
Em turnê com o álbum Shadows, marcado por uma sonoridade calma e próxima ao soft rock, os escoceses trouxeram em sua segunda passagem por São Paulo – a primeira foi em 2004, no SESC Pompeia - o que sabem fazer de melhor: melodias que podem não ser inovadoras, mas são tocantes e sublimes. Ou, traduzindo de um jeito de quem é do meio: suas canções trabalham estruturas tradicionais da música pop, mas de maneiras que alcançam patamares inacreditáveis. Isso sem falar nas letras apaixonadas do grupo, capazes de declarações lindas como "o seu amor é o lugar de onde eu vim" ou "eu roubaria um carro pra te levar para casa".
A apresentação começou morna, com canções dos discos mais recentes da banda - bonitos, mas que não fazem barulho perto do passado glorioso de Grand Prix (1995) ou Bandwagonesque (1991). Entretanto, foi a partir de "Don't Look Back" que o Teenage Fanclub trouxe à casa uma vibração incrível, como se, de repente, São Paulo tivesse virado a Glasgow de 91, com pulos, coros e declarações de amor da plateia ao trio.

Problemas esses, entretanto, que foram superados pela simpatia de Blake, McGinley e Love. Poucas são as bandas que tem a sorte de conseguir enfileirar, em suas apresentações, tantas canções bonitas: o que dizer de uma sequência como "I Need Direction", "Mellow Doubt" e "Your Love Is The Place Where I Come From", ou ainda "Sparky's Dream" e "The Concept" - essa última, com direito a um solo de guitarra que poderia ser descrito facilmente com uma frase como "quando você chegar ao céu, se não estiver tocando isso, será algo muito parecido".
Talvez não tenha sido de fato um show marcado por surpresas, mas como disse Nick Hornby certa vez ao descrever o grupo, "você também pode criticar um círculo por não ter ângulos retos". No bis, que começou com a calma "Sweet Days Waiting" e contou com a presença de "Neil Jung", uma das melhores faixas de Grand Prix e que não vinha sendo tocada pelo grupo, a sensação de união da plateia chegou a níveis estratosféricos. Durante as músicas finais do show, "Discolite" e "Everything Flows", mais de cem roqueiros veteranos e barbudos dançavam juntos, em uma onda desorganizada e feliz, como se não se importassem com o resto do mundo. Mesmo às duas da manhã, em plena quarta-feira, difícil foi encontrar um fã que não saiu com um sorriso no rosto da The Week. Cenas que só a beleza do rock'n roll do Teenage Fanclub consegue explicar.
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