21 de dez. de 2011

As Canções Que Você Fez Pra Mim

Uma poltrona, uma cortina e uma câmera. Pessoas cantando e contando suas histórias. As Canções, o novo filme de Eduardo Coutinho, talvez leve ao extremo mínimo o estilo do documentarista. Consagrado por filmes como Edifício Master e Jogo de Cena, Coutinho extrai de conversas com pessoas comuns a força motriz de seus filmes, trazendo à tona histórias que por vezes beiram o inacreditável - como a do senhor que conheceu Frank Sinatra narrada em Edifício. As Canções não foge a essa regra, investigando a relação que a música pode ter na vida das pessoas, e que histórias essas músicas lembram.

28 de out. de 2011

Além do Que Se Pode Ver


Começar uma carreira de novo já é um desafio para muitos artistas. Fazer isso duas vezes, por extensão, é algo que apenas poucos conseguem fazer com total controle da situação. Pode-se dizer que, atualmente, é justamente esse controle da "terceira vinda" que está sendo testado na carreira do hermano Marcelo Camelo. Depois de ser "fenômeno das paradas de sucesso" e, ao lado de seu parceiro Rodrigo Amarante, "herói do rock brasileiro da última década", Camelo agora tenta emplacar vôo solo - mas seu passado parece continuar a querer lhe assombrar. Foi o que ficou claro em sua apresentação nesta última quinta-feira (27), no ginásio de esportes do SESC Ipiranga, em São Paulo.

16 de out. de 2011

Shows e Textos

Salve!

Não, este blog não morreu. Para variar, o tempo anda escasso para dar conta de tudo que eu preciso fazer ultimamente - e como quase sempre, quando a coisa aperta quem fica desfalcado é este espaço. Mas isso não significa que eu estou parado não. Nos últimos dias, três textos meus - que particularmente adorei escrever - andaram saindo por aí. :)

Para o Scream&Yell, foram sobre dois shows que vi recentemente: um é sobre a primeira passagem do Tears for Fears por São Paulo na turnê recente que eles fizeram pela América do Sul. Já o outro foi sobre a especial apresentação de Arnaldo Baptista no SESC Belenzinho, no sábado passado. No trabalho, mais conhecido como a Agência USP de Notícias, fiz uma matéria bacana sobre uma dissertação de mestrado que fala das velhas guardas da Portela e da Império Serrano.

E para essa semana, prometo ainda trazer alguma coisa de novo pra esse espaço. Se nada der errado, uma cobertura especial vem vindo aí.

Um abraço!

6 de out. de 2011

Descoberta, Ruptura

Dividir a música em gêneros é uma coisa curiosa. O que deveria servir para guiar e dar uma melhor referência sobre um determinado artista ou estilo acaba, pelo lado oposto, limitando as canções que ouvimos. Como uma espécie que não gosta de mudanças, privilegiamos o conforto, nos centrando em alguns nichos – e por vezes, deixando passar trabalhos artísticos maravilhosos, mas que passariam batido se seguíssemos à risca um rótulo preestabelecido. “A breakthrough”, diriam os ingleses em uma palavra, que em bom português significa tanto "descoberta" quanto "ruptura". É o que acontece, por exemplo, com uma das grandes revelações desse 2011 que começa a se encerrar: o cantor inglês James Blake. Filho da cena dubstep londrina, que se caracteriza por produções muito bem amarradas, com linhas de baixo fortes e baterias reverberantes, Blake chama a atenção com sua voz límpida e potente. Mas seu disco de estreia, James Blake, e o recém-lançado EP Enough Thunder mostram que ele é mais que uma vozinha bonita.

30 de set. de 2011

Surpresa Numa Noite de Quinta

Assim como a maioria das pessoas, costumo ir a shows quando conheço bem e admiro a obra do artista que se apresentará - o que costuma ser uma garantia de que não vou "perder meu tempo" e deixar de fazer outras coisas importantes vendo aquele espetáculo. Entretanto, uma experiência muito bacana de ser feita é justamente a oposta: embarcar numa apresentação sabendo nada ou muito pouco a respeito do que vai acontecer ali na frente. Foi exatamente o que fiz ontem, no Centro Cultural São Paulo, palco da primeira apresentação da turnê que a banda alemã Tusq fará pelo Brasil nos próximos dias, em parceria com o grupo Eletrofan.

27 de set. de 2011

They're (Still) Red Hot

Em post especial, o Pergunte ao Pop comenta as recentes atividades do grupo californiano Red Hot Chili Peppers: o último disco deles, I'm With You, em texto de Bruno Capelas, e a apresentação no Rock in Rio, com cobertura especial do colaborador Victor Francisco Ferreira. É preciso fôlego, mas garantimos a vocês que vale a pena ir até o final.

21 de set. de 2011

O Son(h)o Acabou



Existem dias comuns. E existem dias que, de alguma maneira, inexplicável, parecem ser comuns, mas acabam se tornando inesquecíveis. Um dos modos disso acontecer é quando a sua banda favorita decide que não vai mais existir.

11 de set. de 2011

Rapidinhas: Pélico

Que Isso Fique Entre Nós, do cantor paulistano Pélico, é um disco curioso ao unir a sofisticação e a dor elegante da música brasileira pré-bossa nova - vale ver a versão feita pelo músico para "No Rancho Fundo" - com o brega de rádio AM dos anos 70, resultando em um dos trabalhos mais admiráveis de 2011.

A maioria de suas dezesseis faixas são canções de (des)amor, com pessoas em busca de redenção ("Vamo Tentá", com um refrão poderosíssimo), lidando com segredos ("Que Isso Fique Entre Nós") e imperfeições ("Não Éramos Tão Assim"), sentindo saudades ("Levarei") e se perdendo entre pecados e perdões ("Recado"), resultando num painel sentimental tocante.

