8 de mai. de 2011

A Era da Incerteza

Após passar por diversos vais-e-vens no que diz respeito ao futuro da banda (ora termina, ora continua), e com diversas mudanças em sua formação - atualmente Beto Cupertino, voz e guitarra; Thiago Ricco, no baixo; Fred Valle com as baquetas e Pedro Saddi nos teclados -, o Violins lança novo disco em 2011. Direito de Ser Nada, - clique para download - que sucede Greve das Navalhas, lançado no ano passado, prossegue narrando as angústias que pairam o cotidiano do homem contemporâneo, marcado por dubiedades e incertezas. As boas e filosóficas letras de Beto Cupertino auxiliam esse panorama, uma vez que possibilitam diferentes interpretações para cada ouvinte.

Entretanto, é possível perceber em Direito que há uma maior atenção à temática dos relacionamentos amorosos, algo que sempre perpassou a carreira dos goianos, mas nunca foi de fato o tema principal de sua obra, mais afeita a assuntos como violência (a seminal "Grupo de Extermínio de Aberrações", "Anti-Herói"), religião ("Angelus"), tabus ("Vendedor de Rins") e a própria arte ("Fim da Música como Arte"). Talvez por essa escolha, as letras da banda soam mais claras à primeira escutada - mas não menos profundas e ricas para quem quiser decifrar camadas interiores das canções.

Boas narrativas surgem pelo disco, ilustrando a complexidade da vida hoje em dia. É o caso de "Medo de Dar Certo", na qual o conflito da canção não é o problema, mas sim a realização de tudo o que se sonhou - como se a felicidade a dois fosse algo duvidoso ou intangível. Ou a declaração de amor por vias tortíssimas de "É Como Está": "Pra retirar essa preocupação de mim/Eu vou a pé e olha que eu moro em Goiás/Eu minto bem, eu roubo banco, eu vendo rim". Ou ainda "Forasteiro", na qual a figura do outro não representa salvação, muito pelo contrário: "O rumo que eu tomei ao ver você entrar/Foi o da janela da sala".

Sonoramente, a banda insiste em camas de guitarras e teclados muito bem construídas, à moda do Muse, da primeira fase do Radiohead (em especial o disco "Pablo Honey"), e de Jeff Buckley - deixando um pouco para trás melodias que remetiam ao Clube da Esquina de Milton e Lô. (Sim, exatamente isso o que você leu). Nesse sentido, o grande momento do álbum é "Nossos Embrulhos" e o anúncio de Beto, sobre guitarras limpas ("Vai começar o belo, mais belo, espetáculo que há"), para depois enveredar num ambiente de confusão sonora, como o proposto pela letra ("Pelo trânsito febril é a luz mais brilhante").

Essa junção de arranjos mais pop - ainda que por caminhos obtusos - e letras mais decifráveis pode enriquecer o trabalho da banda, especialmente ao vivo. Em janeiro último, ao se apresentar no Auditório Ibirapuera, quem assistiu ao show da banda saiu com a sensação de ter sido uma noite morna, por culpa da dicotomia entre o "se movimentar desordenadamente acompanhando as frases de guitarra" e o "ficar parado para tentar prestar atenção nas letras da banda" que as canções do Violins oferecem a seus ouvintes. Direito de Ser Nada, porém, é mais um paliativo do que exatamente chega a curar esse problema de todo. Talvez até porque essa dúvida é mais uma a preencher a cabeça do atormentado homem de hoje: música é feita pra dançar ou pra pensar? Aqui não está a resposta, de fato – o que também espelha os dias de hoje: quanto mais se buscam respostas, mais perguntas surgem. A única que se pode responder, porém, é “sim, vale a pena prestar atenção no que Direito de Ser Nada tem a dizer”.


Foto por Liliane Callegari, do show do Auditório Ibirapuera (28/01/11).

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