20 de jan. de 2012

Melhores 2011: 20 Discos Internacionais

Chega ao fim a série de Melhores 2011 do Pergunte ao Pop, com o top20 discos internacionais do ano, que teve estreias surpreendentes, mas foi mesmo dominado pelos veteranos, que fizeram a diferença. Confira!

20 - Demons, Cowboy Junkies

Em seu décimo quarto álbum de estúdio, o Cowboy Junkies não sai fora do combinado. Demons é uma homenagem a Vic Chesnutt, amigo da banda, e todas as canções aqui são dele. A banda dos irmãos Timmins (Margo, no vocal; Michael, na guitarra; e Peter na bateria; além do baixista Alan Anton) não deixa a peteca cair, tendo a voz dramática de Margo como ponta de lança para as baladas fortes de Chesnutt. Os destaques são "Flirted With You All My Life", "Wrong Piano" e "Supernatural". O bom, por vezes, é simples.

19 - Good for the Soul, Dionne Bromfield

Ela tem só 15 anos - completa 16 dia 1º - mas já faz bonito cantando. Dionne Bromfield apareceu pela primeira vez à sombra de sua madrinha musical, Amy Winehouse, e suas canções seguem bem o estilo de Amy, naquele revival do soul que rola desde o meio da última década. Mas Dionne mostra potencial além da cópia barata que se vê por aí, seja na empolgante "Yeah Right", ou em "Ouch That Hurt", com seu ritmo agitado à moda da Motown. Dionne se apresenta no Brasil na semana que vem, dentro do Summer Soul Festival. (particularmente, é o show que mais aguardo ver).

Ouça: "Yeah Right"


18 - In the Key of Disney, Brian Wilson

No ano da reedição de SMiLe - que é o lançamento hors-concours de 2011 -, Brian Wilson ainda teve tempo para fazer este belo tributo às canções da Disney. À primeira vista, o encontro pode soar tolo, mas depois de alguns momentos passa a fazer todo sentido. O hoje sexagenário beach boy dá graça a grandes números ("Bare Necessities", de Mogli) e outras só lembradas pelos fãs dos filmes ("I Just Want to Be King", de O Rei Leão). Claro que ele nem sempre acerta - "Can You Feel the Love Tonight", por exemplo, é uma cover sem sal - mas quando o faz - como em "When You Wish Upon a Star", de Pinóquio - ele pega de jeito o ouvinte. Mais: é prometida para 2012 uma turnê de 50 anos dos garotos da praia. Vamos ver o que acontece.

Ouça: "Bare Necessities"

17 - Want More!, JC Brooks and the Uptown Sound

Eles primeiro chamaram a atenção por uma releitura sexy e ousada de "I Am Trying to Break Your Heart", do Wilco. Mas Want More! tem muito mais que isso. JC Brooks é um crooner competentíssimo, unindo - salvas as devidas proporções - a energia de Otis Redding (em "Baaadnews") e o charme de Al Green (na cortante "To Love Someone (That Don't Love You)". A Uptown Sound não deixa por menos, fazendo boas camas para o cantor, ou soltando porradas sonoras na orelha do ouvinte. Bacanudo é a palavra pra definir.

Ouça: "To Love Someone (That Don't Love You)"

16 - Colour of the Trap, Miles Kane

Colour of the Trap é o álbum de estreia solo de Miles Kane, chapa de Alex Turner (com quem dividiu os trabalhos no Last Shadow Puppets) e ex-the Rascals. O trabalho de Miles, que veio ao Brasil em maio, pertence inegavelmente aos anos 2000, com caracteres do rock elegante e urgente que também é uma marca na obra dos Arctic Monkeys. Entretanto, passeios por sonoridades perdidas durante os anos 60 e 70 dão um colorido todo especial às canções que compõe este Colour of the Trap. Vale escutar o clima soul de branco de "Rearrange" e no bonito refrão de "Counting Down the Days". Noel Gallagher, do Oasis, faz backing vocals em "My Fantasy", a faixa mais bacana do álbum.

