27 de jun. de 2013

Mo Ghile Mear: Neil Young ao vivo em Dublin

Em algum momento da minha infância, lembro-me de um final de tarde que meu pai foi me buscar na escola, e, no lugar de uma rádio qualquer que nós sempre escutávamos juntos, havia um cara de voz esganiçada cantando sobre um homem velho. Meu pai berrava a letra junto com a canção, não se importando com o trânsito de São Caetano do Sul às seis e alguma coisa da tarde. Anos depois, eu fui saber que o tal cara se chamava Neil Young, que o homem velho era o "Old Man" e o disco no rádio era o Harvest,que dali em diante se tornou meu companheiro de muitas paixões perdidas edescobertas durante a adolescência.

Desde a sexta ou sétima série, o maior canadense-americano vivo me acompanha, como um mentor enigmático munido de palavras sábias, apaixonadas e solos de guitarras empolgantes. Ao mesmo tempo em que minha paixão pela obra do The Loner crescia, minha certeza de que não o veria em solo pátrio aumentava -de maneira que, assim como os estudos e a ida à terra do meu avô, assistir a um show dele se tornou um dos principais objetivos dessa viagem, cumprido bem no meio do mochilão de junho, no último dia 15, na RDS Arena, em Dublin. Mais do que o meio da viagem, entretanto, na altura aquela apresentação parecia resumir a vida ao meio - antes e depois de Neil Young.

24 de jun. de 2013

Laranja Mecânica: Rod Stewart ao vivo em Amsterdã


Após passar um bom tempo revisitando standards do repertório americano, do rock e até das canções de Natal em versões cheias de glicose para conquistar quarentões e cinquentões, Rod Stewart chegou a 2013 com seu primeiro disco autoral em doze anos, Time. Além de trazer canções inéditas de Rod the Mod, o novo trabalho ainda levou o cantor a buscar um repertório diferente do que apresentou ao vivo nos últimos anos, em uma turnê europeia que começou recentemente. No último Dia dos Namorados, essa turnê passou pelo Ziggo Dome, em Amsterdã, onde este blog teve a oportunidade de assisti-lo, torcendo para ver "Ooh La La" ou algum outro clássico dos Faces como se estivéssemos em 1973. 

A largada, porém, é feita a partir de 2013 mesmo, e empolga: "Can't Stop Me Now", segunda faixa de "Time", pode bem fazer par com os hits de Rod do final dos anos 70, e renovar o repertório das "Saudade FM" de todo o Brasil. Entretanto, alguma coisa parece fora de lugar: os muitos telões do Ziggo Dome, a quantidade excessiva de músicos de apoio (e musicistas também, trajadas com vestidos curtos para alegrar a porção masculina da plateia) e a voz do cantor, já não tão rasgada como outrora - é a velhice, fácil dizer, mas Stewart compensa a brincadeira com uma empolgação fora do comum para um senhor da sua idade (ok, Mick Jagger não conta, tá?). 

23 de jun. de 2013

Laranja Mecânica: Amsterdã, Moinhos e Utrecht

Por favor, ignore a pretensão deste começo de texto e siga em frente: no futuro, se todos os documentos terrestres se perderem e só sobrar este blog, os intelectuais da época irão acreditar que toda a experiência humana se baseia apenas - e tão somente - em expectativas. Não é uma ideia de todo errada: já perdi a conta de quantas vezes escrevi um texto sobre surpresas ou decepções a partir de baixas ou altas esperanças, respectivamente. É bem comum, meu caro leitor. Mas o que dizer quando você não espera lá muita coisa de um lugar e, mesmo assim, ele consegue te deixar com um muxoxo na cabeça? Essa foi a Holanda pra mim. 

Não que não tenha sido por falta de tentativa - especialmente do querido Gijs, que recebeu a mim e a Lelê em sua casa em Benschop e nos ofereceu um apartamento em Utrecht por dois dias. Mais que isso: Gijs nos buscou e nos levou no aeroporto, nos levou para conhecer um parque cheio de moinhos e mostrou um lado dos Países Baixos que pouca gente (pelo menos no estilo de viagens que este escritor está realizando) vai atrás. (In case you're reading this, Gijs, my sincere thanks to you, man!)

