10 de jan. de 2012

Melhores 2011: 20 Discos Nacionais

Pra você que não percebeu, o Pergunte ao Pop tá de cara ligeiramente nova (saímos da versão p&b para o colorido), junto com a virada do ano. Aqui, damos prosseguimento conforme doravante datavênia ao especial melhores de 2011. (aqui você pode conferir as 20 músicas nacionais) Os nomes de discos que tem link remetem a textos longos (publicados aqui ou no Scream & Yell) deste autor. Sem mais delongas, os 20 discos nacionais do ano.



20 - Bixiga 70, Bixiga 70

O 70 do nome da banda é apenas o número da casa onde seus integrantes moram em São Paulo, mas também serve como indicativo temporal das referências da banda. Do funk americano aos sons tropicais de Egberto Gismonti (da fase brasileira, pré-ECM), passando pelo afrobeat e pelos ritmos latinos, nada escapa à força instrumental do Bixiga 70. Um disco pra esquecer ligado na vitrola e sair dançando por aí.


19 - Violins, Direito de Ser Nada

Após passar por diversos vais-e-vens no que diz respeito ao futuro da banda (ora termina, ora continua), e com diversas mudanças em sua formação nos últimos anos, o Violins lançou em 2011 Direito de Ser Nada. O sucessor de Greve das Navalhas, de 2010, continua narrando prossegue narrando as angústias que pairam o cotidiano do homem contemporâneo, marcado por dubiedades e incertezas. A dobradinha "Nossos Embrulhos" e "Medo de Dar Certo" merece muito respeito.


18 - Marcelo Camelo, Toque dela

Camelo encontra o amor - e um caminho interessante musicalmente falando - nesse Toque dela. O disco paulista do hermano é marcado por melodias suaves, e muitas delas em tom de promessa de amor, fazendo quase não reconhecer os tempos em que o Humbert Humbert do indie brasileiro dividia o palco com Amarante. O grande destaque do disco é a reconfortante "Três dias", parceria de Camelo com André Dahmer, responsável pelas tirinhas do Malvados.

Ouça: "Três Dias"

17 - Quarto Negro, Desconocidos

Gravado em Barcelona, Desconocidos é um disco cheio de climas bacanas e camadas sonoras que à primeira vista soam com estranheza, mas depois vão conquistando cada vez mais o ouvinte. Bonita estreia da banda paulistana, com destaque para "Nosso Primeiro Divórcio" e a espacial "Vesânia I (Cabo Horn)".


16 - Flávio Renegado, Minha Tribo é o Mundo

Se o momento atual do rap brasileiro veio pra ficar ou não - isso pra não falar se o que tem sido visto hoje em dia com Criolo e Emicida é uma "revolução - é uma incógnita. O que é interessante perceber é como outros trabalhos tem espaço nessa buena onda: é o caso do mineiro Flávio Renegado, cujo Minha Tribo é o Mundo traz outro sotaque a esse cenário, com outra pegada e outras influências. Vale a pena ouvir a good trip de "Suave", na sedução de "Qual é o nome dela?" e na climática "Tempo bom".



É possível dizer que se esperava bem mais da segunda aparição de estúdio de Hélio Flanders e seus companheiros. Boa Parte de Mim Vai Embora pode ter decepcionado quem esperava um disco tão forte e impactante quanto a estréia homônima, de 2007, mas contém alguns bons momentos - especialmente quando Reginaldo Lincoln assume os vocais, em "Onde Você Parou" e "...das Lágrimas". O melhor momento do álbum, porém, fica na abertura, com a mezzo bolero mezzo Jovem Guarda "Mi Vida Eres Tu".


14 - Gui Amabis, Memórias Luso Africanas

O título tem um jeitão de disco conceitual - o que não deixa de ser verdade - mas Memórias Luso Africanas funciona melhor como uma boa coleção de canções que o produtor Gui Amabis registrou neste álbum. O auxílio luxuoso de três nomes da cena indie paulistana também ajudam bastante nesse sentido: o charme meigo de Tulipa Ruiz na dupla "Sal e Amor" e "Ao Mar"; a sensualidade matreira de CéU em "Swell", com cheiro de maresia; e a força de Criolo em "Para Mulatu" não devem ser ignoradas no seu alto-falante em 2012.

13 - Transmissor, Nacional

Na primeira vez que ouvi falar da Transmissor, o grupo mineiro foi comparado ao Ludov. A relação faz sentido: ambos os conjuntos têm uma garota no vocal, mas que reveza os microfones com outros dois rapazes, e fazem acenos muito fortes à música do passado. Entretanto, o que na banda de Vanessa Krongold ecoava Jovem Guarda e o rock alternativo dos anos 90 (e o começo dos 00), aqui aparece na forma de Paul McCartney, neofolk e Clube da Esquina. Nacional é responsável por alguns dos momentos mais adoráveis de 2011: "Bonina" - que apareceu no top20 deste blog -, a baladona "Dessa Vez" e a ensolarada "Só Se For Domingo", com direito a assovio e clima de festa no final.

