
Musicalmente, a Apanhador Só faz uma interessante mistura entre o rock alternativo guitarreiro dos anos 90 e a música brasileira - como num encontro inusitado de Stephen Malkmus e Rivers Cuomo com Paulinho da Viola e Luiz Gonzaga em pleno domingo à tarde de sol para uma jam session. Já suas letras passeiam por um lirismo peculiar, descrevendo o mundo como quem o vê pela primeira vez, de maneira cativante, lembrando por vezes a poesia de Manuel Bandeira e Mário Quintana ou o charme do tropicalismo dos Mutantes e de Tom Zé.

No dia 4 de junho, com preços módicos, o quarteto retornou à capital paulista - mais especificamente, no palco da sala Adoniran Barbosa do Centro Cultural São Paulo - para mostrar seu show elétrico. Para quem havia visto os espetáculos desplugados, não poderia haver maior surpresa: o que antes era graça e calma, se transformava em força e intensidade, graças especialmente à virtuosidade de Martin na bateria e à distorção das guitarras de Felipe e Alexandre, que formavam uma parede de barulho agradabilíssimo. Se a recepção do público não era tão calorosa ou pelo menos, não se mostrava tão ardente quanto outrora, a banda mostrando bonitas canções inéditas.

"Ele Se Acordou" e "Torcicolo", a dobradinha de novas exibida pelos gaúchos, não foge às características já "clássicas" da Apanhador Só, mas aponta numa direção além - os personagens das canções se mostram mais calhordas, mais angustiados, mais indecisos, mais maduros talvez. Mas o ponto alto da apresentação foram mesmo velhas conhecidas do público: "Balão de Vira Mundo", "Jesus, O Padeiro e O Coveiro", "Maria Augusta" e o apse final, no bis, com "Menina, Amanhã de Manhã", cover de Tom Zé que vem sendo tocado pelo grupo, e "E Se Não Der?", cujo solo final foi algo bem próximo do sublime, levando quem o ouviu a outras atmosferas.
Talvez o mais interessante a respeito dessa dualidade que permeia as apresentações da Apanhador Só seja o fato de que elas exibem a capacidade de ousar da banda sem se preocupar com o que pode acontecer no fim das contas, mas também sem se perder por experimentalismos inócuos. Seja emulando guitar heroes ou jogando com a percussão, tocando sacos de lixo, latas de bala e panelas, Alexandre, Felipe, Fernão e Martin acabam por fazer músicas deliciosamente pop, num dos trabalhos mais bacanas vistos recentemente no cenário brasileiro. É esperar pra ver cenas dos próximos capítulos...
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Fotos: 1 e 2: Bruno Capelas
3: Roberta Lopes
3: Roberta Lopes
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