O único porém, entretanto, é a extensão do álbum, de maneira que uma pérola passa desapercebida no final do disco: a bonita balada "O Menino", com a cara dos souls que Antonio Marcos compunha para Roberto Carlos lá no início dos anos 70, e ao menos um verso pra ficar guardado: "A inocência é um barco que nunca volta ao cais".

PS: Pra quem quiser conferir o som do artista, ele faz no dia 30, às 21 horas, no SESC Ipiranga, uma apresentação do disco, com a participação de Filipe Catto.

2 de set. de 2011

Para Fazer Sucesso

Um misto de decepção e satisfação. É assim que pode se descrever o primeiro dos dois shows que o cantor Wado fez em São Paulo nesta semana. A convite do projeto CCBB Universitário, uma parceria entre a USP e o Centro Cultural Banco do Brasil, o músico de Alagoas fez uma apresentação com cerca de uma hora de duração, gratuito, em plena Rua Maria Antonia, no coração do centro velho da capital paulista.

22 de ago. de 2011

Driving Music, Gui Amabis

Driving Music - Comic Sans

Toda vez que eu ouço falar de uma banda nova brasileira que canta em inglês, eu sempre torço o nariz - algo que eu já abordei um pouco aqui. Mas quando se tratou do trabalho de Fábio Andrade, sob o nome da Driving Music, algo diferente aconteceu. Comic Sans (disponível para download no link acima), lançado pelo selo carioca midsummer madness em 2011, é um bonito álbum, filho bastardo de discos como Yankee Hotel Foxtrot, do Wilco, e Either Or, do finado Elliott Smith. Pelo menos é o que dá pra sentir em músicas como "Orange Fruit Comes" e "Aphasic Singalong", enquanto "Settle" tem uma condução típica do Manic Street Preachers. O destaque do disco, porém, fica para a facilmente cantarolável "Watching the Wind".

Gui Amabis - Memórias Luso Africanas

O título de Memórias Luso-Africanas pode trazer ao ouvinte alguma ideia de álbum conceitual viajante por motivos particulares e emocionais de Gui Amabis. Não deixa de ser verdade, mas é muito mais uma boa coleção de canções que o produtor fez sozinho, contando com a participação de três nomes em alta rotação na cena indie paulistana: CéU, Criolo e Tulipa Ruiz. Tulipa se apega ao seu padrão romântico-idealista nas fofas "Sal e Amor" e "Ao Mar", enquanto CéU põe à prova todo seu charme em "Swell", uma faixa com cheiro e gosto de maresia. Já Criolo faz bonito na canção "Para Mulatu", que traz consigo algo do passado negro, "toda a beleza dos tambores", como diria o próprio cantor. Vale a pena conferir.

12 de ago. de 2011

Vida de Solteiro

Escrevi sobre esse filme anos atrás, no Anúncio de Refrigerante, um dos muitos blogs que já tive e ficaram perdidos pela internet. A versão que segue é uma revisão daquele texto antigo, então não estranhe se o que vem abaixo lhe parecer familiar.

Quando se é solteiro, é comum que os amigos sejam as pessoas com quem mais convivemos: companheiros de cerveja, de carteado, de shows de rock suados e barulhentos, de noites simplesmente jogando conversa fiada. Estão todos na mesma, procurando ou tentando esquecer alguém – todos têm os mesmos problemas, a diferença é que alguns escondem isso bem e outros não. Quando se é solteiro, vai-se para a noite tentando não ter qualquer preocupação e com apenas um objetivo: se dar bem, pelo menos, até a manhã seguinte.

7 de ago. de 2011

Fountains of Wayne, Miles Kane

Pra quem não viu ainda: lá no Scream&Yell saíram dois textos meus recentemente. Um é uma análise sobre a série Harry Potter, e o outro é uma entrevista que eu fiz em maio com o Giancarlo Rufatto, quando a Hotel Avenida ainda existia e veio a São Paulo para dividir o palco com o Lestics. Enfim, tá esperando o quê pra ir lá ler?

Fountains of Wayne - Sky Full of Holes

Adam Schlesinger, um hitmaker à moda antiga, está de volta com sua banda Fountains of Wayne. Pra quem não se lembra - ou não sabe - o baixista Schlesinger é o responsável por duas pepitas pop de filmes musicais dos últimos tempos: "That Thing You Do" (The Wonders) e "Way Back into Love" (Letra & Música). Além disso, junto com seu parceiro Chris Collingwood, compôs "Stacy's Mom", música que catapultou a carreira do FoW para as paradas de sucesso. Em "Sky Full of Holes", não há nenhuma canção que tenha o mesmo punch radiofônico que "Stacy's" tinha. Entretanto, trata-se sem dúvida de um bonito trabalho, pontuado por um power pop delicioso, feito pra ser escutado em estradas com vento na cara. Entre os destaques, a faixa de abertura "The Summer Place", a ensolarada balada "A Dip In the Ocean" e a romântica "A Road Song". A certa altura desta última, o FoW canta: "I've been writing you a road song/It's a cliché, but hey/That doesn't make it so wrong". Às vezes a música pop é só isso mesmo - e tudo bem.

Miles Kane - Colour of the Trap

Colour of the Trap, primeiro disco solo do inglês Miles Kane, tem sido recebido pela crítica inglesa e americana com muito alarde e interesse. Não é para tanto, mas seria injusto dizer que o álbum não merece a sua atenção, caro leitor. O trabalho de Miles pertence inegavelmente aos anos 2000, com caracteres do rock elegante e urgente que aparece, por exemplo, na obra dos Arctic Monkeys - de quem Kane é bem próximo. Entretanto, passeios por sonoridades perdidas durante os anos 60 e 70 dão um colorido todo especial às canções que compõe este Colour of the Trap. Vale a pena dar uma escutada no clima "soul de branco" de "Rearrange", no bonito refrão de "Counting Down The Days", e no charme de "Take The Night From Me". Noel Gallagher, do Oasis, faz backing vocals em "My Fantasy", a faixa mais bacana do álbum.

