
Pra começo de conversa, é preciso dizer que uma boa voz e trabalhar bem na produção costumam não levar ninguém muito longe. Talvez por saber disso, as letras do inglês chamam a atenção não só por serem muito tocantes, mas também por o fazerem em apenas poucas linhas. Essa concisão, que poderia criar padrões tetricamente repetitivos, acaba por ser uma das grandes armas do cantor. Em "I Never Learnt to Share", por exemplo, ele repete por quatro minutos apenas duas frases: "My brother and my sister don't speak to me/But I don't blame them".
É como se Blake tentasse repetir a experiência que Van Morrison teve em Astral Weeks, exposta pelo crítico americano Lester Bangs: “Van Morrison está interessado, obcecado com a quantidade de informação verbal ou musical que ele consegue imprimir no menor espaço possível e, de maneira inversa, quão longe ele consegue esticar uma nota, palavra, som ou imagem. Capturar o instante, ou um carinho ou um beliscão. Ele repete certas frases a extremos que, na boca de qualquer outro, seriam ridículas, porque ele está esperando uma visão se descortinar, tentando, da maneira mais livre possível, arrastá-la pelos cotovelos”.
Entretanto, enquanto o irlandês Morrison trabalha esses ideais mexendo com a velocidade e a altura das notas que canta naturalmente, Blake se utiliza dos efeitos eletrônicos do Auto Tune para criar camadas e mais camadas que se sobrepõe, chegando por vezes a dar a impressão de que existe um dueto entre o cantor londrino e si próprio.
Outro diferencial que existe em James Blake, o disco, é o contraste que se estabelece entre o vocal do inglês e a base que ele próprio construiu para suas canções. O cristalino vocal de Blake intensifica a emotividade das canções ao soar confessional (na já citada "I Never Learnt to Share"), pedindo ajuda ao sentir-se perdido em meio a sonhos e amores (a lindíssima "Wilhelm's Scream"), ou lamentando-se (em “Unluck”), de maneira quase inocente e ingênua.
Blake é um intérprete tão poderoso que poderia conceber um disco inteiro apenas à capella sem qualquer problema. Entretanto, é quando adiciona os efeitos eletrônicos que fazem cama para sua voz que sua obra ganha contornos ainda mais interessantes. Para um desavisado ou alguém que não é fã de música eletrônica - mais especificamente, do dubstep, subgênero do qual Blake é um dos bastiões -, as batidas e ruídos chegam a incomodar - e muito - num primeiro momento, como se estivesse justamente atrapalhando a canção.
Porém, à medida que se avança nas audições do álbum, percebe-se que toda essa base ruidosa serve como um sinal de reiteração do desespero que a interpretação do cantor traz á tona. Como se os efeitos ali colocados reafirmassem a insolubilidade dos problemas expostos por Blake: há sim, um limite para o amor, e a chance de isso mudar é inacreditavelmente pequena em meio à vida agitada, confusa e nonsense que se tem nos dias de hoje.
Apesar de extremamente cruel, essa noção guarda dentro de si mesma uma assustadora e intensa beleza, rara de se ver hoje em dia. Tão rara que capta a atenção até mesmo de quem a ignoraria em outras circunstâncias. E é aí, meus amigos, que reside a força de Blake.

Entretanto, enquanto o irlandês Morrison trabalha esses ideais mexendo com a velocidade e a altura das notas que canta naturalmente, Blake se utiliza dos efeitos eletrônicos do Auto Tune para criar camadas e mais camadas que se sobrepõe, chegando por vezes a dar a impressão de que existe um dueto entre o cantor londrino e si próprio.
Outro diferencial que existe em James Blake, o disco, é o contraste que se estabelece entre o vocal do inglês e a base que ele próprio construiu para suas canções. O cristalino vocal de Blake intensifica a emotividade das canções ao soar confessional (na já citada "I Never Learnt to Share"), pedindo ajuda ao sentir-se perdido em meio a sonhos e amores (a lindíssima "Wilhelm's Scream"), ou lamentando-se (em “Unluck”), de maneira quase inocente e ingênua.
Blake é um intérprete tão poderoso que poderia conceber um disco inteiro apenas à capella sem qualquer problema. Entretanto, é quando adiciona os efeitos eletrônicos que fazem cama para sua voz que sua obra ganha contornos ainda mais interessantes. Para um desavisado ou alguém que não é fã de música eletrônica - mais especificamente, do dubstep, subgênero do qual Blake é um dos bastiões -, as batidas e ruídos chegam a incomodar - e muito - num primeiro momento, como se estivesse justamente atrapalhando a canção.
Porém, à medida que se avança nas audições do álbum, percebe-se que toda essa base ruidosa serve como um sinal de reiteração do desespero que a interpretação do cantor traz á tona. Como se os efeitos ali colocados reafirmassem a insolubilidade dos problemas expostos por Blake: há sim, um limite para o amor, e a chance de isso mudar é inacreditavelmente pequena em meio à vida agitada, confusa e nonsense que se tem nos dias de hoje.
Apesar de extremamente cruel, essa noção guarda dentro de si mesma uma assustadora e intensa beleza, rara de se ver hoje em dia. Tão rara que capta a atenção até mesmo de quem a ignoraria em outras circunstâncias. E é aí, meus amigos, que reside a força de Blake.
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