22 de jun. de 2013

British Invasion: Liverpool, Táxis e Penny Lane

Os quatro dias em Londres me reservaram alguns dos momentos mais incríveis da vida até agora (ó, que drama), mas depois de muito pubear era hora de ir em frente com a viagem. Entretanto, antes de ir para Amsterdã, ainda não era hora de deixar a terra da Rainha. O motivo: dar um pulinho na terra dos Beatles (e do Echo and the Bunnymen), pisar em Penny Lane e entender o que de mágico havia na água de Liverpool. Depois de uma gripe e uma viagem de ônibus que durou cinco horas, mas pareceu durar cinco minutos no meu sono, desci na estação de ônibus de Liverpool ao som de... "Miss You", dos Stones. Trollagem das boas do universo, te falar, viu?

21 de jun. de 2013

British Invasion: Elvis Costello no Royal Albert Hall

Caro leitor, caro amigo, pense rápido aqui comigo: quantas vezes você já foi a um show e saiu com cara de bunda porque o artista não tinha tocado a sua música favorita? Indo em frente: quantas vezes você já xingou um jornalista porque ele criticou o artista que não sabe escolher um repertório? Se você for tão melômano quanto eu, provavelmente a contagem deve estar perdida lá pela casa das dezenas, talvez centenas. Mas nossos problemas acabaram: tudo graças a Elvis Costello e o seu maravilhoso Spectacular Spinning Songbook. 

A regra da brincadeira é simples: no palco, junto com o homem por trás de This Year Model, sua banda (os Imposters, formados pelo tecladista Steve Nieve, pelo baterista Pete Thomas e pelo baixista Davey Faragher) e dançarinas, há uma enorme roleta. Cada casa da roleta tem o nome de uma música ou de um tema comum nas canções de Costello, e durante boa parte do show, o inglês convida alguém da plateia para girar a brincadeira. Assim que sai o resultado, o cantor dispara a tocar a música contemplada pelo sorteio, como se fosse uma incrível máquina sonora. Criada em 1986, a proposta voltou a ser usada por Elvis em seus espetáculos em 2011, ganhou CD e DVD e, na noite do último dia 6 de junho, teve lugar mais uma vez em Londres, no Royal Albert Hall.


17 de jun. de 2013

British Invasion: Londres, Um Amor

Existem algumas coisas bastante raras na vida: chegar a um lugar e querer abraçá-lo logo nos primeiros minutos é uma delas. Quando isso acontece com uma cidade que você sempre quis ir, a vida toda, desde que se entende por gente, é mais especial ainda. Isso foi Londres pra mim. Depois de cobrir o Primavera Porto pro Scream & Yell e voltar a Lisboa para fazer a última prova do semestre, desembarquei na capital inglesa a tempo de vê-la usar um vestido de verão irresistível, daqueles de derreter o coração de qualquer pobre mortal. 

There is a light that never goes out
Ao andar pelo centro da cidade, a primeira sensação é que alguém muito fominha estava jogando SimCity e resolveu colocar todos os pontos turísticos em um lugar só. Trocando em miúdos: é engraçado passar a vida toda ouvindo falar do Big Ben, da Abadia de Westminster, da Trafalgar Square, do Rio Tâmisa, do Parlamento, e chegar lá e ver que todos eles são um do ladinho do outro. Entretanto, pela vontade de não me programar com relação a nada e certo tédio em relação aos passeios batidos, confesso que deixei passar uma meia dúzia de coisas típicas da capital inglesa - como uma volta naquela roda gigante enorme, ou a troca da guarda no Palácio de (Peter) Buckingham.

10 de jun. de 2013

Ó, Pá: Refrigerantes Bizarros V

Último capítulo dos refrigerantes bizarros dos mercadinhos de Portugal. Bora lá?

Blue Morango Tropical

Ah, esses angolanos e seus sabores malucos de refrigerante! Depois da mistura entre coco e abacaxi, resolvi provar um segundo sabor da marca Blue. Dessa vez: foi o Morango Tropical, uma mistura de mamão, abacaxi, pêssego e morango (dã). Se as cores da latinha são extremamente chamativas e bacanudas (como se Carmem Miranda tivesse se transportado para um cilindro metálico), o resto deixa bastante a desejar. É horrível insistir nessa comparação, mas a verdade é que o Morango Tropical tem cor, aspecto e sabor de Ki-Suco Tutti Frutti misturado com água com gás. Gelado até que desce bem, mas aquele gostinho de essência artificial de morango no final (o mesmo que impede que sorvete napolitano seja uma maravilha 100% maravilhosa) atrapalha tudo. 