5 de ago. de 2011

Colin Meloy & Seus Covers

Não, o título do post não é o nome de uma nova banda à moda da Jovem Guarda. Colin Meloy, pra quem não sabe, é o vocalista dos The Decemberists, banda responsável por um dos discos mais bonitos - e surpreendentes do ano até agora. Não escrevi ainda sobre ele aqui, e acho que depois desse artigo enorme - mas que vale muito a pena ler - do Marcelo Costa, no Scream & Yell, não tenho muito mais a acrescentar.

Entretanto, qual não é a minha surpresa em descobrir que além de ter um baita trabalho autoral, o cara - seja com os Decemberists, seja solo - ainda tem um bom gosto e uma capacidade muito bacana de fazer covers geniais. No começo do ano, já tinha aparecido uma versão da banda americana para "Cuyahoga", petardo de 1986 do R.E.M.


Além deste, dá pra prestar atenção em uma boa coleção, que vai desde Sam Cooke ("Cupid") e The Band ("The Weight", ao vivo no Festival de Newport) até Morrissey ("Everyday is Like Sunday") e Leonard Cohen ("Hey, That's No Way to Say Goodbye"). Enjoy ;P

2 de ago. de 2011

Ditado

Fazendo um balanço rápido do que houve de bom em 2011 até agora para a música brasileira, é impossível deixar passar batidos dois nomes: Criolo e Rômulo Fróes. Algumas características os unem: ambos são de São Paulo, refletem bastante sobre a cena que os cerca, passaram um tempo razoável como quase anônimos até chamar a atenção da mídia e, por fim, mas não menos importante, utilizam o samba como um dos veículos principais para suas composições. Entretanto, o fazem de maneira diferente: enquanto Criolo - de quem já falei neste espaço antes - se apropria de uma linguagem que é de sua origem, e a soma com outros modos de cantar (como o rap), Rômulo Fróes canta sambas como quem até invadisse essa linguagem. Colocando-se como um estudioso - "Não sou sambista, mas lido com o samba porque afinal sou um compositor de música brasileira e tenho esse direito", disse ele ao Alto-Falante -, o cantor não pode deixar de lado o ritmo dos tambores. Mesmo que deixe o samba mais concreto e mais torto, Fróes o faz de maneira exemplar ao longo das 14 canções que compõe seu mais recente trabalho, Um Labirinto em Cada Pé.

29 de jul. de 2011

Erasmo, Vanguart, CSS

Após um longo inverno - que incluiu o lançamento de um CD/DVD ao vivo pela Universal - finalmente aparecem as primeiras pistas do que será o esperado segundo disco da Vanguart. A banda de Hélio Flanders, que em 2007 trouxe à tona o aclamado auto-intitulado álbum, lançado pela revista OutraCoisa (de Lobão), divulgou nos últimos dias "Depressa". A princípio, ao contrário do que foi anunciado por Flanders por aí em muitas entrevistas, a canção segue bem a linha do trabalho de 2007, com um pouco mais de energia e punch. Esperar pra ver.

Enquanto o Rei entrou num estado de completa letargia musical, seu amigo de fé irmão camarada Erasmo Carlos vem, nos últimos anos, fazendo um trabalho muito bacana - seu último álbum, "Rock'n Roll", de 2009, é um baita disco. Com charme - e o vigor sexual que lhe deu o título de Tremendão - aparece agora "Kamasutra", parceria dele com Arnaldo Antunes que é o primeiro single de seu próximo disco, "Sexo". Entre guitarras e cítaras, Erasmo se diverte dissertando sobre posições, com toda a classe que lhe é possuída.

Já o CSS soltou também essa semana a música de trabalho de seu vindouro álbum. "La Liberación", que é a faixa-título, traz à tona de volta o non-sense que gerou o hype todo em cima do grupo paulistano, ainda no começo da década passada. Em um espanhol digno de Miami - e não de Ciudad del Este - Lovefoxxx berra um hino ao "se joga", feito na medida pra baladas rock. Depois de umas duas ou três escutadas, a música fica na cabeça - e isso é uma melhora em relação a "Donkey" - mas ainda é pouco pra quem fez pedradas como "Off the Hook", "Music is My Hot Hot Sex" e "Superafim".

25 de jul. de 2011

Dois é Pouco


Não é surpresa para ninguém, mas ninguém mesmo - a menos que esse alguém tenha passado os últimos vinte anos em Marte – que a Pixar é um dos grupos mais interessantes do cinema feito hoje em dia. Desde o começo da parceria com a Disney em Toy Story, já se vão mais de quinze anos dedicados à produção de animações que atingem em cheio não só crianças, mas sim o público de todas as idades. Em 2011, a empresa entrega a seus espectadores mais um produto de sua fornada: Carros 2. A sequência da película de 2006 protagonizada pelo bólido Relâmpago McQueen pode não ser o melhor filme do gênero da temporada, mas passa longe de decepcionar.

20 de jul. de 2011

"Maturidade é Só Uma Fase"

Pare um momento e pense, caro leitor: o que você fazia seis anos atrás? Como eram seus pensamentos, com que pessoas você andava, como você se expressava para o mundo? Que tipo de músicas você ouvia? Pensou? Então tá ok. Provavelmente algumas coisas continuam iguais, mas muito em você mudou - especialmente se você era um adolescente em 2006 e hoje já é tido como um adulto. Tendo em vista essa "perspectiva histórica", dá para se entender melhor a cabeça de Alex Turner e seus companheiros do Arctic Monkeys, que acabam de lançar seu quarto petardo, Suck It And See.

