30 de abr. de 2013

No S&Y: Marisa Monte em Lisboa

Uma das experiências de vida mais típicas do mundo ocidental diz respeito àquela velha ideia de que, ao escolher um caminho em uma bifurcação na estrada, uma pessoa nunca mais será a mesma – algo que o filósofo grego Heráclito definiu como “nunca poder entrar duas vezes no mesmo rio” e o filósofo canadense Neil Young resumiu no verso “once you’re gone, you can’t come back”. Assistir à apresentação de um artista com muitos anos de carreira é, em boa parte das vezes, perceber as marcas que o tempo deixou em sua obra. Realizada no dia 28 de abril, a segunda de duas apresentações com ingressos esgotados de Marisa Monte no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, não conseguiu escapar dessa noção.

O "bom" filho à casa torna, e depois de uns dois meses em branco, regresso ao Scream & Yell para falar sobre o show que vi da Marisa Monte aqui na capital portuguesa no último domingo. Entre hits e lados-B, Marisa mostra que alguma coisa se perdeu no meio do caminho. Descubra lendo o resto do texto lá no Scream, com direito a dois vídeos do show ("Já Sei Namorar" e "Amor I Love You")

27 de abr. de 2013

Ó, Pá: Algarve (Faro e Portimão)

"Enquanto ali estávamos
Fazendo um perfeito e absoluto nada
(...)
Nós, os da costa
Éramos habitantes
Não de um continente
Mas sim de um oceano"
(Wado e Mia Couto, "Estrada")

Como bom brasileiro que eu sou, sempre desconfiei de gente que tem sangue tupiniquim correndo nas veias e passa hora falando sobre praias e mais praias no exterior. Não importa em que lugar do país você esteja (até mesmo em Minas Gerais, que além de bar também tem o mar do Espírito Santo), você sempre vai estar perto de pelo menos uma meia dúzia de lugares de costa lindíssimos, de maneira que eu nunca vi muito sentido em gastar uma boa quantidade de dinheiros pra vestir uma sunga e sair da água falando "please mister, give me a coke" pra tirar o sal da boca. 

Em compensação, há algo em mim que sempre me pede para ir ouvir o barulho das ondas. Já cheguei a cancelar rolês, shows e churrascos só pra passar ume meia dúzia de horas dentro do carro, pegar um jacaré e voltar com o corpo todo salgado pra casa (ainda estou na função de sair de uma balada e ir para a praia, entretanto). Morando em Lisboa, um pouco dessa sensação estava sendo compensada pelo Tejo, mas o Tejo não é o mar que se encosta na minha aldeia, e uma hora eu fatalmente ia precisar ir rumo ao litoral (aquela molhadinha de pés no Mediterrâneo em Barcelona não conta). E foi esse o meu destino nesse feriado português de 25 de Abril (quando, em 1974, aconteceu a Revolução dos Cravos): o Algarve, no sul do país, conhecido pelos turistas europeus como um dos hot spots para o verão. 

25 de abr. de 2013

Brilha, Brilha, Estrelinha

Era uma vez uma banda de rock cujo nome tinha como inspiração um supermercado de sua cidade, Memphis, nos Estados Unidos, e que era contratada de uma gravadora responsável por grandes hinos da soul music. Apesar de ter gravado algumas das mais belas músicas dos anos 1970 em seu primeiro disco, atraindo aplausos de boa parte da crítica na época, a tal banda nunca chegou ao estrelato - culpa de "problemas de distribuição" e, posteriormente, pela falência do selo a qual pertencia. Entretanto, mesmo escondidas pela poeira do tempo, tais canções fizeram a cabeça de muitos jovens músicos durante as duas décadas seguintes, o que as fez ganhar sobrevida e incluir a tal banda no "Grande Livro da História do Rock".

