27 de jul. de 2013

De Volta Pra Casa

Já faz quase um mês que eu voltei pro Brasil, pro aconchego do lar e pra correria de São Paulo. Olhando para trás, parece que foi há muito mais tempo - alguém disse outro dia que cada mês que a gente vive parece que contém os acontecimentos de uns três anos. Filosofia de boteco, eu sei, mas faz o maior sentido do mundo se eu pensar como foram esses últimos cinco meses longe de casa. Demorei um bocado para tentar escrever sobre "a volta" porque queria esperar as coisas se acalmarem na cabeça, rever os amigos, entregar os presentes de viagem e começar a tocar o barco. Ledo engano - afinal, o mundo não espera a gente chegar e tentar entender o que tá acontecendo. Mãos à obra, então. 

Fazer intercâmbio nunca foi exatamente uma das minhas principais metas durante a faculdade. Tudo foi mais uma coincidência de fatores: a criação de um programa de bolsas de estudo na USP voltado só para o assunto, um amigo empolgado, a vontade de parar por seis meses e ver o mundo antes de mergulhar de vez na vida adulta. Olhando com os olhos do hoje, foi a melhor coisa que eu poderia ter feito.


Vocês acompanharam por aqui (e pelo Twitter e pelo Facebook) algumas das minhas desventuras pela Europa, mas algumas das coisas mais importantes que ficaram comigo talvez tenham sido aquelas que eu não falei muito sobre - leia-se: me virar sozinho.

Sem os pais por perto, eu tive de controlar minha grana (e a vontade de comprar todos os vinis legais que eu via pela frente), lavar roupa, fazer comida (uma meia dúzia de pratos repetidos ad infinitum ao longo do semestre), arrumar o quarto e limpar o banheiro, coisas que podem parecer triviais pra quem mora longe da família há tempos, mas que eu nunca tinha feito antes - isso pra não falar na barra que foi praticar o esporte nacional português, a saudade. 

Ter escolhido Portugal como país para viver foi outra decisão da qual eu não me arrependo. Primeiro, porque eu aprendi outra língua: a maneira como nós falamos no Atlântico Sul é imenso diferente (risos) da que se fala no Atlântico Norte, com suas peculiaridades, gírias e sutilezas que eu demorei para entender. Pois! A descendência e a proximidade com a cultura da terrinha foram fatores que me fizeram sentir em casa ao andar pelas ruas de Lisboa, e morar na "metrópole" por esse tempo todo me fez entender muita coisa sobre o Brasil - e aonde a gente precisa melhorar como país.

Em terra de cego, quem tem um olho... 
É estranho: em Portugal, só se falava da crise, e que os tempos ficavam cada vez mais difíceis, mas há uma qualidade de vida resguardada, certa maneira, coisa que a gente não vê por aqui. Meu melhor argumento pode ser um exemplo besta, mas que me toca muito. Aqui em SP, eu demoro cerca de 1h30 até a faculdade de transporte público. Lá, eu andava 20 minutos a pé - e nunca peguei um metrô lotado, mesmo em horário de pico. A malha metroviária de Lisboa não é gigante - mas atende dez vezes menos gente que a paulistana. 

Entretanto, sei que a minha impressão é a de um viajante pouco qualificado, que não depende da educação pública, da saúde ou dos direitos de bem estar social que o povo português esteve acostumado nos últimos anos de bonança. E é fato que a situação profissional por lá vai de mal a pior - o "Parva Que Eu Sou" dos Deolinda não me deixa mentir - mas, uma pulga atrás da orelha fica em mim toda vez que penso sobre os próximos anos no Brasil. 

Seja como for, é hora de botar a vida de novo nos eixos e seguir em frente. Afinal, é preciso se formar - e há um TCC gigantesco a se fazer - e voltar ao trabalho, não só aqui neste Pergunte ao Pop. O primeiro passo está dado: escrever esse texto. Aos poucos, vou contando, lembrando e sentindo saudades de mais coisinhas da viagem, que agora vai ficar resumida numa aba aqui em cima chamada "Turnê Europeia". Enquanto isso, bola pra frente. Sigo mandando o refrão do velho poeta: amar e mudar as coisas me interessa, agora, ainda mais.

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