21 de out. de 2012

10 impressões sobre o Planeta Terra 2012

Expectativa é um negócio que mexe com a gente como o diabo. Se essa frase vale muito para a vida, vale mais ainda para esse tipo de reunião entre seres humanos chamada festival de música pop. Um exemplo: no semestre passado, empolgadíssimo com o Lollapalooza, acabei por razoavelmente me decepcionar com o resultado. Por outro lado, com o Planeta Terra 2012, minha maior esperança era ver um show bacana do Suede, uma banda que, confesso, nunca tinha escutado até dois meses atrás. E, pra variar, acabei me surpreendendo com o festival. Nas próximas linhas, tento contar em 10 textos rápidos o que rolou ontem, no Jockey Club de São Paulo. 

Chove chuva, chove sem parar: Assim como no Lollapalooza, o melhor jeito para se chegar ao Planeta Terra era indo de metrô até a estação Butantã, e de lá seguir a pé por mais de um quilômetro até o Jockey. Assim que coloquei o pé na Avenida Vital Brasil, uns quinze ambulantes já me abordaram vendendo capas de chuva. Comprei uma por precaução, mas tentei resistir bravamente à chuva chata que caía - e que ameaçava pôr em risco toda a diversão do Festival. Quase pensei comigo mesmo: 'Tô ficando velho. Festival que se preze tem que encomendar um sol bonito pro Cacique Cobra Coral', mas aí lembrei de Woodstock e achei que eu tava ficando velho mesmo.

Mallu quase mulher: E foi debaixo de lágrimas e chuva que rolou o primeiro show que vi no Planeta Terra. Com um vestido azul longo e muita graça, Mallu Magalhães chorou na primeira música (e ficou linda com a maquiagem borrada, vale dizer), mas foi só alegria depois disso. Que fique bem claro: Mallu ainda tem muito feijão pra comer antes de se tornar uma grande cantora, mas está crescendo no palco - "Velha e Louca" e a cover de "Me Gustas Tu", de Manu Chao, são provas disso. Daqui a uns cinco anos, três discos depois e um pé na bunda no Marcelo Camelo, boto fé que vou aplaudi-la de joelhos. 

Cada década tem a Juliana Hatfield que merece: a referência é obscura, mas vamos lá. Juliana Hatfield, pra quem não se lembra - ou nunca ouviu falar da moça - é uma cantora dos anos 90, e ficou conhecida por suas músicas fofas, com refrões mais ou menos fáceis (embora óbvios) e cheios de guitarra. Ela também teve um namoro breve com Evan Dando, o vocalista dos Lemonheads, e chegou a fazer backing vocals em It's a Shame About Ray, pérola pop do grupo de Dando. Digo tudo isso só pra explicar que o Best Coast, da fofa Bettany Florentino e do japa-nerd Bobb Burno, é a versão anos-10 de Juliana. Ali, no Terra, até que foi um show legal, especialmente quando a chuva deu uma trégua e o sol se abriu. Mas duvido que a banda resista bem nos meus fones de ouvido. 

Flagrei o preparo do meu temaki. Ainda estou vivo,
o que me parece ser um bom sinal. 
Pode ser o caralho: Findo o show do Best Coast, era hora de forrar o estômago antes da apresentação do Suede. Fui até o caixa, comprei rapidamente minhas fichas e rumei à barraca de bebidas, sonhando com uma Coca-Cola gelada. Mas recebi em troca apenas o pior slogan publicitário da face da Terra: "Pode ser Pepsi?". Uma pausa para um piti: sério, donos de estabelecimentos ao redor do mundo, quanto vocês estão ganhando para que seus garçons se humilhem a tal nível? E ainda não tinha Soda, de maneira que me contentei com um guaraná Antarctica (o que não é exatamente ruim, mas né). Na hora de comer, fui mais corajoso e pedi um temaki - a 12 dilmas, bem decente. E...

O pior hambúrguer da cidade. Sério. 
O pior hambúrguer da cidade: Um Hot Pocket Extreme Burguer. Prós: ele vem quentinho, demora menos de 30 segundos para chegar à sua mão, e, querendo ou não, é comida. Além disso, não xinga a mãe de ninguém e custa oito reais. Contras: sabe quando você sente que está sendo enganado? É bem isso: a carne não é carne de verdade, o queijo não está derretido de verdade e tem algo ali que deveria ser um molho, mas é só um líquido estranho e meio gosmento (que tem um sabor inexplicável). No texto mais rápido da história do Melhor Hambúrguer da Cidade, uma fatia de bacon tá mais que justa para um lanche que, se estivesse no lineup do Terra, só superaria a Banda Uó. 