14 de jul. de 2011

Bidê ou Balde, Cícero

Bidê ou Balde - Adeus, Segunda-Feira Triste

Senhores, a Bidê ou Balde está de volta. Em Adeus, Segunda-Feira Triste - título inspirado na obra de Kurt Vonnegut -, a banda gaúcha traz à tona com força total a ternura e a cafajestagem que permearam os dois primeiros discos da banda. É o que dá pra sentir na sacana "Madonna", que lista em seu refrão os célebres amantes da cantora americana, ou na fofa "(Não Existe Lugar) Mais Longe Que o Japão". "Me Deixa Desafinar", por sua vez, é mais uma das canções irresistíveis e metalinguísticas que a Bidê faz. Ao final, ainda sobra espaço para a mensagem de "Tudo é Preza": nela, apaixonadamente, Carlinhos Carneiro canta que quer "que as canções modernas sejam sempre cheias das palavras certas". Em tempo: além de tudo isso, a banda ainda tem feitos shows históricos por onde tem passado, levando quem os assiste de volta para 2002, 2003. Imperdível.

Cícero - Canções de Apartamento

Primeiro disco solo de Cícero, vocalista da finada banda carioca Alice, Canções de Apartamento passeia por um universo lírico e delicado, que ficou perdido em algum lugar da vida contemporânea. É um convite a adentrar o mundo solitário de um apartamento de 25m², com direito a certas imperfeições que só um som ambiente pode dar, como ele explica no release que acompanha o álbum. Musicalmente, Cícero trafega entre o folk, o rock e a MPB, lembrando ao msmo tempo Caetano Veloso - citado na idílica "Vagalumes Cegos" ("vamos ver um filme/ter dois filhos/Ir ao parque/discutir Caetano/planejar bobagens") - Wilco, Beirut e o Los Hermanos dos últimos discos. As letras do disco acompanham a tônica das melodias, versando sobre relacionamentos ("Açúcar ou Adoçante?"), solidão ("João e o Pé de Feijão") e planos para o futuro. Vale a pena ainda prestar atenção nas referências a Tom Jobim ("Pelo Interfone") e Braguinha ("Laiá laiá").

9 de jul. de 2011

O Clube dos Corações Surdos

Entre os diversos jeitos de se classificar uma banda, um dos mais peculiares é o da vergonha. É o que diferencia grupos que tem e que não tem vergonha de fazer canções com apelo pop - como se, em algum momento perdido da história da música pop, alguém tivesse decretado que fazer bonitos e fáceis refrões fosse um pecado capital. A Harmada, nova empreitada de Manoel Magalhães, um dos melhores letristas da geração anos 00, pertence claramente ao time das desavergonhadas. Música Vulgar para Corações Surdos, trabalho de estreia da banda - que além de Manoel nos vocais e guitarras, conta com Brynner Mota na guitarra solo, Juliana Goulart na bateria e Filipi Cavalcanti no baixo - está repleto de belas músicas sobre amor, situadas em algum lugar entre a distorção do rock dos anos 90 e o charme de bandas como Travis e Coldplay.

3 de jul. de 2011

Não Fosse o Bom Humor

Escrevi esse texto para o Muzplay, do parceiro Adriano Moralis, e o publico aqui agora por uma triste notícia: sim, a Superguidis acabou. Pra quem é fã da banda, resta um alento: eles divulgaram hoje um canto do cisne, o EP EPílogo, com versões demo e ao vivo de músicas que poderiam compor o quarto disco dos gaúchos. A quem interessar possa, aqui:

Depois de cerca de seis meses longe dos palcos paulistanos, a Superguidis voltou à cidade em uma única apresentação no Itaú Cultural, no último sábado, dia 18. Ao divulgar seu mais recente álbum, Superguidis, de 2010 – ou, como é mais conhecido pelos fãs, "Triângulos" -, os gaúchos deixaram claro para os ali presentes que são capazes de fazer um dos shows mais intensos do cenário independente nacional. Se, em estúdio a banda aponta para um caminho mais maduro, mas sem perder a inocência e o frescor de outrora, ao vivo essa sensação é ampliada.

14 de jun. de 2011

Lady Gaga, Fleet Foxes

Antes de tudo: poucos textos por aqui, eu sei - é final de semestre e tudo fica mais difícil, e ainda tem as colaborações com o Scream & Yell. Se você não sabe do que eu estou falando, veja aqui meu texto sobre o Cultura Inglesa Festival, que teve shows de Cachorro Grande, Miles Kane e Gang of Four. É isso. Procuraremos voltar com a carga normal de textos em breve.


Lady Gaga - Born This Way

Em um disco marcado pelo hedonismo e pela ausência de novidades musicais, Lady Gaga prova que, em sua persona artística, o que cada vez menos importa é a música. Em sua maioria, as canções exibem aquilo que todo mundo já previa que pudesse acontecer: letras fáceis e fúteis, sem o mesmo apelo do disco anterior, mas apelativas até à medula. A sonoridade muito eletrônica e artificial que permeia Born This Way - o álbum - chega até a irritar. Como consolo, resta a faixa título, um bom single, que guarda em sua essência as características de uma boa canção pra pista - mas que, ao contrário do que pensou Elton John, não chega nem aos pés de virar um hino como "I Will Survive" ou outros petardos do gênero. Cabe só esperar o que é que Gaga aprontará em seus clipes e shows - e reduzir o volume a zero.

