26 de ago. de 2013

Criaturas da Noite: O Terço ao vivo em SP

A noite do último sábado, 24 de agosto, era mais que propícia para um retorno honroso aos tempos em roqueiro brasileiro tinha cara de bandido - e (quase) não tocava na rádio. Pelo menos na zona leste de São Paulo, onde o grupo mineiro-carioca O Terço se reuniu no palco do teatro do SESC Belenzinho para mostrar a seus fãs um novo espetáculo, pronto para celebrar as quatro décadas de carreira do grupo: "O Terço em 3D".

Logo à entrada, um temor: uma simpática garota da produção do local distribuía óculos 3D confeccionados especialmente para a ocasião - como se o espectador estivesse adentrando uma sessão especial de "Avatar".

Mais do que simplesmente uma apresentação musical, "O Terço em 3D" funciona com dois espetáculos simultâneos: atrás da banda, e sincronizada a ela, há uma projeção em 3D pré-gravada com a banda tocando seus clássicos, em um repertório formado principalmente pela dupla de álbuns Criaturas da Noite e Casa Encantada. O objetivo é interessante, apesar de parecer mero fetiche para fãs de rock progressivo e efeitos visuais (e dá-lhe passarinhos, explosões e notas musicais voando pelo recinto), mas acaba por atrapalhar a banda no seu melhor.


No começo de todas as músicas, é possível perceber um metrônomo e uma contagem dos músicos para que o que se faz no palco esteja no mesmo passo do que se vê na tela. Pode parecer um paradoxo, mas uma das coisas mais legais no progressivo, se bem dosada, é o improviso - algo que justamente não pode acontecer nesse show, graças ao engessamento causado pelo vídeo. Mais que isso: ao passar do show, tentando perceber as similaridades entre realidade e projeção, o espectador pode ter a impressão de um possível playback - o que não acontece, como se pode perceber em "Criaturas da Noite".

Mesmo assim, o revival setentista na zona leste contou com bons momentos, a começar pela introdução caprichada da apresentação com a climática "1974", uma viagem delirante de quase 13 minutos. Outro ponto forte foi a participação do guitarrista Cezar de Mercês, ex-integrante da banda, que se juntou aos velhos companheiros Sérgio Hinds (guitarra), Flávio Venturini (teclado e violão) e Cláudio Magrão (baixo) para uma quase-acústica roda de violão.



Em músicas como "Pássaro", "Queimada" e "Foi Quando Eu Vi Aquela Lua Passar", o lado mais folk do grupo se ressalta e funciona muito bem, apesar de certo desacerto entre as vozes dos quatro - especialmente a de Venturini, que apesar de bela, mostra-se cansada ao decorrer do show.

Que se permita aqui um pequeno aparte, mas talvez a apresentação d'O Terço no SESC Belenzinho seja uma ótima explicação sobre os vícios e virtudes do rock progressivo: assim como um resumo do gênero, o show de Hinds & cia. merece reconhecimento por sua ousadia, mas peca pela megalomania tecnocrata com que se exibe. Talvez, com menos firulas e mais aproximação com a entusiasmada platéia, a viagem de volta a 1974 poderia ter sido mais suave e proveitosa. Talvez.

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