No último mês que passou, a Apanhador Só, banda de Porto Alegre que lançou um dos álbuns mais interessantes do ano passado, fez uma série de apresentações na cidade de São Paulo. Divulgando seu mais recente trabalho, o disco Acústico-Sucateiro, de 2011, o conjunto gaúcho se alternou entre exibições desplugadas - com direito a utilização percussiva de instrumentos como roda de bicicleta, molho de chaves e ralador de queijo - e shows elétricos, com sua formação "convencional" - ou seja, baixo, bateria e guitarras, pilotados respectivamente por Fernão Agra, Martin Esteves, Felipe Zancanaro e Alexandre Kumpinski (que também canta). Tal dinâmica permite ao grupo mostrar duas facetas de seu trabalho, como se, ao definir qual é o formato deles, seus shows se transformassem em uma partida de cara-ou-coroa.
Musicalmente, a Apanhador Só faz uma interessante mistura entre o rock alternativo guitarreiro dos anos 90 e a música brasileira - como num encontro inusitado de Stephen Malkmus e Rivers Cuomo com Paulinho da Viola e Luiz Gonzaga em pleno domingo à tarde de sol para uma jam session. Já suas letras passeiam por um lirismo peculiar, descrevendo o mundo como quem o vê pela primeira vez, de maneira cativante, lembrando por vezes a poesia de Manuel Bandeira e Mário Quintana ou o charme do tropicalismo dos Mutantes e de Tom Zé.
Em maio, a banda se apresentou ao vivo em cartões-postais da cidade, como a Praça da Sé, a Estação da Luz e o Parque Trianon com suas "intervenções acústico-sucateiras". Brincando com música, os gaúchos ressaltaram nesses shows o lado mais lúdico e lírico da banda, transformando em alegria até mesmo canções melancólicas como "Bem-me-leve" ou "Nescafé" - pra não dizer nada sobre o carnaval que se transformaram a balançada "Maria Augusta" e a inédita e romântica "Na Ponta dos Pés". O clima que se viu nos pontos turísticos da Pauliceia foi o de uma rodinha de violão entre amigos, com o público cantando junto e até interferindo no som da banda - uma das apresentações contou com a especial participação de um músico ambulante que tocava uma folha de árvore, e ao final dos "concertos", muitos fãs também iam se divertir com os instrumentos da Apanhador.
No dia 4 de junho, com preços módicos, o quarteto retornou à capital paulista - mais especificamente, no palco da sala Adoniran Barbosa do Centro Cultural São Paulo - para mostrar seu show elétrico. Para quem havia visto os espetáculos desplugados, não poderia haver maior surpresa: o que antes era graça e calma, se transformava em força e intensidade, graças especialmente à virtuosidade de Martin na bateria e à distorção das guitarras de Felipe e Alexandre, que formavam uma parede de barulho agradabilíssimo. Se a recepção do público não era tão calorosa ou pelo menos, não se mostrava tão ardente quanto outrora, a banda mostrando bonitas canções inéditas.
"Ele Se Acordou" e "Torcicolo", a dobradinha de novas exibida pelos gaúchos, não foge às características já "clássicas" da Apanhador Só, mas aponta numa direção além - os personagens das canções se mostram mais calhordas, mais angustiados, mais indecisos, mais maduros talvez. Mas o ponto alto da apresentação foram mesmo velhas conhecidas do público: "Balão de Vira Mundo", "Jesus, O Padeiro e O Coveiro", "Maria Augusta" e o apse final, no bis, com "Menina, Amanhã de Manhã", cover de Tom Zé que vem sendo tocado pelo grupo, e "E Se Não Der?", cujo solo final foi algo bem próximo do sublime, levando quem o ouviu a outras atmosferas.