Fleet Foxes - Helplessness Blues

Helplessness Blues, segundo trabalho dos americanos do Fleet Foxes, vai um pouco além do auto-intitulado primeiro trabalho do grupo. Se em Fleet Foxes o modelo era quase que estritamente "folk medieval", aqui eles se aproximam da música urbana de Simon & Garfunkel - especialmente no que diz respeito a arranjos vocais - , da aura de Elliott Smith e do tom mais místico de Nick Drake, mas sem deixar o passado de lado. Vale a pena prestar atenção na faixa-título, em "Sim Sala Bim", e na grande viagem de "The Shrine/An Argument".

5 de jun. de 2011

Cara ou Coroa?

No último mês que passou, a Apanhador Só, banda de Porto Alegre que lançou um dos álbuns mais interessantes do ano passado, fez uma série de apresentações na cidade de São Paulo. Divulgando seu mais recente trabalho, o disco Acústico-Sucateiro, de 2011, o conjunto gaúcho se alternou entre exibições desplugadas - com direito a utilização percussiva de instrumentos como roda de bicicleta, molho de chaves e ralador de queijo - e shows elétricos, com sua formação "convencional" - ou seja, baixo, bateria e guitarras, pilotados respectivamente por Fernão Agra, Martin Esteves, Felipe Zancanaro e Alexandre Kumpinski (que também canta). Tal dinâmica permite ao grupo mostrar duas facetas de seu trabalho, como se, ao definir qual é o formato deles, seus shows se transformassem em uma partida de cara-ou-coroa.

24 de mai. de 2011

Na Linha de Frente

Em 1997, com o clipe de "Diário de Um Detento", e o disco Sobrevivendo no Inferno, que além da já citada, contava com petardos como "Capítulo 4, Versículo 3" e "Fórmula Mágica da Paz", os Racionais MCs mostraram ao Brasil que era possível fazer rap na língua pátria. Marcados por um estilo que conquistava não só o público já habituado ao rap, mas também "os branquinho de shopping", contando histórias sobre drogas, prisões, roubos e preconceito, acabaram também, talvez inconscientemente, deixando a impressão na cultura do brasileiro médio que o estilo das rimas versáteis e batidas secas equivalia a narrar apenas histórias de violência. Poucos não foram os rappers que lutaram contra essa ideal - e neles se insere Criolo, que em 2011 solta um álbum capaz de quebrar mais algumas barreiras para o gênero que nasceu nos EUA. Nó na Orelha, produzido por Daniel Ganjaman, pode ser a pedra de toque para que muita gente passe a abrir seus ouvidos para o rap, sem lenço nem preconceito.

15 de mai. de 2011

Rock'n Roll dos Céus - Teenage Fanclub em SP

Ao longo de sua carreira de mais de vinte anos, o Teenage Fanclub nunca chegou a atingir o topo das paradas e ser um sucesso de público, mas definitivamente conquistou o coração de poucos mas ardorosos fãs. Quando os hoje tiozinhos Norman Blake, Gerard Love e Raymond McGinley entraram no palco da The Week, na última quarta-feira, pelo Whisky Festival, talvez fosse possível dizer que já o faziam com o jogo ganho. O que, no entanto, não significa que não tenham feito um show sem energia ou economizaram esforços - quem ali esteve com certeza presenciou um momento histórico.

8 de mai. de 2011

A Era da Incerteza

Após passar por diversos vais-e-vens no que diz respeito ao futuro da banda (ora termina, ora continua), e com diversas mudanças em sua formação - atualmente Beto Cupertino, voz e guitarra; Thiago Ricco, no baixo; Fred Valle com as baquetas e Pedro Saddi nos teclados -, o Violins lança novo disco em 2011. Direito de Ser Nada, - clique para download - que sucede Greve das Navalhas, lançado no ano passado, prossegue narrando as angústias que pairam o cotidiano do homem contemporâneo, marcado por dubiedades e incertezas. As boas e filosóficas letras de Beto Cupertino auxiliam esse panorama, uma vez que possibilitam diferentes interpretações para cada ouvinte.

3 de mai. de 2011

Brincando de Fazer Música

Uma das melhores estreias do ano passado foi a da banda gaúcha Apanhador Só, em seu disco homônimo. Trafegando com elegância entre o indie rock dos anos 90 e a música brasileira, o grupo fez um belo trabalho brincando com doses de poesia à moda de Manuel Bandeira e Mário Quintana. Em 2011, eles retornam com Acústico Sucateiro, conjunto de canções boladas para ser distribuída pela internet ou em uma fita K7 - o sabor de nostalgia, obviamente, é por conta da casa. Ao regravar suas boas canções do primeiro disco, a banda não faz feio - e vai além com algumas ideias que propôs anteriormente.

28 de abr. de 2011

Um Farol de Sinceridade

Dave Grohl é um bom sujeito. É difícil negar isso ao ver sua entrega quando canta ou exibe seus belos riffs de guitarra de maneira muito sincera. E essa possivelmente é a maior força de Wasting Light, o mais novo trabalho de sua principal banda, o Foo Fighters, e que pode ser ouvido no link a seguir. Wasting Light, é, sim, como tem sido dito por aí, um retorno à sonoridades mais básicas da banda, e talvez também seu disco mais pesado musicalmente falando. Entretanto, o elemento mais importante do álbum é a paixão: em uma época onde poucas canções soam honestas, as onze que compõe esse novo conjunto funcionam como um alento, um farol em meio a um oceano de superficialidade.

24 de abr. de 2011

Art Brut, Marcelo Camelo

Art Brut - Brilliant! Tragic!

Às vezes, certas bandas precisam de maturidade. Outras sofrem problemas quando evoluem musicalmente um pouco que seja. A banda de Eddie Argos e cia. é um exemplo típico do segundo caso. A estréia, Bang Bang Rock'n Roll, contava com deliciosas e urgentes faixas como "Moving to LA", "Formed a Band" e "My Little Brother" - petardos que dificilmente passavam dos três minutos. Aqui, entretanto, fica de lado a porradaria sonora pra faixas mais trabalhadas musicalmente - o que, para o Art Brut, significa tédio. A ironia de Argos ainda continua afiada, com boas frases aqui e ali, mas ao final de suas dez longas faixas, a sensação que fica é de tempo perdido.

