13 de nov. de 2012

10 impressões sobre Belo Horizonte

A fina arte de entender o nome de uma cidade (mesmo num dia nublado)
Se em setembro eu disse que o Rio de Janeiro é um prazer para os olhos, começo esse texto falando que Belo Horizonte é uma cidade para a boca - seja para comer os maravilhosos pratos que a culinária mineira trouxe ao mundo, para beber boas cervejas e cachaças (e o Mate Couro nosso de cada dia) ou para passar horas e horas jogando conversa fiada numa mesa de bar. (Isso para não falar no queixo caído e nas risadas que alguém consegue dar em Inhotim, mas isso é assunto para um próximo texto). 

A seguir, comento dez lugares, pensamentos, reflexões e bobagens a respeito de uma cidade que me deixou balançadíssimo em relação ao meu futuro (a ponto de reconsiderar meu amor por São Paulo), a partir dos três dias que passei por lá no último feriado de Finados, na companhia do Marcelo Costa, sua senhora, Liliane Callegari, Polly Sjobon e mais os queridos amigos Tomaz de Alvarenga, Rodrigo James, Natália Mazoni, Rodrigo Brasil, Maurício Angelo e Thiago Pereira. Ê trem bão!.

O Edifício Niemeyer
Nos confins do mundo: Quando eu era pequeno, uma das minhas brincadeiras favoritas era decorar o nome dos aeroportos de cidades ao redor do mundo. E eu sempre achava bizarro o nome do aeroporto de Belo Horizonte. "Esse tal de Confins deve ser bem longe!", pensava eu. E é: são 40km de distância até o centro de BH, e quase uma hora de viagem. Entretanto, tudo foi mais rápido do que eu imaginava, graças ao conforto (e à velocidade) do serviço de ônibus esperto que sai do aeroporto rumo à Avenida Álvares Cabral e custa apenas R$ 20. (Na ida, ele foi cenário pruma conversa animada entre eu e Polly; na volta, espaço perfeito para uma soneca após um dia inteiro de caminhadas em Inhotim). Uma belezinha. 

Liberty Square: Malas descarregadas no hotel, partimos para a Praça da Liberdade - que na sexta-feira de Finados estava tomada por zumbis de todos os tipos (incluindo um zumbi Neymar e uma dupla Mario & Luigi). Ignorando os mortos-vivos, curti bem as palmeiras altas que formam o corredor central da praça, e o coreto simpático que fica num de seus cantos. No quarteirão do lado, chapei ao ver o Edifício Niemeyer - construído entre 1954 e 1955, a construção tem desenho do seu Oscar (olha a intimidade) e parece muito um prédio charmoso aqui do centro de São Paulo. Ganha um doce de leite quem advinhar qual depois de ver a foto acima. 

Café Viena/Chopp da Fábrica/Seu Romão
Botecagem qualificada: Segundo estatísticas informais, Belo Horizonte é a cidade que mais tem bares por mil habitantes no país. O DataNoa (instituto de pesquisas ligado à Fundação Pergunte ao Pop) não comprovou se esse é um número confiável, mas este intrépido viajante pode vos dizer que a botecagem é um esporte sério na capital mineira. Em menos de 48 horas, comparecemos a três bares diferentes, contabilizando bons litros de cerveja (e Coca-Cola) consumidos, além de fartas porções e muita conversa boa jogada fora. No Café Viena, o destaque fica por conta da enorme carta de cervejas (minha favorita foi a Backer Brown) e da porção de salsichas. No Chopp da Fábrica o ponto alto é o mixido enorme e cheio de bacon (falo mais dessa instituição gastronômica mais para baixo).  Ainda vale citar a conversa que durou horas no Postinho, já em alta noite, quando tentamos definir se shows ou discos valem mais (minha opinião é que são artes diferentes que usam, por coincidência, o mesmo material: canções). No Seu Romão, no dia seguinte, a boa foi a chapa mista (aquele de tudo um pouco maravilhoso da terceira foto ao lado).

The Corner Club
Belos horizontes: Na manhã do sábado - em um passeio que se estendeu até o meio da tarde - o chofer Tomaz foi nos buscar em seu carro munido de pão de queijo e Mate Couro (a tubaína deles) para um tour expresso pela cidade. A primeira parada foi em direção ao sul da cidade, para avistarmos o belo horizonte (hã, hã?) a partir do mirante do Mangabeiras e da Praça do Papa, que ficam encostadas na Serra do Curral. Gostei mais da segunda do que da primeira (e não me pergunte por que) - e curti me imaginar tomando uns sorvetes por lá em um fim de semana qualquer. 

A Esquina: Depois de respirar muito ar puro (meus pulmões paulistanos já estavam estranhando, devo dizer), pegamos o carro rumo ao bairro de Santa Tereza, um dos mais antigos da cidade. Duas coisas muito importantes para os belorizontinos estão lá. Uma delas é o Estádio Independência, do América; a outra, a esquina mais famosa do mundo, a das ruas Divinópolis e Paraisópolis, onde Milton, os irmãos Borges e vários amigos se reuniam para cantar e tocar violão. Se você não entendeu ou não sabe do que eu estou falando, saia daqui urgentemente (e vá ouvir o Clube da Esquina). Assim como no Rio, quando tirei uma foto com a família na rua Nascimento Silva, tive de fazer o turista e posar com a placa comemorativa. Me deixa em paz, vai. 

