10 de abr. de 2011

A Vida Até Parece Uma Festa

Não é novidade pra ninguém que, nos últimos anos, o Brasil tem sido invadido por um punhado de shows, pra todos os gostos e ouvintes. Isso significa que desde “a maior banda de todos os tempos da última semana” quanto dinossauros do rock têm se apresentado constantemente por aqui - em alguns casos, já virou até piada: "Mas quer dizer que o Iron/o Deep Purple/o Echo & The Bunnymen vai vir DE NOVO?". Apesar das gozações, ir a uma apresentação desses artistas veteranos é observar um ambiente lotado, cheio de fãs fanáticos cantando todas as músicas, de maneira empolgada e empolgante. Algumas bandas brasileiras também têm obedecido a esse fenômeno curioso: embora um tanto quanto indulgentes em seus últimos trabalhos de estúdio, no palco elas crescem e são capazes de fazer os espectadores voltar ao passado. Foi o que aconteceu na última apresentação dos Titãs no ABC Paulista, no palco do SESC Santo André, no último sábado (dia 9).

Esse clima de "túnel do tempo" é bem perceptível logo no começo do show, quando o tecladista Sérgio Britto grita para a plateia: "De 1986, um monte de barulho pra vocês". É a deixa para que a esporrenta "AA UU" faça a alegria dos ali presentes. Durante a noite, outros petardos do acachapante Cabeça Dinossauro - que, por sinal, faz 25 anos neste 2011 que corre - vão sendo destilados pelos Titãs: "Porrada", "Família" (com vinheta de "Panis et Circensis"), "Bichos Escrotos", "Polícia" (introduzida pela cantiga de roda "Acorda Maria Bonita")... e é engraçado perceber como a mensagem que eles cantam ainda faz sentido - sendo cantada por pré-adolescentes de 12 anos e por senhores de aparência respeitável por volta dos seus 50 anos com o mesmo entusiasmo.

É claro que, entretanto, o show tem seus poréns: eles aparecem quando a banda tem o clássico momento de "cantar as músicas do novo disco", Sacos Plásticos. Foram quatro: "Amor Por Dinheiro", "Antes de Você", "Porque Eu Sei Que é Amor" e "A Estrada". As três primeiras até que não fazem feio, mas elas carecem de um problema: são os momentos mais desanimados do show, uma vez que a alma deste é a plateia. E plateia que não canta junto as músicas nova se dispersa, e fica impaciente. Algo como: "quando é que essa música vai acabar mesmo e eu vou poder fechar os olhos e me sentir jovem de novo?". Outro momento problemático do show, apesar da participação massiva dos espectadores, é quando a banda toca o constrangedor hit "Epitáfio": ali é possível se dar conta da passagem do tempo, algo que nenhum dos presentes deseja.


(Reflexão rápida: talvez não seja culpa total da banda o fato de suas canções novas não ecoarem com tanta força, mas sim "sinal dos tempos". As melhores produções da banda (o trio de ferro Cabeça Dinossauro/Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas/Õ Blésq Blom, mais o Acústico MTV) também coincidem com épocas de maior vendagem e de bonança econômica (os planos Cruzado e Real, respectivamente). Hoje em dia, os tempos são outros).

A conexão banda-público é tão forte que, ao final do show, Paulo Miklos agradece "a energia e a entrega total de vocês durante essa noite maravilhosa". Feito um coral treinado, quem assistia ao show obedece e berra com as intervenções dos artistas: são incontáveis os momentos em que se veem braços ou punhos cerrados levantados, berros nos refrãos, e palmas e coros saudando os Titãs. Um ponto a se ressaltar é que talvez ainda haja um caminho para a banda: a "recente-mas-já-um-pouco-velha" "Vossa Excelência", direcionada à "maltratada classe política", soa bem contraposta aos clássicos dos anos 80 - é grande o poder catártico de seu refrão: "Filha da puta!/Bandido!/Corrupto!/Ladrão!). (Mas a pergunta que fica é: como se manter relevante nesses dias onde as manchetes de jornais parecem dèja-vu?).

Contando com metade de sua formação original (dos nove iniciais, só restam Miklos, Britto, Branco Mello e Tony Belotto), e em decadência criativa em estúdio, os Titãs mostraram em Santo André que no palco a conversa é bem diferente. A sensação que fica, após uma hora e quarenta de show, é a de que se viu ali uma banda ainda muito ciente de suas habilidades, capaz de dar ao público grandes emoções. O problema é saber o que fazer daqui para frente: embarcar numa jornada sentimental do "revival" ou procurar se manter atuante com algo a dizer. Capacidade pra isso, os quatro membros restantes tem de sobra. Falta querer. Enquanto isso, para os Titãs e para o público, “a vida até parece uma festa”.

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