21 de set. de 2011

O Son(h)o Acabou



Existem dias comuns. E existem dias que, de alguma maneira, inexplicável, parecem ser comuns, mas acabam se tornando inesquecíveis. Um dos modos disso acontecer é quando a sua banda favorita decide que não vai mais existir.

Aqueles que já conversaram comigo um pouco sobre música ou lêem o que escrevo neste espaço e no twitter provavelmente devem saber que o R.E.M. é uma das minhas grandes paixões musicais. Eu seria capaz de dizer que, pessoalmente, acima deles, só os Beatles. Alguns amigos já chegaram a me acusar de blasfêmia quando tentei sustentar a tese que o R.E.M. é a maior banda do mundo desde o lançamento de seus primeiros dois discos, Murmur e Reckoning.

(Bons argumentos não faltam: eles lançaram pelo menos dois grandes álbuns em cada uma das últimas três décadas; auxiliaram - e muito - no caminho da "revolução Nevermind"; têm em sua formação um dos vocalistas mais versáteis do rock e um guitarrista que, apesar de fazer pouquíssimos solos, deixou sua marca pelos riffs marcantes que saíram de sua Rickenbacker; criaram videoclipes sensacionais, ajudando a estabelecer essa cultura; e influenciaram muita gente das gerações vindouras, de Wilco a Coldplay, sem falar no já citado Nirvana, só pra citar três casos rápidos).

Quando hoje pela tarde, lá pelas duas horas, li no site oficial que o trio - Michael, Peter e Mike, sem esquecer de Bill Berry, fora do grupo desde 1997 - estava se separando após 31 anos de bons serviços prestados à música, a minha primeira reação foi não acreditar e achar que era uma brincadeira. A segunda foi perceber que não era e ficar por uma boa uma hora sem completa ação, simplesmente lembrando-me de coisas e momentos que as músicas da banda tinham, de certa maneira, marcado em minha vida.

Eu não sou um fã das antigas do grupo de Michael Stipe. Desde molequinho ouvia o Out of Time, mas passei anos prometendo pra mim que iria ouvir sua discografia inteira. Só o fui fazer depois do acachapante show de 2008, no Via Funchal. É estranho lembrar dessa apresentação, marcada pela proximidade à eleição de Obama, um tema importantíssimo para o R.E.M.. Mais estranho é perceber que deixei passar batido um dos instantes mais especiais daquele show: a execução de "Nightswimming", hoje uma das minhas músicas favoritas do conjunto - e que, se tudo der certo, será o nome do romance que ainda escreverei um dia.

Lembro de tardes e tardes "perdidas" ouvindo o Automatic for the People na vitrola de um amigo, de sentir-me feliz pela primeira vez em muitos meses voltando de ônibus pra casa com "Pop Song 89", de crises de identidade superadas à base de "Find the River", de passar dias e dias tentando decifrar o que Stipe queria dizer na letra de "Catapult" e tantas outras canções de significados abertos. E vai ser difícil ouvir de novo a banda e não se lembrar de algumas lágrimas derramadas hoje.

É difícil dizer, mas ter o R.E.M. ainda existindo - e ainda sendo capaz de fazer discos bons e relevantes, como os dois últimos, Accelerate e Collapse Into Now - me fazia de alguma maneira acreditar um pouco mais na música, com toda a carga de inocência que essa frase pode conter.

É ótimo que a banda tenha acabado amigavelmente, mas meu coração de fã não fica sossegado. Eu queria mais, de uma banda que ainda tinha muita lenha para gastar: outros discos, outros grandes shows, mais canções. (É claro que nos tempos de hoje, por qualquer nada as bandas retornam e fazem shows e gravam discos. Mas é como se já não fosse a mesma coisa, uma essência se perdeu).

No comunicado oficial, Peter Buck diz o seguinte: "One of the things that was always so great about being in R.E.M. was the fact that the records and the songs we wrote meant as much to our fans as they did to us. It was, and still is, important to us to do right by you. Being a part of your lives has been an unbelievable gift. Thank you."

(Uma das coisas que sempre foi importante sobre estar no REM era o fato que muitas dos discos e canções que escrevemos significavam tanto para os nossos fãs quanto significaram para nós. Era, e ainda é, importante para nós, fazer algo para vocês. Ser uma parte de suas vidas foi um presente inacreditável. Obrigado).

Me dou ao luxo de ser piegas e sentimental: nós é que agradecemos, Peter.

No fim, ficam as canções: o son(h)o acabou.

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