
Talvez o ponto mais interessante desse disco seja o fato de que o REM não apresenta nada de novo, mas não faz uma obra nem um pouco repetitiva. A questão é que eles utilizam os mesmos moldes de canções desde 1981 (o EP de estreia "Chronic Town"), mas colocam e retiram elementos delas, como quem brinca de Lego ou quebra-cabeça. Assim, ouvem-se novas músicas com cheiro de passado, da "saudade de algo que eu ainda não vi". Aqui, as principais fontes para essas releituras de sua própria obra são os discos "Monster", "New Adventures in Hi Fi" e "Automatic for the People", marcados por atmosferas urgentes e, ao mesmo tempo, introspectivas.
A introspecção, por exemplo, é a marca de canções como "Oh My Heart", talvez a música mais política do disco, mas de uma maneira otimista: é o reconhecimento de que as coisas melhoraram ideologicamente desde 2008 (o R.E.M. foi uma das bandas que mais comemorou, de certa maneira, a vitória de Obama), mas que ainda há muito a ser feito. E mais: ela traz à tona a noção de que se pertencer a um lugar, em alguns dos versos mais bonitos do ano: "This place needs me here/This place is the beat of my heart".

Mas é na mensagem que a banda traz que ela melhor se estabelece: a bela "Überlin" - com bandolins que relembram "Losing My Religion" - lança à baila o questionamento: até onde vale a pena ir para conseguir o que se deseja? "Every Day is Yours to Win", por sua vez, é uma balada sentimental que lembra o clima "confortável" de "Find the River": é como se a banda, do alto de seus trinta anos de carreira, dissesse a seus ouvintes que o caminho (para o quê mesmo?) não é fácil, mas é possível.
O melhor, porém, fica para a faixa final, "Blue": com direito à participação elegantíssima de Patti Smith nos backing vocals, a canção traz um clima soturno e desordenado, cujo tom declamatório dá abertura para a história de um poeta que é a marca de seu tempo e quer o reconhecimento geral ("I want Whitman proud. I want it all. I want sensational"). Como se a banda, apesar dos pesares, sentisse-se bem em viver os dias que correm: "This is my time, and I am thrilled to be alive. Living. Blessed. I understand". E citar a faixa de abertura "Discoverer" na reprise do disco é perceber - seguindo a ideia da colagem de auto-referências - que o presente já é passado, e que há necessidade de seguir em frente, sempre.
Não é a toa que você escreve no Scream & Yell, amigo...
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