Marcelo Camelo - Toque Dela

Talvez um problema que muitos artistas sofram ultimamente é com a fusão de gêneros - e a consequente rotulação por que passam. Poucos casos são mais emblemáticos que o de Marcelo Camelo. Ele - e sua antiga banda - transita por aquele espaço entre o rock e a música brasileira "tradicional", sem definir de fato em qual oceano navega. Entretanto, é possível perceber que desde Los Hermanos, o disco de 99, até o recente Toque Dela, seu trabalho vem sendo "acustificado" e "MPBizado". Isso se percebe tanto nos arranjos das músicas - poucos deles tem a pegada roqueira de outrota, e muitos nem utilizam guitarras - quanto em algumas referências - "Pretinha" é clara menção aos Novos Baianos, "Despedida" remete à clássica "Marinheiro Só", de Caetano Veloso. É um bonito disco - mas pra quem não quer simplesmente uma memória dos tempos dos hermanos. O destaque fica para "Três Dias", parceria entre Camelo e o quadrinista André Dahmer, e sua bonita atmosfera: "Se tiver insônia, sonha/se faltar a paz/Minas Gerais".

19 de abr. de 2011

De volta a 1986, a bordo do DeLorean

Antes de tudo, é preciso avisar que esse texto não pretende ser um retrato completo da Virada Cultural: seria humanamente impossível fazer isso de maneira coerente. Vou apenas me focar nos quatro shows que vi, durante a tarde de domingo, no palco da Praça Júlio Prestes: Plebe Rude, Frejat, Blitz e RPM. Qualquer leitor atento poderia perceber que se tratam de artistas que não estão no auge de sua carreira - e todos eles surgidos durante a pax roqueira dos anos 80 no Brasil. Feito Marty McFly em seu DeLorean, os shows do dia 17 valem a pena como uma viagem de volta a 1986.

14 de abr. de 2011

Dois Pesos, Duas Medidas

Mais um texto da série "do fundo do baú": pra quem ainda não percebeu, tratam-se de textos que escrevi antigamente e ficaram espalhados por outros projetos e sites - como o Pop To The People e o Cinéfilos. A menção ao Teenage Fanclub hoje se faz interessante pelos boatos de que os escoceses virão ao Brasil para dois shows em maio. O texto a seguir foi publicado no Pop To The People, em maio de 2010. Boa leitura!

Uma das minhas expressões preferidas a respeito de injustiças do mundo não diz respeito à fome na África, nem às guerras do Oriente Médio, muito menos à má distribuição de renda ao redor do globo, mas sim a uma banda escocesa: "Se o mundo fosse justo, Teenage Fanclub tocaria no rádio de cinco em cinco minutos”. Você, leitor, entenderia o que eu digo se escutasse Grand Prix, disco que faz 15 anos em 2010 e é um perfeito exemplar do equilíbrio que a banda consegue estabelecer entre limpeza e distorção (clique para ver o clipe de “Sparky’s Dream”) em sua sonoridade. Tal aniversário é um dos motivos da existência desse texto. O outro, antes que você me pergunte, é o lançamento de Shadows, álbum mais recente do conjunto - e que, infelizmente, não faz jus nem à frase nem à idéia de equilíbrio acima citados.

10 de abr. de 2011

A Vida Até Parece Uma Festa

Não é novidade pra ninguém que, nos últimos anos, o Brasil tem sido invadido por um punhado de shows, pra todos os gostos e ouvintes. Isso significa que desde “a maior banda de todos os tempos da última semana” quanto dinossauros do rock têm se apresentado constantemente por aqui - em alguns casos, já virou até piada: "Mas quer dizer que o Iron/o Deep Purple/o Echo & The Bunnymen vai vir DE NOVO?". Apesar das gozações, ir a uma apresentação desses artistas veteranos é observar um ambiente lotado, cheio de fãs fanáticos cantando todas as músicas, de maneira empolgada e empolgante. Algumas bandas brasileiras também têm obedecido a esse fenômeno curioso: embora um tanto quanto indulgentes em seus últimos trabalhos de estúdio, no palco elas crescem e são capazes de fazer os espectadores voltar ao passado. Foi o que aconteceu na última apresentação dos Titãs no ABC Paulista, no palco do SESC Santo André, no último sábado (dia 9).

7 de abr. de 2011

The Vaccines, James Blake

The Vaccines - What Did You Expect from the Vaccines?

O título, irônico e talvez autodepreciativo, deixa entrever o hype (sabe se lá de onde surgido) que envolveu o lançamento deste What Did You Expect From the Vaccines?. Em um disco rápido, a banda inglesa, se não faz bonito, também não chega a decepcionar. Mostram-se influências de Strokes e Libertines aqui ("A Lack of Understanding", "Wreckin' Bar (Ra Ra Ra)", "Post Break Up Sex"), embaladas em uma atmosfera lo-fi, sujinha, querendo brincar com a clássica referência do Jesus & Mary Chain. O melhor momento do álbum fica por conta da chupação de "I Should Have Known Better" (ou de sua versão brasileira "Menina Linda") no refrão de "Blow It Up". Rock rápido e esquecível, à moda dos anos 00 e de 90% dos hypes feitos por aí.


