27 de set. de 2011

They're (Still) Red Hot

Em post especial, o Pergunte ao Pop comenta as recentes atividades do grupo californiano Red Hot Chili Peppers: o último disco deles, I'm With You, em texto de Bruno Capelas, e a apresentação no Rock in Rio, com cobertura especial do colaborador Victor Francisco Ferreira. É preciso fôlego, mas garantimos a vocês que vale a pena ir até o final.

O Show
por Victor Francisco Ferreira

Que os Red Hot Chili Peppers fariam a apresentação mais esperada do segundo dia de Rock in Rio 2011 todos sabiam. Porém, o que esperar de uma banda com quase 30 anos de carreira e um novo guitarrista com a 'ingrata' missão de substituir a lenda John Frusciante? Muita coisa. Quem ouviu o último álbum do grupo californiano, I'm With You, percebe que o tempo e a saída de um importante integrante não lhes fizeram tão mal. E assim seguiu a apresentação do último dia 24, com um talentoso Josh Klinghoffer se esforçando para ocupar seu espaço com as músicas novas e deixar as clássicas com um pouco de suas características.

A ausência de Frusciante era mais sentida quando os seus memoráveis backing vocals não apareciam em músicas como “Otherside” e “Can't Stop”. Fora isso, a única ressalva a ser feita a Klinghoffer é a introdução de “Under the Bridge”. O riff ficou engasgado, travado e até errado. Chega a ser um crime crucificar o mais novo integrante da banda, mas para muitos fãs, crime é deixar de tocar bem uma das canções mais esperadas do show. Apesar de uma apresentação digna de uma das maiores bandas da atualidade, muitos ficaram com a sensação de ter recebido menos do que esperavam. Isso é compreensível analisando todo o contexto do segundo dia de festival.

Após NX Zero e Stone Sour, o Capital Inicial subiu ao palco no melhor horário da noite. Àquela altura, o público tinha energia suficiente para pular, cantar e festejar com as clássicas canções do repertório dos brasilienses, como “Fátima”, “Veraneio Vascaína” e “Primeiros Erros”. Com um Dinho Ouro Preto ensandecido e simpático – oferecendo águas e isotônicos a fãs que passavam mal na primeira fileira – a banda merece menção honrosa pela ótima versão de “Should I Stay Or Should I Go”, do Clash. Para muitos, esta acabou sendo a melhor apresentação do dia 24.

Após a agitação, subiram ao palco os irlandeses do Snow Patrol. Com um repertório correto, a banda fez uma apresentação competente, mas que não animou os presentes. E o erro foi da organização do festival. Estivessem colocados no fim de semana seguinte – ao lado de Coldplay, Maná, Skank, Frejat e Maroon 5 – teriam grandes chances de marcarem como um dos melhores shows do Rock in Rio 2011. Mas, tendo de lidar com um público preparado para as loucuras de Flea e o ritmo agitado dos Chili Peppers e recém-saído do contato com o Capital, o Snow Patrol só conseguiu alguma resposta do público na “famosa-que-tocou-tanto-que-já-enjoou” “Open Your Eyes” – que ainda precisou ser começada duas vezes por algum erro na introdução. Vale destacar também a bela parceria feita com Mariana Aydar em “Set The Fire To The Third Bar”.

Finalmente, chega a madrugada e os Chili Peppers sobem ao palco. Após mais de 12 horas em pé, esmagados, sob chuva e (alguns) passando mal, foi difícil para o público manter a animação em 100% do show – uma boa parte da plateia saiu ainda no meio da apresentação. Provavelmente por isso, a expectativa foi maior que a realidade. Poucos conseguiram manter-se imunes ao ambiente e aproveitar por completo a performance dos californianos.

O repertório foi variado, com destaque para o último lançamento, mas sempre relembrando álbuns clássicos como Californication, By The Way e Blood Sugar Sex Magik. À abertura, com “Monarchy Of Roses”, “Can't Stop” e “Charlie”, seguiu-se “Otherside”, que levou o público ao delírio. Em “Factory of Faith” e “Did I Let You Know” ficou perceptível a total desenvoltura com que Josh Klinghoffer tocava as músicas de I'm With You, em claro contraste à dificuldade encontrada em “Under The Bridge”. Outros destaques foram “Californication” e “By The Way” - como não podia deixar de ser.

Após uma breve retirada, Chad Smith e o percussionista brasileiro Mauro Refosco divertiram os presentes com um jogo de percussões que remeteu a baterias de escolas de samba. Por fim, “Around the World”, “Blood Sugar Sex Magik” e “Give It Away” deixaram a sensação de que, apesar do cansaço do público, o show poderia ter durado um pouco mais.

Frusciante faz falta, mas não fosse Klinghoffer seu substituto a situação da banda poderia ser pior. A apresentação foi digna, contou com alguns percalços, mas deixou os fãs satisfeitos. Os Chili Peppers continuam sendo o que sempre foram. E isso é muito bom.