Nota: 1,75 bolhinhas de gás

Schweppes Ginger Ale

Da primeira vez que eu estive na Europa, com quatro anos de idade, eu ainda não era o apaixonado por Coca-Cola que sou hoje, mas sim um bebedor compulsivo (na medida que se pode sê-lo com apenas quatro anos, risos) de Guaraná Antarctica. Os tempos eram outros, e óbvio que não se achava o nosso refrigerante típico em qualquer esquina de Lisboa, de maneira que eu criei para mim um novo vício: a ginger ale, o gingereio, como eu dizia na época. Durante anos ouvi meus pais falando sobre essa bebida, da qual eu não lembrava o gosto, e voltei a tomá-la agora, na garrafa produzida pela Schweppes. Fabricada a partir do gengibre, a bebida foi inicialmente idealizada para ser misturada com bebidas alcóolicas, e ter cor semelhante à do champanhe. Logo no primeiro gole, dá para entender porque ela foi uma boa substituta para o guaraná: além de bastante gás, ela é refrescante como a bebida da fruta amazônica. Entretanto, troque o nosso sabor único (ziriguidum, alô!) por um gosto meio azedinho, mas bastante doce, quase como se fosse uma variável exótica da soda limonada. Bacaninha, viu? 

Nota: 2,75 bolhas de gás

Coca Cola sem cafeína

Lennon & McCartney. Pelé e Coutinho. Jagger e Richards. Café com pastel de nata. Existem algumas duplas que são indissociáveis, e, quando separadas, nunca produzem tão bem quanto juntas. Pior: algumas delas parecem quase uma contradição sozinhas. É o caso da Coca-Cola sem Cafeína, um Buchecha sem Claudinho, um eu assim sem você, um paradoxo em forma líquida. E com um rótulo feio pra dedéu (similar ao da Coca normal, mas com as letras em cor de burro quando foge no lugar daquele branco típico). A sensação ao abrir a latinha, porém, é boa: é igual Coca-Cola. Tem gosto e cheiro de Coca-Cola, então só pode ser Coca-Cola. Deve ser frescura minha, mas ainda assim tem algo diferente. No fundo, tem alguma coisa que parece errada ali. E, se você é daqueles que tomam Coca-Cola também pelo efeito (falando aquele que já tomou um porre de 5,6l em um só dia e não conseguia dormir de tanto rir), é frustrante. Mas deve ser aquela coisa que o Fernando Pessoa disse, certa vez, ao fazer um slogan para a marca americana entrar no mercado português: "Primeiro, estranha-se. Depois, entranha-se". 

Nota:2,5 bolhas de gás

Ranking Pergunte ao Pop de Refrigerantes Bizarros:
1º - ShurFine Creme Soda (4)
2º - Dr Pepper (3)
3º - 7UP (2,75)
3º - Orangina (2,75)
3º - Schweppes Ginger Ale (2,75)
6º - Cherry Coke (2,5)
6º - Coca Cola sem cafeína (2,5)
8º - Brisa Maracujá (2)
8º - Vimto (2)
8º - 7UP Cherry (2)
11º - Sumol Ananás (1,75)
11º - Blue Morango Tropical (1,75)
13º - Blue Pineapple-Coconut (1,25)
14º - Now Green Herbs (0,5)
15º - Trina Maçã (0)

5 de jun. de 2013

Um Breve Interregno ou Olá, Europa!

E sim, o semestre europeu do Pergunte ao Pop está quase chegando ao fim. Enquanto o dono deste espaço não morre de saudades da pizza de calabresa de São Paulo e do carinho da mamãe (risos), muita coisa ainda vai acontecer nesse próximo mês. E será um mês bastante cheio - mas na qual o PaoP poderá ficar sujeito a pouca atividade: durante os próximos vinte dias, faço um mochilão pela Europa Ocidental (depois de me aventurar nos países da crise (Espanha, Portugal e Grécia)), acompanhado em parte do Mac e da Lelê, vendo museus e shows e tirando fotos de crianças e velhinhos. 

Espero conseguir vir falar com vocês aqui pelo menos uma vez por semana - e , para quem ficou curioso, o roteiro segue abaixo. Simbora!