Ouça: "My Fantasy"

15 - Circuital, My Morning Jacket

O My Morning Jacket nunca tinha me pego de surpresa até este Circuital. Calcados no folk dos anos 70, a banda do Kentucky surpreende com um par de grandes canções. Entre os destaques, um questionamento da "vida normal" em "Outta My System", a leveza de "Wonderful (The Way I Feel)" e o refrão ganchudo da divertida "Holdin' On To Black Metal".

Ouça: "Holdin' on to Black Metal"

14 - I'm With You, Red Hot Chili Peppers

Muita gente se desesperou quando John Frusciante (um dos melhores guitarristas em atividade no mundo) declarou que sairia do Red Hot Chili Peppers de novo. I'm With You mostra que não há motivos para preocupações. Tudo bem, Josh Klinghofer não é Frusciante - e errar a introdução de "Under the Bridge" em todos os shows é triste até para uma banda cover - mas o novo álbum segue a linha do que Kiedis, Flea e Chad Smith tem feito desde o grande Californication. Preste atenção no vocal versátil de Kiedis, passando da dor ("Brendan's Death Song") para a malícia (no single "The Adventures of Rain Dance Maggie") e desta para a empolgação ("Dance Dance Dance"). 

Ouça: "Brendan's Death Song" 

13 - Smoke Ring for My Halo, Kurt Vile

À primeira vista, Kurt Vile parece saquear o acervo de Elliott Smith e outros nomes do cruzamento do folk com o indie. Não deixa de ser uma verdade, mas as harmonias bem entrelaçadas com dedilhados de violões e alguma distorção trazem à tona seu charme. Os melhores momentos do disco ficam com a fofa "Baby's Arms" e "Pepping Tomboy". Já em "Society Is My Friend", em alguns momentos o cantor parece lembrar Eddie Vedder na trilha de Into the Wild.

Ouça: "Baby's Arms"
12 - Josh Rouse & The Long Vacations, Josh Rouse & The Long Vacations

Josh Rouse & The Long Vacations pode ser um disco descolado de sua época no tempo-espaço, mas tem lugar para bonitas (e despreocupadas) melodias. O cantor americano, que é casado com uma espanhola, veio ao Brasil em 2010 no SWU, e parece ter se inspirado na música daqui para compor a bossinha "Fine Fine". Merecem menção ainda a climática "Bluebird St." e a ensolarada (dã) "Oh, Look At What the Sun Did".

Ouça: "Oh, Look At What the Sun Did"

11 - Revelator, Tedeschi Trucks Band

Uma grata surpresa de 2011 foi a Tedeschi Trucks Band. Fruto da união entre a vocalista Susan Tedeschi e o guitarrista Derek Trucks, a banda emula bons momentos do southern rock dos anos 70. Além da bela "Midnight in Harlem", que apareceu no top 20 desta casa, vale a pena conferir "Come to See About Me", a urgente "Until You Remember" e a balançada "Bound for Glory".

Ouça: "Come to See About Me"

10 - Wasting Light, Foo Fighters

Em algum momento do Futuro (essa entidade misteriosa), é possível que se olhe para 2011 e se veja que Wasting Light foi o disco que fez o Foo Fighters ser a maior banda de rock do momento. Gravado todo em fita de rolo, Wasting Light é o melhor disco que o Fufa gravou em toda a sua carreira. Apesar da falta de hits urgentes, o álbum se destaca por sua coesão e pelo peso - a convivência com Josh Homme no Them Crooked Vultures parece ter influenciado Grohl em faixas como "White Limo". Já "Arlandria", "Bridge Burning", "These Days" e "Walk", só para citar quatro, prometem ser bons momentos do show que a banda fará no Brasil em abril, no Lollapalooza.


9 - Anna Calvi, Anna Calvi

Ela pode ter perdido o Mercury Prize para a PJ Harvey, mas fez uma grande estreia. Anna Calvi se situa em algum lugar perdido entre Leonard Cohen, Serge Gainsbourg, Nancy Sinatra e o lado mais negro de Phil Spector. Em composições, sintéticas, cheias de mensagem dirtas, a cantora se revela uma femme fatale ("I'll Be Your Man"), apaixonada ("First We Kiss") e tomada pelo desejo ("Desire"). Há ainda algo de sexy nos climas criados pela inglesa. Fique de olho.