Ouça: "Dessa Vez"

12 - Driving Music, Comic Sans

Quando percebi que o Driving Music era uma banda brasileira que canta inglês, torci o nariz (aquela velha questão que o Renato Russo aborda no Acústico MTV). Entretanto, essa barreira não foi suficiente pra deixar de lado o disco, filho bastardo de trabalhos como Yankee Hotel Foxtrot, do Wilco, e Either/Or, do finado Elliott Smith. Pelo menos é o que dá pra sentir em músicas como "Orange Traffic Cones" e "Aphasic Singalong", enquanto "Settle" tem uma condução típica do Manic Street Preachers.


11 - Fábio Góes, O Destino Vestido de Noiva

Antes de tudo, é preciso dizer que esse é o nome de disco mais bonito do ano. Com produção esmerada de Kassin, O Destino Vestido de Noiva chama a atenção por suas massas sonoras muito bem trabalhadas. A mão de Fábio Góes como compositor também ajuda: em alguma cápsula do tempo entre Guilherme Arantes e Ian McCulloch, o paulistano compôs pepitas pop como a balada densa sobre paternidade "O amor que não cabe mais", a nostálgica "A rua" e a corta-pulsos "Frágil".

Ouça: "Frágil"
10 - Karina Buhr, Longe de Onde

Pop e experimental na medida certa, Karina Buhr chega ao segundo disco azeitando uma receita que funcionou bem em sua estreia, Eu Menti Pra Você. Karina soa como se a Marisa Monte do início de carreira voltasse atrás e deixasse de ser a chata que é hoje - vale ver "Ainda Bem", clipe que gravou com Anderson Silva, pra perceber isso. Atente não só para o charme de Buhr em "Não Me Ame Tanto" ou para a arnaldoantunice de "Cara Palavra", mas também para a grande banda que a acompanha - as guitarras do disco ficam a cargo de Edgard Scandurra e Fernando Catatau.


9 - Pública, Canções de Guerra

Se Milton Nascimento, no começo dos anos 90, se desencantasse com o Brasil e fosse para Manchester ou Glasgow gravar um disco, provavelmente o resultado seria parecido com este Canções de Guerra da banda gaúcha Pública. Relendo os anos 70 por meio de um filtro noventista, Pedro Metz e seus companheiros fazem bonito com este terceiro trabalho - ainda que falte a ele uma música de punch como eram "Long Plays" e "Casa Abandonada", o disco tem bons momentos, como o tributo "John", a existencialista "Corpo Fechado" e o funk-de-branco de "Das Coisas Que Eu Não Fui".


8 - Apanhador Só, Acústico Sucateiro

O que a princípio pareceria apenas uma brincadeira acabou ficando coisa séria. Na estreia auto-intitulada, a banda gaúcha de Alexandre Kumpinski e cia já utilizava instrumentos heterodoxos de sucata, como molho de chaves e a roda de bicicleta que dá símbolo à banda, mas em Acústico Sucateiro eles recriam suas canções utilizando apenas um violão e esses objetos, musicalmente não-tradicionais. Um trabalho ousado, distante do que poderia soar como simples oportunismo - vale conferir o funk que virou "Maria Augusta", ou ainda o clima terno de "Bem-me-leve". 


7 - Rômulo Fróes, Um Labirinto em Cada Pé

Um Labirinto em Cada Pé não é um disco exatamente fácil - o que dá a impressão de ser maior do que realmente é. Dito isso, é necessário reconhecer a força das composições de Rômulo Fróes, que aqui remetem muito aos sambas quase rock (ou vice-versa) que Caetano e Macalé faziam no começo dos anos 70. Chamam a atenção a metalinguística "Ditado" e a forte "O Filho de Deus". Boas participações também ajudam: além da boa banda, cujo maior destaque é a guitarra delirante de Guilherme Held, Arnaldo Antunes (em "Rap em Latim") e Dona Inah (em "Olhos da Cara") quase chegam a roubar a cena. Quase.