Tudo veludo: Há dois meses, eu não os conhecia. Há um mês, eu já considerava a possibilidade de flutuar vendo-os no palco. Nem tanto ao mar, nem tanto ao ar, a verdade é que Brett Anderson e seus companheiros do Suede fizeram o melhor show do Terra, apesar das guitarras baixas e da pouca empolgação do público do festival, que estava ali no gargarejo para ver o Garbage e o Kings of Leon. É impressionante ver a presença de palco que tem Brett, com todos os seus rodopios de microfone, ataques de diva e movimentos incessantes, para não falar na boniteza do que foram "Animal Nitrate", "So Young" e a baladaça "The Wild Ones" ao vivo. Mas ficou a sensação de que em um espaço fechado, com som decente e galera excitada só pelo Suede, a noite teria sido tudo veludo para o homem que, diz a lenda, chifrou Damon Albarn.  (Pra quem quiser ver o show completo, segue o link)



Felizes até sem chuva: Mais de 24 horas após o show do Garbage, ainda tento entender o que se passou com as minhas amigas (e as mulheres em geral) naquele momento - perdi a conta de quantas vezes ouvi: "Ai meu deus, Shirley Manson está me fazendo por em risco minha sexualidade". Seja como for, quase vinte anos depois de lançar Garbage, aquele disco da capa rosa, o quarteto de Wisconsin mostrou muita vitalidade no palco, cada um à sua maneira. Destaque para a mão pesada de Butch Vig (que admitiu adorar o VINHO brasileiro), a elegância de Duke Erikson e a postura marcante de Shirley Manson, que botou pra quebrar em bons momentos como "Push It", "Stupid Girl" e o hit "Only Happy When It Rains", que contou com um início climático e dinâmica explosiva. Só fiquei na saudade de ouvir "Supervixen", uma das melhores pausas do rock'n roll, segundo Jennifer Egan

Saudade da Looping Star?: Uma vez que não fiquei no Jóquei o suficiente para escutar o Kings of Leon revirar meu estômago com seu rock paumolescente, me pus a pensar no caminho do metrô se eu estava com saudades do Playcenter. A bem da verdade, não. Em termos de localização, o Jockey ganha bem do parque de diversões, e o Terra soube bem usar a estrutura do parque à margem do rio Pinheiros, com uma disposição de palcos e serviços enxuta. Poucas filas para comprar fichas, pegar suprimentos e ir ao banheiro persistiram como ponto alto do festival - o que me faz dizer que o Terra continua sendo o melhor do país em termos de infra-estrutura. (Uma pena, entretanto, não poder andar de carrinho tromba-tromba ou ignorar um show em troca de um rolê de montanha russa, viu). 

Identidade: Entretanto, utilizar o mesmo local que o Lollapalooza pode gerar um problema de identidade para o Planeta Terra. Eu - e muitos amigos - comentamos que, assim que entramos na areia do Jockey, pensamos que íamos ver o Foo Fighters de novo ou algo do tipo, em um espaço menor. Entendo que pode ter sido uma solução (bem ajustada) de última hora, mas devem existir outros bons lugares em São Paulo para um grande festival. Figurinha repetida não completa álbum. 

"A expectativa é do tamanho da decepção": uma das frases mais repetidas e sábias do meu velho pai me ajuda a explicar o Terra. Retomando o que eu disse no começo desse post: o lineup desse Planeta Terra talvez tenha sido o mais fraco desde a primeira edição do festival, que teve o Kasabian como headliner e o Devo como banda veterana da vez. Faltou ao Terra pensar em um show de encerramento de respeito (Kings of Leon não vale nem aqui nem na China), e talvez investir ainda mais em bons números nacionais (como Tulipa, Nevilton e Apanhador Só, três shows de pegada que poderiam encantar a galera durante o dia). Entretanto, a boa infraestrutura do festival, a força de Shirley Manson e o charme de Brett Anderson foram suficientes pra guardar um sorriso no rosto na saída para o metrô. Planeta Terra, nos vemos em 2013. 

Fotos: Suede e Garbage (Liliane Callegari), Temaki, Hambúrguer, Pessoas e Mallu (Bruno Capelas).

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