29 de mar. de 2011

Homens do Presente

"This is my time and I am thrilled to be alive". Ao se ouvir uma frase dessas, é difícil contrariar a ideia de que o R.E.M. vive uma grande fase e se sente bem por isso. Em "Collapse Into Now", décimo quinto petardo da banda da Geórgia, Michael Stipe e seus companheiros fazem um disco mais reflexivo (o que não significa menos enérgico) e bem menos político que o anterior, "Accelerate", mas com igual charme e relevância para os dias de hoje. Sim, antes que você comece a se perguntar, esses tiozinhos ainda tem (muito) o que dizer.

Talvez o ponto mais interessante desse disco seja o fato de que o REM não apresenta nada de novo, mas não faz uma obra nem um pouco repetitiva. A questão é que eles utilizam os mesmos moldes de canções desde 1981 (o EP de estreia "Chronic Town"), mas colocam e retiram elementos delas, como quem brinca de Lego ou quebra-cabeça. Assim, ouvem-se novas músicas com cheiro de passado, da "saudade de algo que eu ainda não vi". Aqui, as principais fontes para essas releituras de sua própria obra são os discos "Monster", "New Adventures in Hi Fi" e "Automatic for the People", marcados por atmosferas urgentes e, ao mesmo tempo, introspectivas.

A introspecção, por exemplo, é a marca de canções como "Oh My Heart", talvez a música mais política do disco, mas de uma maneira otimista: é o reconhecimento de que as coisas melhoraram ideologicamente desde 2008 (o R.E.M. foi uma das bandas que mais comemorou, de certa maneira, a vitória de Obama), mas que ainda há muito a ser feito. E mais: ela traz à tona a noção de que se pertencer a um lugar, em alguns dos versos mais bonitos do ano: "This place needs me here/This place is the beat of my heart".

Outro fator a ser citado como culpado pela longevidade da banda é a versatilidade de Michael Stipe como vocalista. Não se trata de um caso de grande extensão vocal, mas de saber muito bem utilizar a voz como instrumento de expressão: Stipe é alguém que consegue em um mesmo disco fazer um afago ("Walk it Back"), um desabafo, um grito enérgico ("That Someone is You", "Aligator Aviator Autopilot Antimatter", com Peaches) e uma porrada na cara sem soar falso, pretensioso, ou incoerente com as outras ideias que canta.

Mas é na mensagem que a banda traz que ela melhor se estabelece: a bela "Überlin" - com bandolins que relembram "Losing My Religion" - lança à baila o questionamento: até onde vale a pena ir para conseguir o que se deseja? "Every Day is Yours to Win", por sua vez, é uma balada sentimental que lembra o clima "confortável" de "Find the River": é como se a banda, do alto de seus trinta anos de carreira, dissesse a seus ouvintes que o caminho (para o quê mesmo?) não é fácil, mas é possível.

O melhor, porém, fica para a faixa final, "Blue": com direito à participação elegantíssima de Patti Smith nos backing vocals, a canção traz um clima soturno e desordenado, cujo tom declamatório dá abertura para a história de um poeta que é a marca de seu tempo e quer o reconhecimento geral ("I want Whitman proud. I want it all. I want sensational"). Como se a banda, apesar dos pesares, sentisse-se bem em viver os dias que correm: "This is my time, and I am thrilled to be alive. Living. Blessed. I understand". E citar a faixa de abertura "Discoverer" na reprise do disco é perceber - seguindo a ideia da colagem de auto-referências - que o presente já é passado, e que há necessidade de seguir em frente, sempre.

Um comentário: