27 de mai. de 2012

Burn This City





Antes que perguntem, ou comentem da falta desse aspecto no texto, deixo bem claro: o que se lerá nas próximas linhas é o registro do que aconteceu comigo neste domingo, no Cultura Inglesa Festival. Não vi os problemas com a fila, não vi a PM atuando (mais uma vez) de maneira absurda, não vi a reação das pessoas quando fecharam os portões do Parque da Independência. Um relato bem pessoal, pra variar. We hope you enjoy the show

Pelo segundo ano consecutivo, o Cultura Inglesa Festival promete brigar forte pelo título de "melhor evento do ano" em São Paulo. Se no ano passado as apresentações de Miles Kane e Gang of Four fizeram a festa para um Parque da Independência à meia lotação, em 2012 as coisas ficaram ainda melhores, com o grande (realmente grande) show do Franz Ferdinand. Ao contrário de 2011, quando cheguei cedo para ver as atrações nacionais (Cachorro Grande fazendo The Who e Mockers tocando lados-B dos Beatles), me encontrei no Parque do Ipiranga somente lá pelas duas e meia da tarde, após uma caminhada longa vindo da estação Ipiranga da CPTM. Não foi atraso, apenas um cálculo: queria chegar ao local dos shows sem correr o risco de ouvir um sequer acorde da Banda Uó tocando Smiths. "Rosa", cover de "Last Nite" que os goianos fizeram ano passado, já me dá calafrios - imagine o que eles fariam com "How Soon is Now?", "Ask" e outros petardos?



Enfim... debaixo de sol forte, encarei a fila, que dobrava a Rua Patriotas, descendo pela Avenida Nazaré. Na meia hora que esperei por ali, ouvi ecos do show do Garotas Suecas fazendo Stones, que parecia surpreendentemente bem bom, e a fiscalização da prefeitura de São Paulo correndo atrás dos poucos ambulantes que vendiam cervejas e águas que refrescavam a espera. Na revista, minha câmera (a Cybershot tosca velha de guerra) passou incólume pelo policial, que ainda puxou papo, perguntando se eu tava levando sexo e rock'n roll na mala (já que as drogas não podiam, "né?").

Na entrada, era possível sentir a vibração de um ambiente legal (baita papo espiritualista, mas é verdade, juro). O sol tinha dado uma abaixada, e a vista superior do Parque da Independência agradava demais aos olhos, enquanto as caixas de som tocavam a clássica "Money for Nothing", dos Dire Straits. Encontrei os amigos, e resolvi fincar lugar em um morrinho próximo ao palco. Apresentados com a piada infame de Edgard Piccoli (sim, eles tem uma banda!), o We Have Band fez um show morno, que não desagradava os ouvidos, mas não fazia lá muita diferença na vida. Joguei uma blusa velha no gramado, e resolvi deitar olhando o céu, o que deve ter melhorado a apresentação da banda inglesa em uns 135,7%.



Nesse mesmo clima levei o show do The Horrors - aproveitando para um piquenique comunitário (dividindo os salgadinhos e as bolachas que levei na mala com os amigos) e recarregar as garrafas - por meio de um caminhão pipa, o festival distribuía água de graça. O grupo até que não fazia feio, com direito a boas paredes de guitarras no final do show, mas seu som "com um lance gótico" (termo de PICCOLI, Edgard) destoava um pouco do sol que caía na tarde de São Paulo.

E então chegou o arquiduque. Alex Kapranos e seus comparsas subiram ao palco do Parque da Independência com cerca de 15 minutos de atraso, mas que foram justificados logo no começo do show. Foi bonito, bem bonito de ver a galera perto do palco sincronizada nas palmas em "Do You Want To?" e cantando o corinho esperto de "Walk Away", pra não falar na animação generalizada em "No You Girls" e no hitzaço-pra-todas-as-horas "Take Me Out".



Em pouco mais de uma hora e meia de apresentação, eles provaram que são uma das grandes bandas da década - e que ainda tem muita estrada pela frente, a se considerar pelas novas canções apresentadas hoje. (Uma em particular, com um refrão anos 60, muito me agradou).  No bis, quando eu achei que nada mais fosse acontecer, o Franz Ferdinand fizeram um dos finais de show mais legais que eu já vi (perdoem a pouca idade), incendiando a plateia (clichê #35 desse texto) com "This Fire". 

Se do lado de fora, rolava a Primeira Guerra Indie (perdoem a piada) entre a PM e o povo que foi barrado pela organização (uma história que ainda precisa ser desvendada direito), lá dentro tudo fazia sentido. É de se aplaudir uma iniciativa como a da Cultura Inglesa, trazendo bons shows a São Paulo, em um lugar sensacional e pouco visitado (ouvi pelo menos umas dez vezes a frase "nossa, como é bonito aqui, nunca tinha vindo"), e respeitando o seu público (a distribuição de água é algo que deveria ser adotado para todos os festivais do mundo).



A escalação podia ser mais coerente - não conheço ninguém que tenha ido ao Parque da Independência só pra ver We Have Band ou Horrors - mas merece destaque numa cidade que cobra quase 300 reais para ver Arctic Monkeys (em show que deixou a desejar, combinemos). Alguém me perguntou: mas o que a Cultura Inglesa ganha pagando esse festival? Eu respondi: a memória das pessoas de participar de um evento bacana, bem pensado - e que não para apenas nesse show, mas em uma série de atividades interessantes. E não sei se pra vocês, mas pra mim, uma boa memória como a de pular dançando à maneira russa com meus amigos ao som de "This Fire" vale muito.

Fotos por Bruno Capelas

2 comentários:

  1. Não tinha reconhecido o Edgard haha. E apesar de pra você não ter faltado, o lance de não poder vender comida lá dentro é discutível. Mas foi um ótimo domingo. Faltou o seu Oswaldo.

    Ps. O Féd "foi só pra ver 'The Horrors'"

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  2. Não me incomoda não vender comida lá dentro se eu posso levar comida de casa. Sai bem mais barato - e só uma questão de se preparar para ir a um show, como é pensar como se vai embora dele, ou com que roupa se vai.

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