Talvez o mais interessante a respeito dessa dualidade que permeia as apresentações da Apanhador Só seja o fato de que elas exibem a capacidade de ousar da banda sem se preocupar com o que pode acontecer no fim das contas, mas também sem se perder por experimentalismos inócuos. Seja emulando guitar heroes ou jogando com a percussão, tocando sacos de lixo, latas de bala e panelas, Alexandre, Felipe, Fernão e Martin acabam por fazer músicas deliciosamente pop, num dos trabalhos mais bacanas vistos recentemente no cenário brasileiro. É esperar pra ver cenas dos próximos capítulos...
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Musicalmente, a Apanhador Só faz uma interessante mistura entre o rock alternativo guitarreiro dos anos 90 e a música brasileira - como num encontro inusitado de Stephen Malkmus e Rivers Cuomo com Paulinho da Viola e Luiz Gonzaga em pleno domingo à tarde de sol para uma jam session. Já suas letras passeiam por um lirismo peculiar, descrevendo o mundo como quem o vê pela primeira vez, de maneira cativante, lembrando por vezes a poesia de Manuel Bandeira e Mário Quintana ou o charme do tropicalismo dos Mutantes e de Tom Zé.
Em maio, a banda se apresentou ao vivo em cartões-postais da cidade, como a Praça da Sé, a Estação da Luz e o Parque Trianon com suas "intervenções acústico-sucateiras". Brincando com música, os gaúchos ressaltaram nesses shows o lado mais lúdico e lírico da banda, transformando em alegria até mesmo canções melancólicas como "Bem-me-leve" ou "Nescafé" - pra não dizer nada sobre o carnaval que se transformaram a balançada "Maria Augusta" e a inédita e romântica "Na Ponta dos Pés". O clima que se viu nos pontos turísticos da Pauliceia foi o de uma rodinha de violão entre amigos, com o público cantando junto e até interferindo no som da banda - uma das apresentações contou com a especial participação de um músico ambulante que tocava uma folha de árvore, e ao final dos "concertos", muitos fãs também iam se divertir com os instrumentos da Apanhador.
No dia 4 de junho, com preços módicos, o quarteto retornou à capital paulista - mais especificamente, no palco da sala Adoniran Barbosa do Centro Cultural São Paulo - para mostrar seu show elétrico. Para quem havia visto os espetáculos desplugados, não poderia haver maior surpresa: o que antes era graça e calma, se transformava em força e intensidade, graças especialmente à virtuosidade de Martin na bateria e à distorção das guitarras de Felipe e Alexandre, que formavam uma parede de barulho agradabilíssimo. Se a recepção do público não era tão calorosa ou pelo menos, não se mostrava tão ardente quanto outrora, a banda mostrando bonitas canções inéditas.
"Ele Se Acordou" e "Torcicolo", a dobradinha de novas exibida pelos gaúchos, não foge às características já "clássicas" da Apanhador Só, mas aponta numa direção além - os personagens das canções se mostram mais calhordas, mais angustiados, mais indecisos, mais maduros talvez. Mas o ponto alto da apresentação foram mesmo velhas conhecidas do público: "Balão de Vira Mundo", "Jesus, O Padeiro e O Coveiro", "Maria Augusta" e o apse final, no bis, com "Menina, Amanhã de Manhã", cover de Tom Zé que vem sendo tocado pelo grupo, e "E Se Não Der?", cujo solo final foi algo bem próximo do sublime, levando quem o ouviu a outras atmosferas.
Talvez o mais interessante a respeito dessa dualidade que permeia as apresentações da Apanhador Só seja o fato de que elas exibem a capacidade de ousar da banda sem se preocupar com o que pode acontecer no fim das contas, mas também sem se perder por experimentalismos inócuos. Seja emulando guitar heroes ou jogando com a percussão, tocando sacos de lixo, latas de bala e panelas, Alexandre, Felipe, Fernão e Martin acabam por fazer músicas deliciosamente pop, num dos trabalhos mais bacanas vistos recentemente no cenário brasileiro. É esperar pra ver cenas dos próximos capítulos...
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Fotos: 1 e 2: Bruno Capelas
3: Roberta Lopes
3: Roberta Lopes
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