20 de jan. de 2013

Melhores 2012: Músicas Internacionais

2012 foi um ano aleatório em termos de músicas que pudessem suscitar grandes paixões, para além de apenas comporem repertório em álbuns. A lista do Pergunte ao Pop é um reflexo disso, certa maneira, juntando rock português (Os Pontos Negros) com hits vindos do YouTube (Carly Rae Jepsen e PSY), grandes veteranos (Rolling Stones, Neil Young, Beach Boys) com novos trabalhos instigantes (a dupla Michael Kiwanuka e Frank Ocean fez bonito). Prepare-se para uma verdadeira salada - aos interessados, mais uma vez, há ao final do post uma playlist com todas as canções da lista em sequência, prontinhas para serem escutadas. 

1º: "Call Me Maybe", Carly Rae Jepsen

Descoberta por Justin Bieber em uma viagem de férias do cantor à sua terra natal, "Call Me Maybe" tornou-se um sucesso mundial da noite para o dia graças a um vídeo no qual Justin cantava e dançava a música com amigos. Foi só o primeiro de milhares de filmes desse tipo, realizados por gente como Jimmy Fallon, Vila Sésamo, o time olímpico de natação dos EUA, Neymar e James Franco. Grudento até a medula, sustentado por um arranjo de cordas marcante (como desde “Bittersweet Symphony” ou “A Thousand Miles” não se ouvia), “Call Me Maybe” é o carro-chefe e a melhor faixa de Kiss, segundo disco da cantora, todo regravado após o estouro da canção. Além do reforço da internet, o sucesso de “Call Me Maybe” é explicável por seu refrão forte, que retrata uma mudança na dinâmica dos xavecos, pouco retratada até então na música pop: ainda que timidamente (e de maneira conservadora), é a garota quem toma a iniciativa de oferecer seu telefone ao rapaz. Se eu tivesse o telefone dela...

Leia: Resenha de Kiss para o S&Y; perfil de Carly Rae Jepsen para o iG

2º: "Bad for Me", Brendan Benson

Melodista de primeira e responsável por grandes arranjos do Raconteurs, Brendan Benson pega o expresso do tempo rumo aos anos 1970, e brinca (apesar do coração partido) de ser Paul McCartney na fase Wings com "Bad for Me". Sem saber se deve despedaçar seus sonhos mais uma vez ou desistir de um romance, cansado de tentar ("Já brinquei com fogo tantas vezes/Mas acho que nunca vou aprender), o eu-lírico da canção resume sua decisão em um dos versos mais simples e (cruéis) do ano: "Talvez ela seja má para mim/Mas eu não me importo/Porque o que eu quero e o que eu preciso/São a mesma coisa para mim no fim".

3º: "I'm Getting Ready", Michael Kiwanuka

A voz remete à força espiritual de Otis Redding, mas o violão é puro Nick Drake em seus grandes dias. A combinação desses dois estilos desemboca no trabalho de Michael Kiwanuka em "I'm Getting Ready", uma música sobre crença e fé: "Eu não sabia o que significa acreditar/Mas se eu resistir/Você cuidará de tudo o que eu faço/Senhor, estou ficando pronto para acreditar". Depois de uma estreia como Home Again, fica difícil é duvidar do potencial de Kiwanuka para fazer grandes canções. 

Leia: Resenha de Home Again para o S&Y

4º: "Senna", Os Pontos Negros

Faixa que abre o terceiro disco dos portugueses d'Os Pontos Negros, "Senna" é uma música com tantos versos bons que fica difícil de escolher um só. Mãos à obra então, pois trata-se de uma canção: a) sobre originalidade versus influência ("Eu não me chamo Casablancas/não me chamo Jack White); b) sobre crítica versus intenção do artista ("Quem me coloca etiqueta/acredita que tem um dom"); c) sobre bom-mocismo ("Não há insipidez que esconda a nudez/de não carregar uma cruz); ou d) sobre a falta de escrúpulos dos tempos modernos ("Meu combate não é com batida/Os leões sou eu que trago na arena/Se este mundo prefere ser Schumacher/Já eu prefiro ser Ayrton Senna"). A resposta fica à sua escolha, leitor, mas vale o aviso: por músicas como esta, é preciso que ouçamos mais o que se faz do outro lado do Atlântico. 