Essa é a história que conta Nothing Can Hurt Me, documentário que joga luz sobre a vida e a obra do Big Star. Dirigido por Drew DeNicola e Olivia Mori, o filme foi lançado em 2012 nos EUA, mas tem corrido o mundo em diversos festivais e serve como boa introdução aos não-iniciados no conjunto que fez Paul Westerberg, dos Replacements, cometer um verso como "Eu nunca viajo pra longe sem minha pequena grande estrela".

22 de abr. de 2013

Horário Eleitoral Obrigatório

Escrevi esse texto para o Artilharia Cultural no começo do ano, mas resolvi republicá-lo por aqui agora, uma vez que acontece nesse próximo final de semana a estreia de No (ou como está sendo chamado aqui, Não) em Lisboa. 

Em franca ascensão nos últimos 15 anos, o cinema sul-americano tem dedicado boa parte de sua melhor produção a analisar os fantasmas de seu passado recente, marcado por governos ditatoriais liderados por militares e elites locais, iniciados em repressão a movimentos de caráter socialista e/ou populista e sempre lembrados por sua censura à liberdade de expressão e aos direitos individuais. É o caso, por exemplo, de filmes como o chileno Machuca (Andrés Wood, 2004), os sensíveis argentinos O Segredo de Seus Olhos (Juan Pablo Campanella, 2011) e Kamkatcha (Marcelo Piñeyro, 2002) e os brasileiros O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias (Cao Hamburguer, 2006) e Ação Entre Amigos (Beto Brant, 1998). Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e vencedor do prêmio principal da semana dos realizadores no Festival de Cannes, o chileno No, dirigido por Pablo Larraín, se insere nessa seara de maneira instigante ao encerrar uma trilogia sobre o Chile das últimas décadas, retratando um episódio bastante particular da história do país andino: o plebiscito de 1988 que retirou Pinochet do poder, após 15 anos de um regime autoritário. 

19 de abr. de 2013

Ó, Pá: Refrigerantes Bizarros

Começo hoje uma nova seção do Pergunte ao Pop. Se, no ano passado, a pauta gorda da vez era falar dos hambúrgueres de São Paulo (sim, ela deve voltar no segundo semestre), agora é hora de largar o preconceito e treinar o paladar com os refrigerantes bizarros que eu encontrar pelo caminho aqui na Europa. Assim como nos hambúrgueres, a pontuação vai de 0 a 5. Bora abrir a latinha e fazer tim-tim nessa estreia com o Sumol de Ananás, a Brisa Maracujá e a Cherry Coke

18 de abr. de 2013

Record Store Day

Pense rápido: há quanto tempo você não compra um CD ou um vinil? Mais: há quanto tempo você não vai a uma loja de discos e passa algum tempo lá descobrindo as novidades ou fuçando clássicos perdidos? Posso apostar que deve fazer pelo menos mais de um mês - quem sabe, mais até de um ano, não é mesmo? E mais: se você for um grande fã de música, você até deve sentir falta desses lugares, onde você conheceu muitas das bandas da sua vida, não? 

Ok, a gente sabe que isso não é culpa sua. Afinal, nos últimos vinte anos, com o surgimento das compras online e do compartilhamento de arquivos pela internet, muita gente deixou de comprar música em uma loja - o que não é necessariamente um negócio mau, vamos concordar. Entretanto, isso levou a um declínio tanto comercial quanto, vá lá, existencial, das record stores, aqueles lugares onde pessoas tão malucas quanto o Rob Fleming (sempre ele) se encontravam para procurar edições japonesas de discos do Captain Beefheart ou discutir o show da próxima semana na cidade.