Ouça: "Ditado"

6 - Wado, Samba 808

Samba 808, novo disco de Wado, está envolto por uma série de peculiaridades: o uso do TR-808, um dos primeiro sintetizadores fabricados na história; o fato de não ser lançado em formato físico - apenas download digital gratuito - e, por fim, mas não menos importante, um número grande de participações especiais - dá pra dizer até que Samba 808 é o Supernatural brasileiro. Zeca Baleiro aparece bem em "Si Próprio" e Chico César canta na esperta "Surdos das Escolas de Samba", mas Wado brilha mesmo é sozinho no pancadão "Não Pára" e, ao lado do casal nabokoviano Camelo & Mallu, na linda "Com a Ponta dos Dedos".


5 - Pélico, Que Isso Fique Entre Nós

A julgar por Que Isso Fique Entre Nós, seu segundo álbum, Pélico parece ser um artista que vive sob o signo da paixão. Com um pé no brega, e o outro na sofisticação - vale prestar atenção nos bonitos arranjos que permeiam o disco - o cantor paulistano faz algumas das músicas mais doloridas de 2011. Destaque para a empolgante "Vamo Tentá", com seu ar de rádio AM dos anos 70, a bela "Ainda Não é Tempo de Chorar", a raivosa "Recado" e a grande balada "O Menino" - que está no top20 músicas do ano deste site.

Ouça: "Vamo Tentá"


Cantando o amor torto, difícil de ser encontrado, sofrido e por vezes inatingível - longe do universo de luzes clichê, filmes e refrões que suas letras descrevem -, a Harmada faz neste Música Vulgar Para Corações Surdos todo um painel de decepções, desilusões e noites em claro. Manoel Magalhães, ex-Polar, é quem lidera a banda, e é possível sentir em sua voz todo o sofrimento dessas músicas. O casal que se desmancha em "Sufoco", o par que se junta nem sabendo por quê de "Carlos e Cecília" e a cinematográfica "Avenida Dropsie" - lançada em 2010, e por isso ausente do top20 deste ano - são pontos altos do clube dos corações surdos.


3 - Nevilton, De Verdade

Dona de um dos melhores shows que se pode ver hoje, no Brasil, a banda paranaense Nevilton finalmente registra suas canções em um álbum cheio. De Verdade, nome que parece até piada, e gravado em 2009, mostra que ainda é possível fazer rock acessível e ao mesmo tempo inteligente. Seja regravando canções dos EPs anteriores (o hino "Paz e Amores" e as espertas "A Máscara" e "Vitorioso Adormecido") ou apresentando novas canções (a eduardoemoniquiana "Fortuna" ou a ensolarada "Por um Triz"), Nevilton & banda tem muita lenha pra queimar - segundo o vocalista, em entrevista ainda inédita, há uma fornada inteira de canções compostas entre 2009 e 2011 que conseguiriam encher um disco "de mentira". É esperar pra ver.

Ouça: "A Máscara"

2 - Cícero, Canções de Apartamento

Seja citando Tom Jobim ("Pelo Interfone"), falando sobre solidão ("João e o Pé de Feijão", que remete a "You Don't Know Me", de Caetano Veloso) ou fazendo uma cover dos Strokes ("Barely Legal", presente na compilação "Is This Indie", organizada pelo site Rock'n Beats), o cantor carioca Cícero criou um universo lírico e delicado em suas músicas, registradas no álbum Canções de Apartamento. Cícero trafega entre o folk, o rock e a MPB, falando de solidão e citando Braguinha ("Laiá Laiá") sem soar pretensioso ou arriscado. Canções de Apartamento é um disco singelo, que merece ser escutado com calma, para além da correria dos dias (e das ruas) de hoje. É sexta-feira, amor.


1 - Criolo, Nó na Orelha

Em abril, logo após o lançamento de Nó na Orelha, escrevi aqui no Pergunte ao Pop que o disco, "produzido por Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral, pode ser a pedra de toque para que muita gente passe a abrir seus ouvidos para o rap, sem lenço nem preconceito". Não chega a ser de todo uma surpresa: aqui, o ex-MC Criolo Doido, agora só Criolo, não é apenas um rapper, mas também um cantor, mostrando com muita honra bons sambas, um afrobeat e a grande canção - e meme - do ano, "Não Existe Amor em SP". Da rinha ao hype, passando pela capa da Serafina (suplemento da Folha de S. Paulo) e por citação no Jornal da Globo, com clipes bem produzidos e um bocado de intrigas (ou desavenças) com a crítica, foi difícil ignorar Criolo.

Ouça: "Grajauex"

Um comentário:

  1. cícero e harmada são maravilhosos, e falar do wado é chover no molhado. agora, ouvi o disco do criolo, vi o show do cara no planeta terra, e não vi nada demais. tu não és o único que incensa o criolo, mas não vi mais do que um trânsito inconsistente entre massive attack e racionais. não existe amor em sp é uma faixa interessante, assim como freguês da meia-noite, mas o resto é rap paulistano no piloto automático...

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