6 - Lisboa/Londres (Elvis Costello no Royal Albert Hall
11 - Liverpool/Amsterdã 
12 - Amsterdã (Rod Stewart, Ziggo Dome)
19 - Paris
20 - Paris
21 - Paris/Berlim 
22 - Berlim (Queens of the Stone Age, Zitadelle Spandau)
23 - Berlim
24 - Berlim/Roma
25 - Roma
26 - Roma
27 - Roma/Lisboa
28 - Lisboa
29 - Lisboa/São Paulo

2 de jun. de 2013

Ó, Pá: Primavera Porto, Dia 3



Como de praxe, escudado por uma parede de amplificadores Marshall, J Mascis deliciava os presentes com grandes riffs e solos, enquanto Lou Barlow cuidava do peso e dos momentos mais dinâmicos da apresentação, que teve um bate cabeça old school (daqueles de pedir desculpa depois de uma cotovelada sem querer) e a participação especial de Pink Eyes, vocalista do Fucked Up. Isso para não falar nas lágrimas, velhas companheiras, a cair quando o Dinosaur Jr mostrou em palco uma das maiores releituras da história do rock: “Just Like Heaven”. Amor define, só amor.

Ponto alto do terceiro dia de Optimus Primavera Sound, o show do Dinosaur Jr conquistou um lugarzinho especial no meu coração - mas não é a única coisa digna de lembrança do encerramento do festival portuense. A boa surpresa dos catalães do Manel, os clichês reciclados e eficazes das Savages e o ruído do My Bloody Valentine foram as marcas do fim de um evento que conteve fortes emoções - e que você pode ler agora, no Scream & Yell

Ó, Pá: Primavera Porto, Dia 2

O sol apareceu tímido no segundo dia de shows do Optimus Primavera Sound, mas isso não foi empecilho para que quase 30 mil pessoas apreciassem a beleza do Parque da Cidade na última sexta-feira (31). Chegando ao recinto mais cedo que no dia anterior, a reportagem do Scream & Yell pode confirmar o entusiasmo de José Barreiro, diretor do evento, acerca do local – embora não tenha sido dessa vez que encontramos os patos e coelhos. Uma pena. 

Porém, ao começar seus shows apenas no final da tarde, e estendê-los até a madrugada, o Primavera Porto perde um bocado de seu charme por não explorar em máxima potência o lugar onde se estabeleceu, incluindo uma bacanuda vista para o mar e sítios incríveis para ver o pôr-do-sol. O clima que se via, pelo menos nas primeiras horas da sexta-feira, era o de um típico festival de verão, mas com coroas de flores substituindo tiaras piscantes e casacos no lugar dos biquínis, para tristeza (não só) dos muitos ingleses que saíram da terra da Rainha rumo a Portugal para ver o Blur. A viagem certamente deve ter valido a pena, mas vamos com calma. 

"Here's your lucky day", aviso ao leitor: não é todo dia que se vê o Blur tocando um caminhão de hits. Mais: não é todo dia que se vê Daniel Johnston e suas canções pungentes, perde-se a audição com o Swans e vê o Grizzly Bear fazer um belo show. Mas foi isso o que aconteceu na sexta-feira (31), durante o segundo dia de Optimus Primavera Sound - aka Primavera Porto. O relato da jornada, mais uma vez, no Scream & Yell. 

Leia mais do Pergunte ao Pop em turnê europeia:

1 de jun. de 2013

Ó, Pá: Primavera Porto, Dia 1

Na primeira noite de sua segunda edição, o Primavera Sound do Porto ofereceu a seus espectadores uma boa amostra de sua proposta de ser um festival pequeno, mas com alto nível de apresentações. Só os dois palcos principais foram utilizados na noite dessa quinta-feira (30), com oito shows rolando a partir das 17 horas, mas não se pode dizer que não tenha sido um grande dia no Parque da Cidade, em Matosinhos – uma espécie de Santo André portuguesa.

As primeiras horas do Primavera Porto reservavam shows de Guadalupe Prata, Wild Nothing e Merchandise, mas o cansaço da viagem entre Lisboa e Porto (aproximadamente quatro horas de ônibus) fez com que a reportagem do Scream & Yell chegasse ao local já perto do pôr do sol, na hora quase exata de ver as Breeders. Na dupla fila para a entrada (uma para trocar o bilhete pela pulseira, e outra para entrar no recinto), o que se ouvia era uma confusão de línguas. Com alta presença de estrangeiros, dá até para dizer que o inglês é a língua oficial do festival, sobrepujando o português. Enfim…

Tô lá no Scream & Yell em missão especial: cobrir o Primavera Sound do Porto em sua segunda edição. O que se lê acima é o começo do texto sobre o primeiro dia, que, além das fofas e já citadas Breeders, ainda contou com uma apresentação irreparável de Nick Cave e os Bad Seeds e exibiu um James Blake em transição. Sigam-me os bons - e amanhã tem mais, com a felicidade de ver um show do Blur.