6 de abr. de 2013

Ó, Pá: Ivan Lins e Flávio Venturini em Lisboa



Um é carioca, o outro é mineiro. Ambos tocam teclado, tem vozes agudas e começaram suas carreiras nos anos 1970. Entretanto, as semelhanças param por aí: o primeiro notabilizou-se por canções de protesto, cantadas não só por ele mas também por Elis Regina, enquanto o segundo teve seus melhores momentos na carreira com pop songs influenciadas por Beatles e Milton Nascimento. Juntos, eles poderiam ter protagonizado uma noite que poderia ser inusitada, mas acabou sendo apenas tétrica. E esse é um jeito mais ou menos simples de definir o encontro entre Ivan Lins e Flávio Venturini, em show realizado em Lisboa na última sexta-feira (5), no Espaço Brasil, como parte das comemorações do Ano do Brasil em Portugal. 

Com lotação máxima, o espetáculo começou com cerca de vinte minutos de atraso em um galpão charmoso - o Espaço Brasil fica na LX Factory, um conjunto de construções que serviam anteriormente como armazéns dos portos de Lisboa, lembrando muito o paulistano SESC Pompeia - embalado por duetos entre os dois com um repertório definido por Ivan Lins como "feito pra fazer moça chorar". Só se for de desgosto. 

Muita calma com o mau humor, diria o leitor. Explicamos: como todo artista com décadas de estrada (e sem desenvolver trabalhos de sucesso ou de relevância nos últimos dez ou quinze anos), restava a Ivan Lins e Flávio Venturini fazer um show revivalista de suas carreiras, executando seus hits pra fazer moça sorrir, se arrepiar e jogar os bracinhos lá no céu. O problema é que todo espetáculo desse tipo pede uma escolha apurada de repertório, e é nesse momento que faltou felicidade a ambos. 

Venturini ainda bem que tentou: em sua parte do show, ele até tocou dois ou três hinos do pop mineiro (as suas "Espanhola" e "Todo Azul do Mar", gravadas com 14 Bis, e a homenagem "Clube da Esquina nº2"), mas o que se sobressaiu foi mesmo o pior de sua obra. Leia-se: baladas água com açúcar evocando condições metereológicas diferenciadas, como "Noites com Sol" ou "Tarde Solar". Além disso, foi complicado (e até um bocado triste) ver o ex-tecladista d'O Terço desafinar e sair do ritmo em uma meia dúzia de vezes durante o show (assista o vídeo abaixo de "Espanhola" e entenda"). 

Já Ivan Lins foi além: em vez de fazer o simples, ele resolveu colocar um champignon (isso é, tempero jazzístico mala) e e caviar (fados novos que não chegam a lugar nenhum, homenagens constrangedoras a Tom Jobim) na sua receita, esquecendo do feijão com arroz (onde ficaram "Somos Todos Iguais Essa Noite" ou "Vitoriosa" ou "Cartomante"?) e deixando o bife passar demais na chapa (em uma versão aceleradíssima e quase incompreensível de "Dinorah Dinorah"). Não era difícil acertar, mas o carioca fez questão de errar. 

Muitas vezes, um show se percebe em detalhes: e quando há dois grandes tecladistas em palco, perceber que quem brilha instrumentalmente na festa é o guitarrista é mais que sintomático. Deixo aqui os vídeos para vocês entenderem - ou não.



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