Ouça: "First We Kiss"

8 - Father, Son, Holy Ghost, Girls

Em seu segundo álbum (o Record 3 da capa inclui ainda um EP que a banda gravou), o Girls deixa de se focar tanto no pop ganchudo para trazer mais elementos à tona. Nas onze faixas que compõe Father, Son, Holy Ghost, é possível perceber ecos do Teenage Fanclub dos anos 2000, Phil Spector, soul de branco ("Love Like a River", "Forgiveness") e um par de solos de guitarra distorcida ("Vomit") que fazem bem à alma. Um disco charmoso, pra ficar na cabeça durante dias, e que contém ao menos um hit instantâneo: "Honey Bunny".

Ouça: "Honey Bunny"

7 - The Whole Love, Wilco

Após o fraco Wilco (The Album), o amplo The Whole Love recoloca o Wilco em seu devido lugar. É possível perceber nele ecos dos clássicos Yankee Hotel Foxtrot (na absurda e linda "Art of Almost", que abre o disco) e Summerteeth (caso da animada "Dawned on Me"), além de certa calma que aparecia no bom Sky Blue Sky. Mas o meu momento favorito do álbum é quando Jeff Tweedy e seus asseclas mandam tudo às favas para compor a calma elegia de "One Sunday Morning (Song for Jane Smiley's Boyfriend)" e seus doze minutos de duração.

Ouça: "Art of Almost"


No melhor estilo do conceito "a cada dez anos, descobrimos que há vinte anos aconteceu algo de muito legal na música", o Yuck abre as portas da segunda década do século XXI revisitando a sonoridade dos anos  90 com maestria. Essa banda global - que tem em sua formação dois ingleses, um americano e uma baixista (!) japonesa (!!!) - entretanto, se destaca para além do dicionário de clichês que poderia prever. "Sunday" relembra Teenage Fanclub ou os discos da melhor fase do Lemonheads, enquanto "Suicide Policeman" caberia perfeitamente no repertório de Elliott Smith. "Get Away" e "Operation", por sua vez, prestam homenagem à inspiração de J. Mascis, do Dinosaur Jr; e a dobradinha final, "Rose Gives a Lilly" e "Rubber" se destacam pela barulheira típica do Yo La Tengo. De "yuck" (gíria inglesa para "coisa ruim, nojenta, repulsiva), esse disco não tem nada.

Ouça: "Operation"

5 - Noel Gallagher's High Flying Birds, Noel Gallagher's High Flying Birds

O primeiro round da luta entre o Esaú e o Jacó dos anos 90 está decidido: vitória por nocaute de Noel Gallagher. Enquanto o Beady Eye deu seu golpe primeiro, ainda em 2010, e veio ao Brasil para um show (bem) morno no Planeta Terra, o primogênito do Oasis gravou um bonito disco. Ok, tudo bem, ele não canta tão bem quanto Liam, e o disco carece um pouco do lado mais roqueiro que o filho mais novo tinha. Mas seria reclamar demais de um álbum que enche uma mão com  bonitas baladas, como "Everybody's on the Run", "Dream On", "If I Had a Gun", "Stop the Clocks" e o single "The Death of You And Me". A mais agitada "AKA... What a Life" - Noel brincou que chegou a oferecê-la para Madonna -  também serve com um bom jab de direita no duelo entre os Gallagher. (E mais: vale a pena conferir os lados B do disco, como a épica "Simple Game of Genius", a rocky "The Good Rebel" e a country "I'd Pick You Anytime").

Ouça: "If I Had a Gun"


A fúria adolescente de "I Bet That You Look Good on the Dancefloor" parece quase irreconhecível a um incauto ouvinte que se aproximar de Suck It And See - a não ser em momentos de explosão declarada, como as grudentas "Brick by Brick" e "Don't Sit Down Because I Moved Your Chair". A marca maior de Suck It And See, porém, é a elegância: Alex Turner está cantando como nunca, e suas letras parecem se aproximar do tom de crônica que mestres como Ray Davies e Jarvis Cocker desenvolveram ao longo de suas carreiras - é checar petardos como "Piledriver Waltz" ou "Love Is a Laserquest" para ter certeza disso. Entretanto, o coração dos macacos ainda bate forte, e apaixonadas canções como "She's Thunderstorms" e "Suck It And See" também tem seu lugar de destaque. Cinco anos passam rápido, e os Monkeys parecem se tornar a melhor banda de sua geração.

