Uma poltrona, uma cortina e uma câmera. Pessoas cantando e contando suas histórias. As Canções, o novo filme de Eduardo Coutinho, talvez leve ao extremo mínimo o estilo do documentarista. Consagrado por filmes como Edifício Master e Jogo de Cena, Coutinho extrai de conversas com pessoas comuns a força motriz de seus filmes, trazendo à tona histórias que por vezes beiram o inacreditável - como a do senhor que conheceu Frank Sinatra narrada em Edifício. As Canções não foge a essa regra, investigando a relação que a música pode ter na vida das pessoas, e que histórias essas músicas lembram.
A premissa é básica, à primeira vista: cada pessoa que aparece no documentário canta a canção que mais marcou sua vida, e conta sua história. O diretor tenta intervir o menos possível nos relatos dos que aparecem em frente à câmera, por vezes apenas repetindo uma pergunta para conseguir maior ênfase de um entrevistado, ou pedindo mais detalhes que possam levar a história para outro caminho.
O resultado, porém, acaba ficando talvez aquém do esperado, considerando os filmes anteriores do diretor. Isso se deve, em grande parte, à grande repetição do tema "amor" como fio condutor das narrativas dos entrevistados. Ainda que seja um assunto mais que esperado - "todas as canções são de amor", cantava o grupo paulistano Pullovers -, fica difícil se entusiasmar, a partir de uma hora de filme, com mais uma história de uma senhora que foi abandonada, ou teve um amor inesquecível na juventude e, aos 60 anos, não superou a paixão.
Mas o filme tem seus grandes momentos quando consegue fugir um pouco desse tom: é o caso, por exemplo, do oficial reformado da Marinha e sua discussão sobre o machismo, ou o do malandro que fez bobagem e encontra seu caminho depois de ouvir Jorge Ben. Ainda assim, aqui e ali, o filme faz rir pelo absurdo de algumas histórias, ou pela simpatia que os personagens mostrados em tela exibem. Outra coisa bacana de As Canções é perceber a importância de Roberto Carlos no imaginário musical do "povo" brasileiro: as canções do Rei aparecem pelo menos três vezes durante o documentário - a impressão que fica é que seria possível fazer um filme inteiro só falando de RC.
Em uma hora e meia de filme, Coutinho até prende bem seu espectador, levando bem o ritmo de seu filme. Entretanto, o problema é que, com uma promessa e um potencial tão bons, talvez As Canções tenha deixado a desejar, como uma banda que não sabe o que fazer no segundo disco.
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