A Igreja da Pampulha, vista de costas.
A lagoa e a igrejinha: A próxima parada do tour por BH foi para a lagoa da Pampulha - e seu conjunto arquitetônico bolado por Oscar Niemeyer (esse senhor boa praça que deve ser amigo de Connor MacLeod) a pedido do então prefeito da cidade, Juscelino Kubitschek, nos anos 1940. É um verdadeiro desbunde para os olhos - seja pelo lago artificial de 21 km de costa, seja pela igreja de São Francisco de Assis, elaborada por dois comunistas de carteirinha (Niemeyer e o pintor Cândido Portinari, que cuidou dos azulejos externos e dos murais internos da igrejinha, inaugurada em 1943, mas só aceita pela arquidiocese local em 1959). Olhando o mural, é fácil entender o receio da Igreja Católica em aceitar a construção de Niemeyer como local sagrado.

Cassino


A Casa do Baile
O cassino e a Casa do Baile: O projeto da Pampulha, entretanto, não se restringe apenas à igreja. Ele contém ainda duas construções bem bacanas: o Cassino (hoje o Museu de Arte da Pampulha, onde o Pato Fu gravou um grande DVD ao vivo), inagurado em 1943, e a charmosíssima Casa do Baile, do mesmo ano. Juntas, as duas construções representam o contraste do projeto: enquanto o Cassino seria dedicado aos ricaços mineiros, que iam lá para jogar até 1946 (quando o presidente Eurico Dutra proibiu o jogo em todo o país), a Casa do Baile seria um local de diversão popular, onde as pessoas comuns iriam para dançar e se divertir. Para os arquitetos (e os paulistanos) de plantão, é legal notar que a Casa do Baile contém um ensaio para outra construção famosa de Oscar Niemeyer. Dessa vez, dou um pedaço de queijo pro primeiro que responder qual.

O mexidoido chapado do Casa Cheia
De tudo um pouco no Mercado Central: Já estávamos mais que famintos quando deixamos a Pampulha. De volta ao centro da cidade, fomos conferir um local considerado "de turista" pelos mineiros - mas que mesmo assim merece um lugar no seu passeio pela capital mineira -, o Mercado Central. A primeira parada por lá foi no Casa Cheia, onde provei o segundo mixido da viagem. Mixido, explicando de uma maneira didática, é aquele famoso "tudo que sobra" do almoço (arroz, carne, couve) cozido de novo em uma frigideira, com o acréscimo de ovo, bacon, linguiça, farofa e o que mais couber. O do Mercadão Central, por exemplo, vinha com várias verduras e até milho, e custava R$ 22 para uma porção para uma pessoa (ogra, como eu). De barriga cheia, deu tempo ainda de bater perna pelo mercado (que me lembrou seus semelhantes no interior paulista, onde é possível achar desde galinhas vivas até anabolizantes), e comprar queijo e doce de leite pra mãe. 


O San Francisco, do Eddie Fine Burgers
O melhor hambúrguer da cidade: Se eu tiver de dar apenas um conselho para quem vai a BH, digo que vá de barriga vazia e preparado para comer bastante. Depois da chapa mista do Seu Romão (que vocês viram lá em cima), ainda tive tempo para conhecer um dos hambúrgueres recomendados pelos amigos, o Eddie Fine Burgers, na filial da rua da Bahia. E gostei muito do que vi: por R$ 24,50, com direito a batatas fritas fininhas acompanhando, o San Francisco é um lanche de muito respeito, com um bom pão, queijo bem derretido e uma salada bacana (mas dispensável: como eu disse no Finnegan's, salada serve para você limpar a fita com a mãe). O destaque (e todo o charme) do lanche fica com a carne, uma das mais saborosas que já comi - sangrando demais e muito bem temperada. A lamentar, apenas a falta de carinho que os mineiros têm com a maionese - quando perguntei por ela, me ofereceram diversos sachês de Hellmann's. 4,25 fatias de bacon pro San Francisco, que ele merece!

"Da janela lateral/do quarto de dormir..."


Três garotas: Os nove tópicos acima tentam dar conta do porquê da minha paixão por Belo Horizonte, mas acho que ela precisa ser complementada aqui. Meu coração paulistano não me deixaria viver em uma cidade pequena, mas confesso que às vezes a bagunça e o caos de São Paulo me deixam um tanto enjoado. Em BH, encontrei uma cidade que é grande o suficiente para ter lugares legais pra ir, gente bacana para conhecer e infraestrutura razoável; mas com um clima de cidade pequena, com avenidas arborizadas, ruas cheias de casas e sobrados e sem o frenesi todo que há por aqui. Mal comparando, a coisa funciona mais ou menos assim: São Paulo é aquela garota feia, mas charmosa e boa de papo; o Rio, por sua vez, é uma modelo capa de revista que faz você e todos os seus amigos babarem, mas pode ser difícil de conviver no dia-a-dia. BH me parece um bom meio termo entre as duas: a guria bonita que poucos caras da sala de aula prestam atenção, mas sabe o que dizer e como dizer. E mais: cozinha bem que é uma beleza.

Todas as fotos por Bruno Capelas

3 comentários:

  1. Só uma correção. Porque obviamente quem te levou ao local foi um americano.

    Onde está "Uma delas é o Estádio Independência, do América"

    eu trocaria para

    Uma delas é o Estádio Independência, do América, que agora também é a casa do Atlético, o GALO MAIS DOIDO DO MUNDO, O TIME QUE MAIS JOGOU FUTEBOL NO BRASIL EM 2012"

    Claro, estou sendo bem imparcial.

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  2. Apenas gostaria de reforçar o comentário acima!

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  3. valeu pela AJUDA no trabalho curti !!!

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