É nesse cenário que, em 2007, diversas lojas independentes (isso é, fora das grandes redes de varejo) de disco dos Estados Unidos criaram o Record Store Day. Celebrada sempre no terceiro sábado de abril, a data tem como objetivo reviver os dias de glória desses lugares tão importantes para a música pop. Vou me abster de explicar isso passando a palavra pro Jeff Tweedy: "Minha iniciação a toda a música boa e ao negócio da música veio de passear, e eventualmente, trabalhar em lojas de discos. Nada supera a sensação de fuçar sua loja favorita, ouvir música, encontrar algo novo ou um disco velho que você sempre procurou. Sei lá. Acho que sem essas lojas, o Wilco não estaria aqui hoje".
Enfim: nesse sábado, dia 20, rola o Record Store Day 2013. Tendo como patrono Jack White, o dia reserva duas coisas bem bacanas ao redor do mundo: muitas lojas organizam eventos diferentes, chamando artistas para virem às lojas, seja para fazer recomendações ou pequenos shows, e muitas bandas e cantores lançam edições especiais de álbuns e singles, como que a fim de dar um incentivo para a brincadeira toda. Não importa em que parte do mundo você esteja - vale a pena dar uma fuçada na programação completa no site oficial do evento, o recordstoreday.com. Além disso, fique atento pelos seus sites favoritos: no Scream & Yell, por exemplo, tem aberto o link para o download de um EP novo do Giancarlo Rufatto (a quem eu entrevistei em 2011), com um cover lo-fi de "Quase", valsa pop torta do Pato Fu.

Só para vocês terem noção de como é legal, aproveito a ocasião para mostrar uma reportagem minha (feita pra faculdade, então perdoem a ~tosquice~) no Record Store Day do ano passado, quando eu fui até à Livraria Cultura do Conjunto Nacional curtir o dia por lá. Aperte o play e venha comigo: 

Ó, Pá: Seixas da Beira

Uma interrupção na nossa programação normal para um texto extremamente pessoal - já avisando desde o início pra ninguém reclamar. Sigam-me os bons (ou não).

Foi há coisa de um ano atrás que eu decidi vir fazer intercâmbio em Portugal. A escolha tinha lá suas razões mais lógicas e racionais, afinal, é um país barato, com clima mais amigável que o da maioria dos países europeus, com uma língua que se parece o português-brasileiro (sério, são dois idiomas diferentíssimos) e cujas instituições foram base para a sociedade brasileira. Mas também tinha lá seu lado emocional, afinal, é da terrinha que veio toda a minha família. Três dos meus quatro avôs são portugueses, e a avó que é brasileira é filha de portugueses. (Sim, meus dois avós eram padeiros, mas só um deles se chamava Manuel, e o outro não é o Joaquim).

10 de abr. de 2013

Roteiro de Viagem: Atenas

Atenas, o único lugar do mundo onde ir para a Academia significa parar na frente do Sócrates
Ok, ok, eu sei que eu já falei sobre todas as minhas impressões, ideias e tudo mais nos diários de viagem, mas muitos amigos têm me perguntado sobre as coisas legais para fazer, de maneira que eu resolvi fazer um pequeno roteirinho de lugares e comidas que merecem a sua, a nossa, a atenção de todo mundo. Começo aqui a parada com Atenas, uma cidade que dá pra ser bem visitada e conhecida com apenas dois dias, e gastando pouco dinheiro: dá para pegar hostels bem bacanas por cerca de 15 euros a noite (vale fuçar bem no Hostelworld.com e especialmente conferir os comentários da galera) e, se seu estômago não for lá muito delicado, almoçar deliciosamente por 5 euros. Niké! (ou seja, Vitória!)

6 de abr. de 2013

Ó, Pá: Ivan Lins e Flávio Venturini em Lisboa



Um é carioca, o outro é mineiro. Ambos tocam teclado, tem vozes agudas e começaram suas carreiras nos anos 1970. Entretanto, as semelhanças param por aí: o primeiro notabilizou-se por canções de protesto, cantadas não só por ele mas também por Elis Regina, enquanto o segundo teve seus melhores momentos na carreira com pop songs influenciadas por Beatles e Milton Nascimento. Juntos, eles poderiam ter protagonizado uma noite que poderia ser inusitada, mas acabou sendo apenas tétrica. E esse é um jeito mais ou menos simples de definir o encontro entre Ivan Lins e Flávio Venturini, em show realizado em Lisboa na última sexta-feira (5), no Espaço Brasil, como parte das comemorações do Ano do Brasil em Portugal. 