Leia: Resenha de Soba Lobi

5º: "Walk Like a Giant", Neil Young & Crazy Horse

Com mão pesada nos arranjos, nenhum medo de falar o que quiser e muita vontade de fazer a diferença no mundo (apesar de não estar certo de seu poder sobre isso, como conta em seu livro), Neil Young e a sua fiel escudeira Crazy Horse cometem uma das grandes faixas de 2012. Dona de um refrão feito pra grudar no seu inconsciente durante dias, grandes solos e um assobio marcante, "Walk Like a Giant" mostra todo o idealismo do cantor: ele estava acostumado a andar como um gigante pela terra, viu seus sonhos caírem por terra, mas mesmo assim não desistiu de mudar o mundo. Ainda bem. Keep on rockin' in the free world, mr. Young. 

6º: "Incapable of Love", Dexys

Por quase trinta anos, os Dexy's Midnight Runners (ou apenas Dexys) deixaram seus microfones mudos. Em seu regresso, porém, cravaram uma deliciosa canção de amor que fala sobre... a incapacidade de amar. Pode ser apenas retorcimento da forma, mas é o contraponto entre melodia e letra que faz "Incapable of Love" uma das músicas mais saborosas de 2012. 


7º: "Too Late", Spiritualized

Mães são pessoas sábias - e muitas vezes querem proteger os filhos de todo o mal que há no mundo, até mesmo das feridas que o amor pode causar. É essa a história de "Too Late", canção do último disco do Spiritualized, Sweet Heart Sweet Light. Mas, como todo menino levado que sabe que não deve brincar com fogo, Jason Pierce lembra que "o amor acende a chama quando há corações a serem queimados". 

8º: "Super Rich Kids", Frank Ocean & Earl Sweatshirt

Usando como base um piano que cita "Bennie and the Jets", de Elton John, Frank Ocean e Earl Sweatshirt fazem de "Super Rich Kids" um filme com cortes rápidos, narrando a vida de garotos ricos com amigos falsos, pais distantes e muitas bebidas, carrões e viagens - mas infelizes. A inserção de "Real Love", hit de Mary J. Blige nos anos 90, fecha o panorama sobre a miséria sentimental da elite californiana de maneira, demonstrando que, apesar de todo o luxo, o protagonista da canção ainda procura por um amor de verdade. 

9º: "The Socialites", Dirty Projectors

Amber Coffman tem papel secundário no Dirty Projectors, mas é a sua voz que faz de "The Socialites" a melhor música do último disco dos novaiorquinos, Swing Lo Magellan. Assim como Ocean, os Projectors abordam aqui o conflito entre amor e dinheiro, mas ao contrário dele, o fazem pela ótica de um pobre apaixonado, fascinado pelas ricaças que agem de maneira tão interessante, mas não o vão deixar chegar perto delas. Dizer mais, entetanto, é desprezar a força da voz de Coffman, tão bela que parece prestes a se quebrar quando atinge notas mais altas. 


10º: "One More Shot", Rolling Stones

Depois de quase uma década sem gravar, os Stones voltam à tona com dois grandes singles: se "Doom and Gloom" caminha por um caminho mais pesado, "One More Shot" mostra Keith & Mick fazendo o que sabem fazer direitinho desde 1964. "I know, it's only rock'n roll, but I like it". Mas, futebolisticamente falando: "para quê mexer em time que está ganhando?". 

11º: "Somewhere in My Dreams", Ian McCulloch

Escudado por um quarteto de cordas e munido de uma voz rouca e apaixonada, o veterano Ian McCulloch faz uma das músicas de amor mais bonitas de 2012: "Somewhere in My Dreams", que lembra os momentos mais acústicos do Echo & The Bunnymen. "Em algum lugar dos meus sonhos, há um castelo/Em algum lugar dos meus sonhos, há uma rainha/De repente meus sonhos viraram batalhas/De repente, nos meus sonhos/Você está nos meus sonhos".

Leia: Show de Ian McCulloch no SESC Pinheiros

12º: "Treasure", Bruno Mars

"Baby squirrel is a sexy motherfucker!". É com essa palavra de ordem (?) que Bruno Mars mostra que não é mais um garoto tolo, mas sim um homem capaz de fazer as massas dançarem. Emulando o melhor da carreira de Michael Jackson (a fase sacolejante de Off the Wall e Thriller), o filho de porto-riquenhos faz bonito com "Treasure", a faixa mais deliciosa de seu segundo (e surpreendente) álbum, Unorthodox Jukebox


13º: "Gangnam Style", PSY

Atire a primeira pedra quem não gritou "Sexy Lady" ou se pegou com "Oppa Gangnam Style" na cabeça durante muitas horas de 2012. Um dos mais recentes herois do YouTube, lançando uma música apenas como single virtual (no primeiro vídeo a alcançar 1 bilhão de visualizações na história) e, ainda assim sendo capaz de construir uma crítica interessante (a ocidentalização exacerbada da elite coreana), PSY pode até sumir da noite para o dia nos próximos meses. Mas é impossível falar da música de 2012 sem falar dele. Ponto final. 

