Antes de tudo, algo importante deve ser dito sobre Jeff Buckley e Grace: você nunca viu ou nunca verá algo tão parecido com ambos. Pode buscar similaridades mil com outros artistas e canções, - algo que até será feito nas próximas linhas - mas nenhum deles uniu tantos atributos em um lugar só. Dono de uma voz potentíssima, com extensão de cinco oitavas, – o normal nos humanos é de apenas duas – usou-a com toda a propriedade, encarnando vários mitos em seu próprio corpo – e utilizando-os para criar sua própria imagem lendária.
Filho de pai ausente e genial - Tim Buckley, trovador maldito dos anos 60 que misturou rock, folk e jazz – Jeff foi criado por uma mãe severa e um padrasto compreensivo, que lhe deu discos do Led Zeppelin e um incentivo para as artes. Começou no cenário underground de Nova York tocando em botecos - como se pode ver no EP Live at Sin-è - e acabou conquistando fãs como Bono Vox e Paul McCartney. Morreu de maneira tragicômica em 1997, afogado no rio Mississipi enquanto escutava "Whole Lotta Love”, do Led Zeppelin.
Buckley foi Nina Simone ao usar sua voz com tal doçura e sofreguidão que até chega a incomodar - e dela fez um cover, "Lilac Wine". Page & Plant em "Eternal Life", facada guitarrística em corações solitários e tempestuosos. Foi Van Morrison ao apropriar-se de símbolos e metáforas aliados a uma riqueza melódica e a uma voz marcante. Leonard Cohen e Morrissey nas letras com uma melancolia poética, quase niilista. Cobain ao explorar o ruído e a dissonância e ao esvair-se de forma trágica deixando uma obra curta e cheia de simbologias para trás.
Mas também mostrou sua personalidade ao unir tão diversos caracteres, sendo um filho bastardo do rock alternativo dos anos 90, do folk sessentista e do jazz. Seus arranjos soam ao mesmo tempo simples, mas refinados e intrincados.
Em Grace, reconhecido por muitos como um dos discos “mais tristes já feitos”, o cantor assume-se um amante bêbedo em "Lilac Wine”, pede desculpas e sente-se miserável em "Last Goodbye”, declara que o amor não tem fim na pungente balada "Lover, You Should've Come Over" e mostra-se sobre o efeito de drogas em "Mojo Pin”. Em meio a toda essa nebulosidade, busca a redenção na desesperança, como na irretocável regravação da "Hallelujah”, de Cohen – que o próprio autor considera a melhor gravação da música.
Grace, de 1994, é seu único disco lançado em vida. Não é possível se dizer que foi o suficiente, pois almas atormentadas como a de Buckley costumam ter muito a oferecer, mas foi o suficiente para que uma obra precoce deixasse fãs saudosos, provocasse lágrimas em corações sensíveis e guardasse o lugar de seu autor entre os gênios de sua época.
(publicado originalmente no Pop To The People)
Filho de pai ausente e genial - Tim Buckley, trovador maldito dos anos 60 que misturou rock, folk e jazz – Jeff foi criado por uma mãe severa e um padrasto compreensivo, que lhe deu discos do Led Zeppelin e um incentivo para as artes. Começou no cenário underground de Nova York tocando em botecos - como se pode ver no EP Live at Sin-è - e acabou conquistando fãs como Bono Vox e Paul McCartney. Morreu de maneira tragicômica em 1997, afogado no rio Mississipi enquanto escutava "Whole Lotta Love”, do Led Zeppelin.
Buckley foi Nina Simone ao usar sua voz com tal doçura e sofreguidão que até chega a incomodar - e dela fez um cover, "Lilac Wine". Page & Plant em "Eternal Life", facada guitarrística em corações solitários e tempestuosos. Foi Van Morrison ao apropriar-se de símbolos e metáforas aliados a uma riqueza melódica e a uma voz marcante. Leonard Cohen e Morrissey nas letras com uma melancolia poética, quase niilista. Cobain ao explorar o ruído e a dissonância e ao esvair-se de forma trágica deixando uma obra curta e cheia de simbologias para trás.
Mas também mostrou sua personalidade ao unir tão diversos caracteres, sendo um filho bastardo do rock alternativo dos anos 90, do folk sessentista e do jazz. Seus arranjos soam ao mesmo tempo simples, mas refinados e intrincados.
Em Grace, reconhecido por muitos como um dos discos “mais tristes já feitos”, o cantor assume-se um amante bêbedo em "Lilac Wine”, pede desculpas e sente-se miserável em "Last Goodbye”, declara que o amor não tem fim na pungente balada "Lover, You Should've Come Over" e mostra-se sobre o efeito de drogas em "Mojo Pin”. Em meio a toda essa nebulosidade, busca a redenção na desesperança, como na irretocável regravação da "Hallelujah”, de Cohen – que o próprio autor considera a melhor gravação da música.
Grace, de 1994, é seu único disco lançado em vida. Não é possível se dizer que foi o suficiente, pois almas atormentadas como a de Buckley costumam ter muito a oferecer, mas foi o suficiente para que uma obra precoce deixasse fãs saudosos, provocasse lágrimas em corações sensíveis e guardasse o lugar de seu autor entre os gênios de sua época.
(publicado originalmente no Pop To The People)
(Publicado Originalmente no Anúncio de Refrigerante)
ResponderExcluir"Cara, sinceramente.
Eu te devo os parabéns pelo Jeff Buckley. Extremamentemente bom.
Acabo de perceber que gosto amis dos seus pseudo-jornalismos que dos seus textos depressão/melancolia... tomara que continue assim. O sucesso é graantido, e o meu nome é o terceiro na lista do churrasco, hein!
Detalhe: eu vou baixar essa budega. provavelmente eu vou gostar, como bom paga pau, ops, assimilativo que sou =]"
Agora, de verdade, provavelmente foi o seu texto que tem o menor teor de formalidade e o maior de paixão jornalística que eu já vi. Talvez por isso ele seja o melhor. Agora, você tem o sério problema de idolatrar esse texto, visto que ele foi publicdo já três ou quatro vezes. Faça mais como esse, e deixe esse quieto.
De resto, adorei o blog novo, embora a decoração seja horrenda.
Zöid =]