4 de mai. de 2012

À Procura da Balada Perfeita

A carreira de certos artistas, por vezes, pode ser reduzida a apenas uma questão. O caso do inglês Noel Gallagher é um deles: pode se perceber em toda a sua discografia que ele está à procura da balada perfeita, que seja capaz de enternecer - ou partir ao meio - todos os corações da face da Terra. Sua apresentação em São Paulo, na última quarta-feira, ilustra muito bem essa busca incessante feita ao longo dos últimos vinte anos, em um capítulo especial, após o término do Oasis, em 2009. 

No Espaço das Américas, Noel Gallagher abriu os trabalhos da noite com duas mornas canções do Oasis, "(It's Good) to Be Free" e "Mucky Fingers", para depois puxar o carrilhão de canções de seu primeiro disco solo, Noel Gallagher's High Flying Birds, lançado no ano passado. "Everybody's On The Run", a primeira delas, foi recebida com certo louvor pelo público, fiel ao cantor. A receita funcionou bem pelas músicas seguintes, com o destaque para o bonito coro em "If I Had a Gun..." e o clima ensolarado da preguiçosamente roqueira "The Good Rebel", lançada apenas como lado-B. Outro bom acerto do álbum, o single "The Death of You and Me", apareceu na sequência, encantando com seu clima de musical. 

Ao longo da noite, Noel mostraria outra meia dúzia de baladas interessantes - ou de rascunhos do que poderiam ser baladas interessantes. É como se ele entregasse a seu público, de maneira quase desleixada, não só os trabalhos finais - "Talk Tonight", "AKA... What a Life!", "(I Wanna Live in a Dream In My) Record Machine)" - mas também alguns rascunhos que acabaram passando sem querer pelo controle de qualidade - "AKA... Broken Arrow", "Soldier Boys and Jesus Freaks". E isso acaba gerando um problema quando tantas canções parecidas aparecem em um show - a impressão era de se ouvir "Wonderwall" umas quatro vezes na noite, pelo menos, sendo que esta foi uma das ausências mais sentidas. 

Entretanto, se por um lado Noel deixa passar algumas canções que não merecem tanta atenção, por outro, quando ele acerta, é certeiro em deixar a plateia em estado de êxtase. Foi o que aconteceu em "Supersonic" - dois homens, já com os seus trinta e poucos anos, suspiraram ao meu lado: "ah, mas que saudade dos anos 90" - , e o que aconteceu em "Talk Tonight", e o que aconteceu de novo em "Half the World Away". E o que aconteceria no bis, pelo menos duas vezes: na nova "Let the Lord Shine a Light on Me", com sua pegada que lembra o All Things Must Pass de George Harrison, e talvez em sua melhor balada, "Don't Look Back in Anger". Nela, era possível ver a alma da plateia pairando em outro lugar - lágrimas e mais lágrimas foram derramadas. 

Muita gente boa por aí - vale ler a resenha de Leonardo Vinhas para o Scream & Yell - disse que o show foi bom, mas poderia ter sido bem melhor, porque Noel é um homem que pode bem mais do que fez no palco do Espaço das Américas. Faz sentido, mas o motivo pelo qual considero este até agora o melhor show do ano (confira comigo no Top7 ao lado) é puramente pessoal: eu nunca dei muita bola para o Oasis.

Na época que eu comecei a gostar de música a valer, a banda estava em sua pior fase - lá pelo começo dos anos 2000 - e parecia uma ofensa pessoal toda vez que saía uma declaração do Liam sobre eles serem a melhor banda do mundo. Demorei anos e mais anos para curtir "Wonderwall" ou "Live Forever" com a devida atenção, mas adorei Noel Gallagher's High Flying Birds, a ponto de gritar "Noel, Noel, Noel" durante o show do Beady Eye, no Planeta Terra do ano passado. A noite de quarta-feira, entretanto, funcionou como uma rendição total - há dois dias eu não escuto outra coisa senão Definitely Maybe e (What's the Story) Morning Glory?. E o prazer de descobrir canções incríveis, ainda que com tamanho atraso, valeu à pena. 

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