O que se vai ler ao seguir (e no post anterior) é um misto de crítica, relato pessoal e diário de bordo dois dias de Lollapalooza. Para não cansar o leitor (e deixar o blog mais dinâmico) dividirei o texto em duas partes - uma para o sábado, a outra para o domingo. Fotos: Público e Foster (Liliane Callegari), Chuva (Camila Leal) e Arctic Monkeys (Focka). A parte que se segue é a do domingo. Boa leitura!
Faltava uma hora para o domingo quando o Foo Fighters encerrou seu show - mas o dia ainda estava longe de acabar. A volta para casa prometia ser tranquila, com tempo suficiente para pegar o Metrô e chegar em São Caetano antes das duas da manhã. Vale a consideração: admirável o esforço do Lollapalooza em tentar fazer um evento que terminasse em um horário no qual o transporte público ainda funcione de maneira regular. A organização do festival só não contava com a astúcia do transporte de São Paulo: o Metrô Butantã, mais próximo ao Jóquei Clube, ficou com apenas uma de suas portas abertas a partir da meia-noite, dificultando e muito o embarque e o desembarque de passageiros (no domingo, a Linha Esmeralda, que corta a Marginal Pinheiros, próxima à região do show, ficou desativada, também sendo um empecilho para os fãs). O trânsito da região também ficou caótico, com especial atenção para as avenidas Vital Brasil e Eusébio Matoso. Eu andei a pé do Jóquei até o Metrô e de lá até a esquina da Avenida Faria Lima com a Rebouças para pegar um táxi até o Paraíso - onde me cederam abrigo, cama e comida durante a madrugada. Voltei pra São Caetano só pela manhã, já quebrado - era domingo de Páscoa, e almoçar em casa era um imperativo categórico (do meu pai).
Seja pelo cansaço (que era muito), seja pela preguiça, cheguei ao Jóquei no domingo somente às quatro da tarde. Já naquela hora, os celulares continuavam fora de área - para os próximos anos, vale para a organização pensar em torres móveis que aguentem a demanda durante o festival - e a chuva ameaçava atacar. Vi o show do Friendly Fires bem de longe, enquanto aproveitava pra botar o papo em dia com os amigos que tinham vindo ontem e eu não havia encontrado. Próximo à tenda do Perry, era perceptível a confusão entre os sons dos dois palcos, atrapalhando quem estava em ambos os shows. Na hora seguinte, o céu se enegreceu e finalmente choveu. Muita gente aproveitou pra se refugiar embaixo das tendas, que ficaram pequenas, e o festival para lucrar com a venda de capas de chuva.
O show do MGMT começou mais ou menos nessa atmosfera - e só foi bacana porque fez perceber que a chuva era suportável. Foi uma apresentação burocrática, na qual os hits só empolgaram porque ali estava um público que queria ser empolgado - e olhe lá. Quando "Kids" apareceu, no meio do show, foi o sinal perfeito para a debandada para que o público debandasse em massa para o outro palco - seja para ver o Foster the People, seja para já ir se posicionando para ver os macacos árticos.
Confesso que não botava nenhuma fé no show do Foster the People. Tinha escutado o disco dos caras na época que saiu, e não entendi porra nenhuma do hype que se criou ali em cima. Só fui perceber o potencial da banda quando ouvi o bootleg de um show do Weezer na Califórnia tocando o hit "Pumped Up Kicks". Na semana passada, indo para o trabalho, reescutei o disco e achei intragável. Uma mistura de dance com rock que parecia saída diretamente de alguma casa duvidosa da Vila Olímpia.
E queimei a língua. Em palco, Mark Foster e seus companheiros foram responsáveis pelo show mais divertido do domingo - e o mais surpreendente do festival. Mostrando sintonia com a plateia e versatilidade nos instrumentos, Foster me fez descruzar os braços e sair pulando pela pista do palco Cidade Jardim com os amigos, em boas canções. O final, com "Pumped Up Kicks", foi climático, com muita gente sorrindo e se divertindo numa mesma energia.
