À primeira vista, a idéia da história de 127 Horas parece um tanto quanto monótona e angustiante: aqui conta-se como Aron Ralston (James Franco), um aventureiro que, ao escalar uma montanha em Utah, prende seu braço entre uma pedra e uma fenda e tenta sobreviver nessa condição subumana. Nas mãos do diretor escocês Danny Boyle, entretanto, ela se torna envolvente, instigante e engraçada - ainda que tenha seus momentos de drama e tensão visual um pouco além da medida para aqueles mais sensíveis.
Em vez de privilegiar um retrato naturalista da situação em que Ralston se apresenta, Boyle opta por apresentar uma narrativa tríplice: a dor e a sede do alpinista, mostrados fisicamente, se misturam às suas memórias, ao lado que só ele vê, sozinho com suas lembranças. Assim, ao ficarmos sabendo porque ele tem essa fixação com o montanhismo ou como é sua relação com os pais e a namorada, a história ganha níveis de complexidade muito interessantes.
As relações familiares e sociais do protagonista também são desenvolvidas em uma terceira importante linha de se contar a história: são as declarações que Aron grava em sua câmera filmadora, seja como último recado àqueles que lhe têm afeto, seja como maneira para documentar sua jornada, seja como recurso para não enlouquecer. Nesse último caso, vale prestar atenção na irônica cena na qual o alpinista simula um talk-show em que ele próprio desempenha os papéis de entrevistado e de entrevistador.
Dito dessa maneira, o filme pode soar um tanto quanto difuso e fragmentário. Porém, vale destacar que o diretor amarra muito bem suas idéias com a ajuda de uma boa trilha sonora - composta por A. R. Rahman, o mesmo de "Quem Quer Ser Um Milionário?" -, que tanto auxilia na sensação de frenesi do filme (mesmo com seu protagonista em boa parte dos momentos imobilizado) quanto ajuda a criar climas de desolação e redenção. Outro ponto forte da película é a sua fotografia ampla, muito auxiliada, obviamente, pela paisagem natural da história. E cabe ainda destacar a bela atuação de James Franco, cujas expressões e gestos por si só já dariam determinada graça ao filme.
Talvez seja necessário dizer: sim, o filme contém cenas bem fortes. Se você não consegue ver sangue, pessoas se machucando ou infligindo dor a si mesmas, talvez seja o caso de fechar os olhos por alguns segundos. Mas ainda que este seja o seu caso, não despreze “127 Horas”: trata-se, antes de tudo, de uma história de sobrevivência e de amor à vida, contada com um bocado de ousadia, por um dos melhores diretores em atividade.
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