James Blake - James Blake

Ao escutar pelas primeiras vezes o disco de estreia do inglês James Blake, a sensação que fica é de que os "blips" e "blops" que o cantor utiliza em suas músicas servem apenas para tornar a audição irritante. Entretanto, passada uma primeira fase de acostumar-se com os elementos eletrônicos, nuances cada vez mais interessantes do trabalho de Blake se mostram. É de se destacar a sua bela voz (que se assemelha, por exemplo, à do cantor andrógino Antony), a boa aplicação do Auto Tune em algumas faixas e o clima romântico-soturno-sentimental-confessional que ele entrega a petardos como "Unluck", "Limit to Your Love" (cover da cantora canadense Feist) e a belíssima "Wilhelm's Scream". Discão, especialmente pra quem não gosta de eletrônica, como este que vos escreve, começar a gostar.

2 de abr. de 2011

Geração X ou Geração Y?

Um dos mais famosos "conceitos" a respeito do rock'n roll é que, a cada década, sons de 20 anos antes são revisitados a todo o momento: talvez isso tenha começado nos anos 80 brincando com o arsenal lisérgico dos anos 60 (quem aí se lembra do Echo & The Bunnymen fazendo covers de Doors - "People Are Strange"- e Beatles - "All You Need is Love"?). Essa ideia de revisita ficou evidente no grandioso revival que os anos 80 sofreram na década passada, no qual a maioria das bandas que se prezavam - e mais algumas que nem tanto - chupinhavam sem dó riffs e frases musicais de New Order, Gang of Four, Joy Division, Smiths e companhia limitada. Todo esse blábláblá é só pra dizer que a ideia da "viagem no tempo de 20 anos" continua presente nos anos 2010. O álbum de estreia dos londrinos do Yuck, autointitulado, é uma perfeita jornada por muitos dos moldes do rock alternativo dos anos 90.

29 de mar. de 2011

Homens do Presente

"This is my time and I am thrilled to be alive". Ao se ouvir uma frase dessas, é difícil contrariar a ideia de que o R.E.M. vive uma grande fase e se sente bem por isso. Em "Collapse Into Now", décimo quinto petardo da banda da Geórgia, Michael Stipe e seus companheiros fazem um disco mais reflexivo (o que não significa menos enérgico) e bem menos político que o anterior, "Accelerate", mas com igual charme e relevância para os dias de hoje. Sim, antes que você comece a se perguntar, esses tiozinhos ainda tem (muito) o que dizer.

21 de mar. de 2011

Um Nerd Para A Todos Governar


Os primeiros segundos do filme, com o símbolo da Universal sendo exibido em 8-bits, não deixam mentir: Scott Pilgrim Contra o Mundo é um filme basicamente nerd. As espertas referências sobre a cultura pop, o nível de comédia baseado um bocado no nonsense e no humor herdado de histórias em quadrinhos - o que é um tanto quanto natural, já que a película é baseada numa HQ de Brian Lee O'Malley - e o visual de videogame das cenas de ação só reforçam a idéia. Mas não estamos falando aqui de um filme de nicho. Se alguém que passou sua adolescência inteira longe de ficar trancado no seu quarto com revistinhas e cartões de RPG, ainda assim será capaz de sair da sala de cinema gostando do longa-metragem.

14 de mar. de 2011

The Strokes, The Pains of Being Pure at Heart

The Strokes - Angles


É difícil dizer o que causa mais frustração a respeito do disco novo dos Strokes, Angles: a demora no lançamento (lá se vão cinco anos desde First Impressions of Earth), a qualidade dos trabalhos solos executados desde então (só pra citar dois: o Nickel Eye de Nikolai Frature merece respeito, e o Little Joy de Fabrizio Moretti fez a alegria da galera), ou a influência new wave oitentista que abrange todo o álbum. "Under Cover of Darkness", o primeiro single, até que valia a pena. Não é o que acontece com os synths mal colocados de "You're So Right" ou a batida tétrica de "Games". Dez anos após o influente Is This It?, os novaiorquinos cometem um disco que é o Kid Abelha dos indies: música ruim e ignorável que no máximo pode embalar jantares sem incomodar.

The Pains of Being Pure at Heart - Belong

A banda com um dos nomes mais bacanas dos últimos tempos continua em seu segundo disco o cruzamento entre a sonoridade noise do Stone Roses e a melancolia feliz - se é que isso é possível - do The Cure, e ainda com um pezinho no lo fi. Quer provas disso? A bateria que conduz "Anne with a E" emula durante toda a música o clássico punch de "Be My Baby"/"Just Like Honey"; o teclado de "My Terrible Friend" passaria muito fácil em qualquer B-side de The Head in the Door e boa parte do climão de "Girl of 1000 Dreams" parece ser culpa do pessoal do Guided By Voices. Vale a escutada.

10 de mar. de 2011

Uma Carta ao Rei

Caro Roberto Carlos,

Escrevo essas mal traçadas linhas como forma de afeição, pois sou admirador da sua música desde criança. E esta carta existe apenas por um simples e único motivo: Roberto, o senhor precisa se modernizar. Há anos seus arranjos são os mesmos, pastiches da genialidade que já se exibiu um dia. São poucos os que te dão o merecido valor. Quem é rei nunca perde a majestade, mas muitas vezes é possível chegar ao ridículo - como o imperador nu da história de Andersen. E o caminho pode ser muito mais fácil que você imagina: um bom começo é ouvir este As 15 Super Quentes que o seu antigo parceiro Lafayette gravou com uma meninada carioca que é uma brasa, mora?

5 de mar. de 2011

Quando 3 é Menos Que 1: O Amor e Outras Drogas

Sabe quando você compra uma coisa, te entregam outra um bocado diferente da primeira e, mesmo assim, você é capaz de gostar da troca? Talvez seja essa a principal sensação que ocorre à mente quando se vê O Amor e Outras Drogas, estrelado pelo jovem e talentoso casal formado por Anne Hathaway e Jake Gyllenhaal. O filme, que começa com aquele jeitão de comédia corrosiva sobre o mundo corporativo americano (no caso, a indústria farmacêutica), torna-se no meio do caminho uma dramédia romântica das mais típicas. Entretanto, graças à boa atuação da dupla, isso não chega a ser exatamente um grande problema.