A espera para o show do Arctic Monkeys foi tranquila. Apesar do local já estar bastante cheio, foi bem tranquilo comprar comida, bebida e ir ao banheiro antes do show. Deu tempo até de ouvir meio de longe a apresentação do Velhas Virgens (por quê, senhor?), com todos os seus clichês do rock barrigudo e bêbado. Antes que perguntem, decidi ignorar a apresentação dos Racionais - vou vê-los no SESC Pompeia no final do mês (com ingressos esgotados, mas que vale a pena ir fuçar no SESC mais próximo pra ver se não devolveram algum).
Alex Turner e seus companheiros entraram pontualmente no palco, às 21h30, precedidos pela já tradicional introdução de seus shows com "That's The Way I Like It", da KC & The Sunshine Band. O show foi aberto com a dobradinha de porradas "Don't Sit Down Because I Moved Your Chair" e "Teddy Picker", pra depois reduzir a marcha com "Crying Lightning", em uma constante que prevaleceu durante toda a apresentação. Apesar de serem donos de um dos melhores repertórios da atualidade, o Arctic Monkeys teve problemas para engrenar durante sua passagem por São Paulo - culpa especialmente de uma distância entre artistas e plateia, e de uma escolha não tão bem feita de canções para o ambiente daquele show.
Os hits que todo mundo queria ouvir - "Fluorescent Adolescent", "I Bet You Look Good on the Dancefloor", "Brick by Brick", "Brianstorm", "When the Sun Goes Down" - estavam lá, mas faltou cuidado ao escolher o recheio do show. Turner privilegiou o repertório de Favorite Worst Nightmare, segundo álbum da banda, que é bem bom, mas cujas músicas tem sonoridades estranhas que ficam meio perdidas e esparsas em um show num espaço tão aberto quanto o do Jóquei. Em compensação, tanto o primeiro quanto o mais recente álbum disco dos Monkeys poderiam ter aparecido mais durante o show - um contém canções enérgicas para fazer a galera pular, o outro tem refrões bonitos pra isqueiros e celulares iluminarem a noite sem defeito algum. No meu caso, as duas ausências mais sentidas foram as das duas cortantes baladas "Love is a Laserquest" e "A Certain Romance" - esta última, perfeita para encerrar o show, no lugar da anticlimática "505".
Se em disco os Arctic Monkeys já podem ser considerados uma das grandes bandas do mundo, em um trabalho que só vem evoluindo, eles ainda tem muita coisa pra aprender em palco. A posição de headliner me pareceu um tanto quanto incômoda à banda, como se tivessem dado um passo mais largo que as pernas pudessem aguentar. Mas isso é mais uma questão de ajuste e de convivência com a estrada do que um problema - potencial para isso eles têm de sobra, a julgar pelos bons momentos do show e pelas duas inéditas canções ("Evil Twin" e "R U Mine?", que prometem estar no próximo álbum dos ingleses).
Para uma primeira edição, o Lollapalooza se saiu bem. Trouxe ao Brasil duas grandes bandas em atividade para serem as cabeças de sua escalação (ainda que as apresentações tenham sido abaixo das expectativas), boas promessas e veteranos que mereciam ser vistos. Pecou na escalação nacional - a não ser os Racionais MCs, faltaram nomes de grande relevância que pudessem dar ao festival uma cara mais brasileira com pertinência.
A infra-estrutura merece elogios - bares sem grandes filas, lanchonetes sem muitos problemas - e puxões de orelha - distância entre os palcos e vazamento de som foram os principais pontos a serem revistos pelo festival. A escolha do lugar, se não é a ideal, é bastante pertinente: o Jóquei é um espaço bem localizado na cidade, e com espaço o suficiente para suportar um festival - a maior crítica fica para a cidade de São Paulo, ainda incapaz de fornecer à sua população estrutura para aproveitar as atrações da cidade sem se preocupar com a volta pra casa, e para o preço dos ingressos, que ainda acompanham a média-Brasil. Em 2013 tem mais - a produtora GEO Eventos, que cuidou do festival, já confirmou a edição do ano que vem.
