Idílio, novo disco da deliciosa Marina de la Riva, pode ser encarado de dois jeitos. À moda dos antigos bolachões, divido-o em dois lados - escolha o seu, leitor.
Lado A: Idílio é um disco bonito, e isso merece ser reconhecido. Nele, a brasileira descendente de cubanos domina como ninguém a técnica e o envolvimento do ouvinte em seu canto. Os arranjos do disco também são minuciosamente bem cuidados, tramando cordas, piano e a voz de Marina de maneira atraente. A dolência e a melancolia presente nos vários ritmos abordados pelo álbum - do baião desfigurado de "Assum Preto" ao lamento de "Como duele perderte" - são facilmente compreendidas, mesmo longe do idioma português. Sinta, por exemplo, a beleza do canto de Marina no bolero "Y".
Lado B: Idílio é um disco com cara, corpo, e alma de nostalgia - de todas as suas 14 músicas, apenas uma é inédita ("Voy a tatuarme"), e a maioria delas foi escrita até os anos 60. Se te dissessem que esse disco foi feito hoje, e não em 1957, o único bom argumento seria a qualidade da gravação - uma olhada, por exemplo, na atmosfera "bar esfumaçado" de "Añorado Encuentro", explica isso bem. A nostalgia em si não é exatamente um problema, mas, descolado de seu tempo, Idílio parece fabricado de encomenda a um público que não procura algo novo, mas sim algo confortável - como um baile da saudade ou um programa da Rádio Nacional que ficou perdido no tempo-espaço.
Compacto simples - com o single do disco: Fique com o lado que você quiser, caro leitor, mas tenha uma coisa em mente: depois de uma meia dúzia de festas de debutantes e formatura, ninguém aguenta mais "Estúpido Cupido" - e não é um arranjo sofisticado que vai salvá-la.
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