2 de mar. de 2011

O Nosso Work é Playá: 15 anos sem Mamonas


Atenção, “Creuzebek”, diga rápido: o que vem à sua cabeça quando se fala em Mamonas Assassinas? Uma resposta plausível seria lembrar-se de uma banda que se vestia de presidiário e de Chapolin nos programas dominicais da televisão, dos muitos trocadilhos e da maneira absurda e irracional como aconteceu sua morte, em março de 1996. Pois agora olhe bem o calendário: sim, exatamente, faz 15 anos que Dinho & Cia. faleceram em um desastre de avião na Serra da Cantareira. Feito um cometa, a ascensão e a queda da banda ainda assombram por sua rapidez e pela maneira como atingiu não só determinados ouvintes, mas a todo o país, em todas as faixas etárias.

26 de fev. de 2011

Les Pops, Cowboy Junkies

Les Pops - Quero Ser Cool

Muitas vezes, uma música se torna bacana só por ser capaz de juntar referências externas bem espertas - nada mais que um recurso de identificação mais fácil pra captar o ouvinte. Quero Ser Cool, primeiro disco dos cariocas do Les Pops, segue fielmente essa cartilha, especialmente nas boas e irônicas "Aluguel em Abbey Road" e "Quero Ser Cool" (cujo erro na pronúncia de Bukowski amplia o efeito humorístico da narrativa do personagem que busca se tornar um intelectual). A idéia desse "fetiche de citações", entretanto, incomoda um bocado em "E La Nave Va". Ainda há espaço pra uma dupla de boas canções de amor, "Esmalte" e "Salto Agulha". O ponto baixo do álbum, porém, fica na equivocada regravação de "Camisa Listrada" (Noel Rosa).


Cowboy Junkies - Demons

Em seu décimo quarto álbum de estúdio, o Cowboy Junkies não sai fora do combinado. Para a banda dos irmãos Timmins (Margo, no vocal; Michael, na guitarra; e Peter na bateria; além do baixista Alan Anton) isso significa investir em baladas fortes, por vezes ligadas à linhagem do folk rock de Neil Young e Bruce Springsteen, por vezes assemelhadas à veia soturna do Velvet Underground. Aqui, os destaques do disco ficam por conta de "Flirted With You All My Life" e "Supernatural". O bom, por muitas vezes, é simples.

22 de fev. de 2011

Colcha de Retalhos

Certa vez, o poeta Manuel Bandeira se declarou um "poeta menor", por tratar de assuntos que seriam ligados ao detalhamento, ao humilde, às coisas banais do cotidiano. Em oposição, ele estabelecia que poetas maiores seriam Camões, Gonçalves Dias, Drummond, que tinham como projeto poético engrandecer a pátria, a nação, fazer versos engajados politicamente. Entretanto, valorizando essa sua característica mais íntima, Bandeira acabou por construir uma obra "universal", de força e atemporalidade muito maior que seus dois colegas de modernismo, Mário e Oswald de Andrade. A menção a Bandeira aqui se faz necessária para se chamar a atenção para uma característica interessante reavivada nos últimos anos no cenário musical brasileiro: a da valorização de visões peculiares e individuais do mundo. É uma tendência que, apesar de não ser nova, ganha força a cada ano que passa - e pode ser muito interessante como marca artística da geração "anos 00".

19 de fev. de 2011

Rockstar Tiozão, Moleque Atrevido

Se um show pudesse se resumir a apenas uma palavra, a que definiria a apresentação dos paranaenses do Nevilton no SESC Vila Mariana no último dia 17 poderia ser intensidade. Quem ali estava presente - e superou as condições espaço-temporais desfavoráveis, como o trânsito caótico da cidade em uma quinta-feira chuvosa - viu um espetáculo em que ao mesmo tempo era possível rir, se emocionar, ficar de boca aberta ou dançar (de pé ou sentado).

14 de fev. de 2011

Vida e Frenesi - 127 Horas

À primeira vista, a idéia da história de 127 Horas parece um tanto quanto monótona e angustiante: aqui conta-se como Aron Ralston (James Franco), um aventureiro que, ao escalar uma montanha em Utah, prende seu braço entre uma pedra e uma fenda e tenta sobreviver nessa condição subumana. Nas mãos do diretor escocês Danny Boyle, entretanto, ela se torna envolvente, instigante e engraçada - ainda que tenha seus momentos de drama e tensão visual um pouco além da medida para aqueles mais sensíveis.

11 de fev. de 2011

Melancolia e Personalidade: Grace, de Jeff Buckley

Antes de tudo, algo importante deve ser dito sobre Jeff Buckley e Grace: você nunca viu ou nunca verá algo tão parecido com ambos. Pode buscar similaridades mil com outros artistas e canções, - algo que até será feito nas próximas linhas - mas nenhum deles uniu tantos atributos em um lugar só. Dono de uma voz potentíssima, com extensão de cinco oitavas, – o normal nos humanos é de apenas duas – usou-a com toda a propriedade, encarnando vários mitos em seu próprio corpo – e utilizando-os para criar sua própria imagem lendária.

10 de fev. de 2011

O Próximo Passo e o Jardim

Uma definição peculiar a respeito de um bom show, embora dificilmente incorreta, diria que "trata-se de um show bom aquele que se sai com dor nas mãos de tanto bater palmas". Alguém que fosse à apresentação de Tulipa Ruiz no último dia 5, no SESC Ipiranga, poderia muito bem se contentar com tal idéia - era simplesmente muito difícil resistir ao charme e à competência da cantora paulistana e não aplaudi-la.