Ouça: "Piledriver Waltz"


Em uma mão, uma bela voz. Na outra, batidas eletrônicas. Unindo isso tudo, letras sintéticas e pungentes que são levadas a novos patamares quando o inglês James Blake utiliza-se de efeitos de manipulação de voz (como o Auto-Tune), alcançando um novo estado de arte. A melhor estreia de 2011 é um disco surpreendente, especialmente para aqueles não habituados a ouvir música eletrônica. Ouça, e como diz Blake em uma de suas canções, "only hope for heartbreak now".



Poucas vezes uma banda saiu de cena de maneira tão elegante assim. Mike Mills, Peter Buck e Michael Stipe se separaram em setembro, sem brigar, mas antes disso, em março, lançaram este Collapse Into Now, um dos pontos mais altos da carreira da banda de Athens, Georgia. Está tudo lá: política ("Oh My Heart"), as letras enigmáticas de Stipe ("Blue", com Patti Smith, impressiona pela sua poesia, enquanto a dadaísta "Alligator Aviator Autopilot Antimatter" põe todo mundo pra dançar), baladas reconfortantes onde Buck se sobressai com sua Rickenbacker ("Everyday is Yours to Win", "Walk It Back") e referências saltitantes por todos os lados ("That Someone is You", "Me, Marlon Brando, Marlon Brando and I"). Triste perceber que o R.E.M. tinha ainda muita lenha para queimar - antes de Collapse Into Now, a banda lançara o bonito Accelerate - e talvez seja egoísta de nossa parte querer mais, mas é, é assim. "So long, and thanks for all the fish".

Ouça: "Alligator Aviator Autopilot Antimatter" (feat. Peaches & Lenny Kaye)

1 - The King's Dead, The Decemberists

The King's Dead foi, provavelmente, o primeiro disco de 2011 que ouvi em 2011. Foi direto para o topo dos meus favoritos, ainda em janeiro, e lá ficou, saindo apenas algumas semanas após o lançamento do disco do R.E.M..

Uma meia dúzia de motivos para este ser o disco do ano: trata-se do álbum mais acessível dos Decemberists, uma banda que até o momento sempre primou por canções com longas narrativas, cheias de metáforas (que precisam de tempo para serem exploradas, o que não se percebe em primeiras audições) e, por vezes, com poucos refrões.

Tem ainda a participação especial de Peter Buck, guitarrista do R.E.M., em três faixas, que deixam clara a inspiração de Colin Meloy - especialmente em "Calamity Song", que parece decupada de "Reckoning" - na banda da Geórgia, e isso não quer dizer apenas na parte musical, mas também na conduta de uma carreira.

É um álbum com grandes melodias - e uma meia dúzia de refrões inesquecíveis, como os de "All Arise!", "Down by the Water" e de "This is Why We Fight". Ele pinta todo um panorama especial de influências, indo dos já citados R.E.M. aos Smiths (leia de novo o nome do disco), passando por Neil Young (preste atenção na gaita de "June Hymn") e pelo folk americano (de origem irlandesa).

Preste atenção ainda nos bonitos backing vocals que permeiam The King's Dead, e nas bonitas letras de Colin Meloy - que além deste, ainda lançou um inspirado EP relendo canções da carreira solo de Morrissey. Mas talvez nenhuma descrição substitua a beleza dessas canções - é preciso ouvir apenas uma vez e se apaixonar. Se me permitem um trocadilho infame, para encerrar: o R.E.M. está morto, vida longa ao rei.

Ouça: "Down By the Water"

Um comentário:

  1. Sobre a lista, incluiria "Take Care", do Drake. Foi um disco bem honesto e inteligente.

    Sobre o The King's Dead - The Decemberists, quem escutar a faixa "Down By The Water" sem prestar muita atenção, certamente vai perguntar ser não é R.E.M.

    ResponderExcluir