5 de abr. de 2013

A Arte da Criação

Criada em 1983 pelo escocês Alan McGee, a Creation Records foi uma das gravadoras mais importantes das décadas de 80 e 90. Duvida? Então saiba que foi ela que lançou discos como Bandwagonesque, do Teenage Fanclub, Loveless, do My Bloody Valentine, Screamadelica, do Primal Scream e... Definitely Maybe, do Oasis, além de ter trazido ao mundo os primeiros singles do Jesus & Mary Chain. Não é coisa pouca.

2 de abr. de 2013

Kate Nash no Cultura Inglesa Festival

ATUALIZAÇÃO: A mistura fina parece começar a azedar. Depois de anunciar Magic Numbers e Bonde do Rolê tocando The Cure, o Cultura Inglesa Festival parece inverter a lógica que lhe tornou um dos eventos mais legais da cidade de São Paulo nos últimos anos. Além de ter trocado o Parque da Independência pelo Memorial da América Latina (aquele parque paulistaníssimo, sem árvores), o festival parece ter cedido à lógica barata do mercantilismo de shows, mesmo continuando a ser gratuito.

Mas como? Vamos lá:  sse ano, se você quiser entrar no show com calma e sem fila, pode reservar o seu ingresso por CINCO DILMAS. (Você vai me dizer, "Bruno, você não pagaria isso pra ver Magic Numbers e Kate Nash?". Eu respondo: "Claro que sim, até umas dez vezes esse valor". O problema é: se um festival quer ser gratuito, que ele seja gratuito de verdade, sem fila de preferência pros filhos de Gérson).

Entendo que essa foi a maneira encontrada pela organização pra evitar repetir o problema de 2012, quando gente ficou na fila por horas e não entrou, pra não falar na intervenção da PM. Mas, em pleno 2013, a civilização brasileira já poderia fazer mais que isso.

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Um dos festivais mais bacanas (lineup esperto, curadoria inteligente, e melhor de tudo, de graça) de São Paulo, o Cultura Inglesa Festival, anunciou na manhã desta terça-feira (2) os detalhes para sua 17ª edição - a terceira realizada para o grande público, e não apenas para os estudantes da escola de inglês. Duas coisas saltam à atenção no comunicado:

  • Kate Nash, a inglesinha que fez muitos corações se partirem com "Foundations" e "Mouthwash" há alguns anos, será a headliner do evento, que rola no dia 23 de junho na capital paulista. Comparando com as edições anteriores do CIF (Gang of Four em 2011 e Franz Ferdinand em 2012), a escolha da cantora para encabeçar o evento é um retrocesso - será que o orçamento ficou mais curto? Entretanto, é um acerto por parte da organização do festival, uma vez que Nash é o tipo de artista que vai de encontro com o público-alvo da coisa toda, formado por uma classe média-alta paulistana mezzo hipster mezzo filhinho de papai que vai pra aula de inglês paquerar e assistir episódios de Friends sem legenda. 
  • No lugar do Parque da Independência (aquele do Museu do Ipiranga), um dos lugares abertos mais legais para ver um show em São Paulo, com direito a árvores, sol e inclinação natural que ajuda adolescentes baixinhas a finalmente enxergarem o palco, o evento será realizado no Memorial da América Latina, aquele espaço tipicamente paulistano projetado por Niemeyer - quer coisa mais paulistana que um parque sem árvores? Como consolo, vale lembrar que é bem mais fácil chegar no Memorial (estação Barra Funda do Metrô) do que no Parque da Independência, mas... 'xá pra lá. 
Seja como for, é um programa de primeira para quem quiser curtir um bom domingo em São Paulo. O Pergunte ao Pop esteve nas duas edições anteriores do festival (leia aqui e aqui), recomenda e desde já fica triste por não poder estar presente dessa vez. #invejinha