Faltava uma hora para o domingo quando o Foo Fighters encerrou seu show - mas o dia ainda estava longe de acabar. A volta para casa prometia ser tranquila, com tempo suficiente para pegar o Metrô e chegar em São Caetano antes das duas da manhã. Vale a consideração: admirável o esforço do Lollapalooza em tentar fazer um evento que terminasse em um horário no qual o transporte público ainda funcione de maneira regular. A organização do festival só não contava com a astúcia do transporte de São Paulo: o Metrô Butantã, mais próximo ao Jóquei Clube, ficou com apenas uma de suas portas abertas a partir da meia-noite, dificultando e muito o embarque e o desembarque de passageiros (no domingo, a Linha Esmeralda, que corta a Marginal Pinheiros, próxima à região do show, ficou desativada, também sendo um empecilho para os fãs). O trânsito da região também ficou caótico, com especial atenção para as avenidas Vital Brasil e Eusébio Matoso. Eu andei a pé do Jóquei até o Metrô e de lá até a esquina da Avenida Faria Lima com a Rebouças para pegar um táxi até o Paraíso - onde me cederam abrigo, cama e comida durante a madrugada. Voltei pra São Caetano só pela manhã, já quebrado - era domingo de Páscoa, e almoçar em casa era um imperativo categórico (do meu pai).
Seja pelo cansaço (que era muito), seja pela preguiça, cheguei ao Jóquei no domingo somente às quatro da tarde. Já naquela hora, os celulares continuavam fora de área - para os próximos anos, vale para a organização pensar em torres móveis que aguentem a demanda durante o festival - e a chuva ameaçava atacar. Vi o show do Friendly Fires bem de longe, enquanto aproveitava pra botar o papo em dia com os amigos que tinham vindo ontem e eu não havia encontrado. Próximo à tenda do Perry, era perceptível a confusão entre os sons dos dois palcos, atrapalhando quem estava em ambos os shows. Na hora seguinte, o céu se enegreceu e finalmente choveu. Muita gente aproveitou pra se refugiar embaixo das tendas, que ficaram pequenas, e o festival para lucrar com a venda de capas de chuva.
O show do MGMT começou mais ou menos nessa atmosfera - e só foi bacana porque fez perceber que a chuva era suportável. Foi uma apresentação burocrática, na qual os hits só empolgaram porque ali estava um público que queria ser empolgado - e olhe lá. Quando "Kids" apareceu, no meio do show, foi o sinal perfeito para a debandada para que o público debandasse em massa para o outro palco - seja para ver o Foster the People, seja para já ir se posicionando para ver os macacos árticos.
Confesso que não botava nenhuma fé no show do Foster the People. Tinha escutado o disco dos caras na época que saiu, e não entendi porra nenhuma do hype que se criou ali em cima. Só fui perceber o potencial da banda quando ouvi o bootleg de um show do Weezer na Califórnia tocando o hit "Pumped Up Kicks". Na semana passada, indo para o trabalho, reescutei o disco e achei intragável. Uma mistura de dance com rock que parecia saída diretamente de alguma casa duvidosa da Vila Olímpia.
E queimei a língua. Em palco, Mark Foster e seus companheiros foram responsáveis pelo show mais divertido do domingo - e o mais surpreendente do festival. Mostrando sintonia com a plateia e versatilidade nos instrumentos, Foster me fez descruzar os braços e sair pulando pela pista do palco Cidade Jardim com os amigos, em boas canções. O final, com "Pumped Up Kicks", foi climático, com muita gente sorrindo e se divertindo numa mesma energia.
A espera para o show do Arctic Monkeys foi tranquila. Apesar do local já estar bastante cheio, foi bem tranquilo comprar comida, bebida e ir ao banheiro antes do show. Deu tempo até de ouvir meio de longe a apresentação do Velhas Virgens (por quê, senhor?), com todos os seus clichês do rock barrigudo e bêbado. Antes que perguntem, decidi ignorar a apresentação dos Racionais - vou vê-los no SESC Pompeia no final do mês (com ingressos esgotados, mas que vale a pena ir fuçar no SESC mais próximo pra ver se não devolveram algum).