14º: "Isn't It Time?", Beach Boys

"Isn't It Time" pode não ser a faixa que mais salta aos ouvidos na primeira audição de That's Why God Made the Radio, mas é uma das mais interessantes da despedida dos Beach Boys. Reconhecendo que o tempo passou, mas que o sentimento ainda é o mesmo, a música serve como um convite para a volta de um velho amor, mas também para escutarmos mais uma vez a banda de Brian Wilson. "Isn't it time we dance the night away?/How 'bout doing it just like yesterday?". 

Leia: Resenha de That's Why God Made The Radio, por Carlos Eduardo Lima, para o S&Y

15º: "The House that Heaven Built", Japandroids

Em seu segundo disco, Celebration Rock, os nerds Brian King (guitarra e voz) e David Proswe (bateria e voz) brincam de fazer  rock para grandes estádios com apenas dois instrumentos. Essa talvez seja a grande graça do Japandroids, e "The House that Heaven Built" o melhor exemplo da força do grupo, que tenta fazer com que menos seja mais, de maneira intensa e vigorosa. Para ouvir a muitos quilômetros por hora, com o vento batendo na cara e amigos cantando loucamente.


16º: "Draw a Crowd", Ben Folds Five

Com inegável sabor setentista (um abraço, Jeff Lynne), "Draw a Crowd" é um dos momentos mais pop do mais recente disco do Ben Folds Five, The Sound of the Life of the Mind. Entre harmonias vocais, um piano balançado e o baixo distorcido e delicioso de Robert Sledge, Folds fala sobre a ideia de tentar recomeçar a vida, mas ter que lidar com os problemas do passado, e brinca com a ideia de querer ser Stevie Wonder, mas precisar se contentar por ser um "vanilla thunder". 

Leia: Resenha de The Sound of the Life of the Mind para o S&Y

17º: "R U Mine?", Arctic Monkeys

O show dos Arctic Monkeys no Brasil pode ter decepcionado quem esperava muito da banda de Alex Turner. Entretanto, "R U Mine?", single lançado em fevereiro último pelo grupo inglês, compensa a falta de punch da banda no palco com suas guitarras vigorosas e intensas, e um refrão pegajoso. É esperar para ver onde vai dar a mistura de crueza rock'n roll com as grandes histórias de Turner. 

Leia: Show do Arctic Monkeys no Lollapalooza São Paulo 2012

18º: "Driftin' Back", Neil Young & Crazy Horse

Mil seiscentos e cinquenta e sete segundos. Essa é a duração de "Driftin' Back", faixa que abre Psychedelic Pill, um dos discos mais pessoais e ousados de Neil Young - um cara que já foi processado por não ser ele mesmo musicalmente falando. Uma viagem ao passado - mas sem deixar de olhar para o futuro (especialmente no que diz respeito à qualidade do som que se ouve) - "Driftin' Back" cita Picasso, hip hop e mp3 sobre a força de grandes guitarras, tocadas por Young e Frank 'Poncho' Sampedro. E pode ficar calmo: quando você menos esperar, "Driftin' Back" já terá acabado - e você quererá ouvi-la de novo. 


19º: "Wrecking Ball", Bruce Springsteen

Composta originalmente em 2009 como uma música de celebração ao Giants Stadium, casa do time de futebol americano New York Giants que seria demolida para a construção da nova arena da franquia, "Wrecking Ball" é uma das faixas mais interessantes do mais recente trabalho de Bruce Springsteen (não é à toa que o Chefe a escolheu para nomear o novo álbum). Convidando seus companheiros para se juntar à demolição, Bruce avisa que "tempos ruins vem e vão, só para voltar de novo", como que a vislumbrar um futuro esperançoso. 

20º: "Tell Me a Tale", Michael Kiwanuka

Os primeiros segundos de "Tell Me a Tale" parecem transportar o ouvinte diretamente para 1969, em um disco empoeirado de Van Morrison. Não é uma sensação de todo errada:  a obra do inglês Michael Kiwanuka parece descolada do nosso tempo, mas, por outro lado, é capaz de conquistar o ouvinte por sua beleza. É o caso desta faixa, que abre Home Again, seu disco de de estreia: assim como "I'm Getting Ready", é uma música que versa a respeito de fé, mas nesse caso, é também sobre acreditar no poder de uma grande história (e de precisar disso para seguir em frente). 

20 músicas internacionais de 2012 by Bruno Capelas on Grooveshark

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