I'm With You
por Bruno Capelas

Muitos são os conflitos pelos quais pode passar uma banda de rock: falta - ou sobra - de dinheiro, crise de processo criativo, desavenças amorosas, problemas com drogas... - a lista é imensa. Poucos, porém, são mais problemáticos do que quando um integrante importante morre ou deixa a banda. Há casos de bandas que aproveitaram-se disso para dar uma guinada total em seu som, como o Fleetwood Mac, e de outras que mantiveram o alto padrão, mudando coisas aqui e acolá - Frejat e o Barão Vermelho são provas disso. Outras até tentaram, mas desistiram de seguir em frente depois de um tempo, como o The Who pós Keith Moon, e muitas delas simplesmente deixaram de existir (Nirvana, Legião Urbana).

Algumas bandas, porém, tem tantos entra-e-sai que já se tornaram calejadas nesse sentido. É o caso do Red Hot Chili Peppers: mais de uma dezena de músicos já passaram por suas fileiras. Da primeira formação, porém, só restam o cantor Anthony Kiedis e o baixista Flea - o baterista Chad Smith se juntou à banda em 1988 e nunca mais saiu. Entretanto, dúvidas e mais dúvidas pairaram sobre os angelenos quando John Frusciante, guitarrista das melhores fases do RHCP, decidiu sair da banda pela segunda vez, em 2009. I'm With You, primeiro disco gravado com o novo guitarrista, Josh Klinghoffer, vem para dissipar muitas dessas incertezas comuns sobre o conjunto.

I'm With You não é – e nem tenta ser - uma grande revolução no som dos californianos – ele soa mais como uma continuação natural do universo sonoro que a banda vem construindo desde Californication, de 1999, com uma mistura bem sucedida de faixas mais agitadas (“Can't Stop”, “Hump de Bump”) com bonitas baladas (“Universally Speaking”, “Otherside”).

Apesar da grande diferença de idade – Klinghoffer tinha apenas quatro anos quando Kiedis e Flea iniciaram a banda, em 1983 – o guitarrista não faz feio. Ele obviamente não é Frusciante, mas aprendeu boa parte do que sabe com o mestre, ao ser músico de apoio nas turnês do RHCP durante muitos anos. Se, por um lado, seus solos deixam a desejar, como no primeiro single, “The Adventures of Rain Dance Maggie”, por outro ele compensa com as ótimas bases e harmonias que faz para o resto da banda brilhar – um bom exemplo disso é “Look Around”. Entretanto, a ausência de Frusciante também é sentida nos backing vocals: a voz de Josh não deixa a desejar em uma canção como “Meet Me At The Corner”, mas soa pequena se comparada à força expressiva do ex-guitarrista quando apoiava Kiedis.

Se as guitarras têm menos poder em I'm With You, seu espaço é ocupado com bom aproveitamento pelos outros instrumentos. Flea, mais do que antes, tem espaço para fazer de seu baixo o principal veículo do Red Hot Chili Peppers: é só observar a construção dedicada de linhas melódicas como as de “Factory of Faith” e da já citada “Rain Dance Maggie”. Kiedis soa versátil no álbum, dando a cada canção o clima que quiser. Ele equilibra-se entre a energia de “Ethiopia”, as rimas velozes de “Even You, Brutus?” e a carga exata de sentimento que exige uma balada sobre morte - “Brendan's Death Song”. Chad Smith, por sua vez, continua sendo a grande base da banda, brincando com quebras de andamento como quem rouba doces de uma criança.

Merecem ainda destaque duas canções que, ritmicamente, fogem um pouco ao mundo musical do Red Hot Chili Peppers: “Did I Let You Know?” e “Dance, Dance, Dance”. A primeira é um carimbó (?) da melhor qualidade, sustentado por grudentos e espertos fraseados nascidos de guitarra de Josh. Já “Dance Dance Dance” soa como se o Paul Simon de Graceland tivesse escutado By the Way, ou como se o Vampire Weekend fosse transportado para a Califórnia, graças a seus tambores vigorosos e sua atmosfera solar. É uma canção que tem de tudo para ter muita força em apresentações ao vivo, graças a seu clima contagiante.

I'm With You pode não ter nenhum hit óbvio à primeira vista, como eram “Scar Tissue”, “Snow (Hey Oh)” ou “The Zephyr Song” nos álbuns anteriores. Mas têm canções com grande força – e que podem fazer muito barulho nas rádios, em celulares e mp3 pelo mundo afora. É como se, após a pequena turbulência com a saída de Frusciante, a banda pudesse dizer em alto e bom som a seus fãs: “Continuamos com vocês”.

Fotos: 1 - Fabrício Vianna. Todas as outras: divulgação.

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