Alex Turner e seus companheiros entraram pontualmente no palco, às 21h30, precedidos pela já tradicional introdução de seus shows com "That's The Way I Like It", da KC & The Sunshine Band. O show foi aberto com a dobradinha de porradas "Don't Sit Down Because I Moved Your Chair" e "Teddy Picker", pra depois reduzir a marcha com "Crying Lightning", em uma constante que prevaleceu durante toda a apresentação. Apesar de serem donos de um dos melhores repertórios da atualidade, o Arctic Monkeys teve problemas para engrenar durante sua passagem por São Paulo - culpa especialmente de uma distância entre artistas e plateia, e de uma escolha não tão bem feita de canções para o ambiente daquele show.
Os hits que todo mundo queria ouvir - "Fluorescent Adolescent", "I Bet You Look Good on the Dancefloor", "Brick by Brick", "Brianstorm", "When the Sun Goes Down" - estavam lá, mas faltou cuidado ao escolher o recheio do show. Turner privilegiou o repertório de Favorite Worst Nightmare, segundo álbum da banda, que é bem bom, mas cujas músicas tem sonoridades estranhas que ficam meio perdidas e esparsas em um show num espaço tão aberto quanto o do Jóquei. Em compensação, tanto o primeiro quanto o mais recente álbum disco dos Monkeys poderiam ter aparecido mais durante o show - um contém canções enérgicas para fazer a galera pular, o outro tem refrões bonitos pra isqueiros e celulares iluminarem a noite sem defeito algum. No meu caso, as duas ausências mais sentidas foram as das duas cortantes baladas "Love is a Laserquest" e "A Certain Romance" - esta última, perfeita para encerrar o show, no lugar da anticlimática "505".
Se em disco os Arctic Monkeys já podem ser considerados uma das grandes bandas do mundo, em um trabalho que só vem evoluindo, eles ainda tem muita coisa pra aprender em palco. A posição de headliner me pareceu um tanto quanto incômoda à banda, como se tivessem dado um passo mais largo que as pernas pudessem aguentar. Mas isso é mais uma questão de ajuste e de convivência com a estrada do que um problema - potencial para isso eles têm de sobra, a julgar pelos bons momentos do show e pelas duas inéditas canções ("Evil Twin" e "R U Mine?", que prometem estar no próximo álbum dos ingleses).
Para uma primeira edição, o Lollapalooza se saiu bem. Trouxe ao Brasil duas grandes bandas em atividade para serem as cabeças de sua escalação (ainda que as apresentações tenham sido abaixo das expectativas), boas promessas e veteranos que mereciam ser vistos. Pecou na escalação nacional - a não ser os Racionais MCs, faltaram nomes de grande relevância que pudessem dar ao festival uma cara mais brasileira com pertinência.
A infra-estrutura merece elogios - bares sem grandes filas, lanchonetes sem muitos problemas - e puxões de orelha - distância entre os palcos e vazamento de som foram os principais pontos a serem revistos pelo festival. A escolha do lugar, se não é a ideal, é bastante pertinente: o Jóquei é um espaço bem localizado na cidade, e com espaço o suficiente para suportar um festival - a maior crítica fica para a cidade de São Paulo, ainda incapaz de fornecer à sua população estrutura para aproveitar as atrações da cidade sem se preocupar com a volta pra casa, e para o preço dos ingressos, que ainda acompanham a média-Brasil. Em 2013 tem mais - a produtora GEO Eventos, que cuidou do festival, já confirmou a edição do ano que vem.
Eu gostei um bocado da escalação nacional. Atendeu a públicos variados (dentro das possibilidades, claro) com o pop (sim) do Rappa ao old hardcore do Garage Fuzz, que fez um ótimo show.
ResponderExcluirComo tu disse, foi uma ótima estreia, se compararmos ao outro gigante do interior paulista. O Lolla BR promete e muito para as edições futuras.