20 anos antes são revisitados a todo o momento: talvez isso tenha começado nos anos 80 brincando com o arsenal lisérgico dos anos 60 (quem aí se lembra do Echo & The Bunnymen fazendo covers de Doors - "People Are Strange"- e Beatles - "All You Need is Love"?). Essa ideia de revisita ficou evidente no grandioso revival que os anos 80 sofreram na década passada, no qual a maioria das bandas que se prezavam - e mais algumas que nem tanto - chupinhavam sem dó riffs e frases musicais de New Order, Gang of Four, Joy Division, Smiths e companhia limitada. Todo esse blábláblá é só pra dizer que a ideia da "viagem no tempo de 20 anos" continua presente nos anos 2010. O álbum de estreia dos londrinos do Yuck, autointitulado, é uma perfeita jornada por muitos dos moldes do rock alternativo dos anos 90.