18 de jan. de 2013

Melhores 2012: Músicas Nacionais

Se 2011 foi o ano do rap e do sambinha-indie, com faixas de Wado, Criolo e Cícero entre os principais destaques daquela temporada, 2012 é bastante eclético, na visão do Pergunte ao Pop. Verdadeira salada musical, a lista de melhores músicas nacionais dos últimos 365 dias reúne nomes díspares como Caetano Veloso, Rafael Castro (os dois últimos com duas citações cada), MC Bola, Roberto Carlos, Jair Naves, B Negão & Os Seletores de Frequência e o grupo capixaba Merda. Sim. Merda. Entretanto, assim como na lista de discos, a vitória ficou nas mãos de Tulipa Ruiz. (Ao final, todas as músicas citadas nesse post para quem quiser ouvir de uma vez só em uma playlist do Grooveshark). 

1º:"Dois Cafés", Tulipa Ruiz e Lulu Santos

Arquitetado após uma troca rápida de e-mails, o dueto entre Tulipa Ruiz e Lulu Santos é um ponto alto do segundo disco da cantora, Tudo Tanto. De charme irresistivelmente pop tramado pelas voz grave de Lulu e a doçura de Tulipa, "Dois Cafés" é uma crônica/crítica perfeita dos dias que correm, falando sobre os problemas de quem chega agora ou já encara há algum tempo a vida adulta: "Ter ou não ter/O tempo todo livre pra você/O banco, o asfalto, a moto, a britadeira/Fumaça de carro invade a casa inteira/Algum jeito leve você vai ter que dar". Além disso, é uma letra sobre as escolhas que se faz nessa fase da vida: será que é preciso mesmo "priorizar/se comportar/ter que manter a vida mesmo sem ter um lugar" para ficar "bem melhor/menos mal/mais normal"?. A própria música responde:" é o tempo que vai dizer", mas uma certeza fica: ao menos em 2012, não houve uma canção tão certeira quanto essa.

2º:"Estou Triste", Caetano Veloso

Abraçaço pode ser um disco bastante irregular, mas a tristeza de Caetano e a guitarra melancólica de Pedro Sá fazem toda a diferença na lírica "Estou Triste". Dá vontade até de dar um cobertor ou um abraço (uma cedilha só) para o baiano quando ele canta "o lugar mais triste do Rio é o meu quarto". 

Leia: Resenha de Marcelo Costa sobre o Abraçaço para o S&Y
3º:"Os Reis Católicos", Cascadura

Uma verdadeira aula de história dada pelos baianos do Cascadura. Narrada por Fernando de Aragão (rei espanhol da época de Cristóvão Colombo) como uma carta de amor a sua mulher, Isabel de Castela, "Os Reis Católicos" destrincha passo a passo a colonização da América, cifrando de maneira poética episódios como a Inquisição, a escravidão, a destruição dos povos pré-colombianos e o declínio do poder ibérico no mundo.

4º:"66", O Terno

Você já tentou fazer uma música e desistiu quando percebeu que estava claramente copiando a obra de algum artista que você ama? Pois é bem esse o problema que motiva o desabafo de Tim Bernardes na espertíssima "66". Com boas linhas de guitarra, improviso verbal que estica os versos da música como um canto falado (à moda da Lira Paulistana) e brincadeiras com dodecafonia e Jovem Guarda, O Terno é responsável por uma das faixas mais atuais de 2012.

Leia: Entrevista com O Terno para o iG Jovem
5º:"Memorabilia", Medialunas

Sobre uma base lo-fi que é a cara do Guided by Voices, Andrio Maquenzi brilha em uma das duas únicas faixas da estreia do Medialunas cantadas em português. Ao olhar no espelho e ver o rosto da pessoa amada que o deixou, o ex-guitarrista da Superguidis parece estar de coração partido - mas quem garante que ele não está falando da banda na qual dividia os holofotes com Lucas Pocamacha? "Eu estou tão cansado de estar longe de ti/Dorme", resume a canção.

6º:"Paraquedas", Apanhador Só

2012 parecia ser o ano ideal para o segundo disco da Apanhador Só, mas em janeiro Alexandre Kumpinski já dizia que os fãs iriam ter de esperar um pouco mais para conhecer mais músicas do grupo gaúcho. Para aplacar a espera, porém, a banda lançou em maio um single com duas faixas, "Paraquedas" e "Salão de Festas". Produzida por Curumin, a primeira delas é uma canção de desamor que se assemelha muito às boas  ideias já desenvolvidas pela banda, mas que mostra certa melancolia não existente até então. Promessa de coisa boa.

Leia: Entrevista com a Apanhador Só para o iG Jovem


7º:"Informação", Rafael Castro e Maurício Pereira

Em uma toada de viola tipicamente paulista, Rafael Castro e Maurício Pereira dão um tapa com luva de pelica no jornalismo contemporâneo, descrevendo um manual para as redações: "Quem vai redigir é uma interrogação/Vai saber se alguém ali molhou a mão?/De repente calha um pouco de omissão/De repente um pouco de invenção". Essa doeu.

8º:"Essa é Pra Tocar no Baile", B Negão & Os Seletores de Frequência

Depois de quase uma década sem gravar, B. Negão volta à ativa com uma música esperta, dançante e maneira, deixando bem clara a diferença entre uma "festa bacana e uma festa de bacana". Ponto!

Leia: B. Negão, Tulipa Ruiz, Arrigo Barnabé e a Isca de Polícia, ao vivo na USP

9º:"Baby Don't Deny It", Bonde do Rolê & Caetano Veloso

Parceria de Caetano Veloso com o guitarrista Robertinho do Recife, "Babydoll de Nylon" virou "Baby Don't Deny It" nas mãos dos curitibanos do Bonde do Rolê. Hit do verão sacolejante, a música é o ponto ótimo de ebulição de Tropicalbacanal, segundo disco dos caras, que prima entre a liberalidade sexual e a mistureba musical de funk com eletrônica, axé, forró e rock. Até mesmo o mais ranzinza dos críticos de música não é capaz de negar a vontade de balançar ao som dessa faixa.


10º:"Víbora", Tulipa Ruiz

Durante a turnê de Efêmera, seu primeiro disco, Tulipa Ruiz já demonstrava ser mais que uma moça fazedora de boas canções, sendo capaz de dominar o palco em interpretações agressivas e graciosas. "Víbora", colaboração entre a cantora, seu irmão Gustavo Ruiz e o cantor Criolo, mostra esse lado em estúdio, em uma música vigorosa, marcada pela intensidade vocal de Tulipa e pela guitarra bluesy exemplar de Luiz Chagas. Ao vivo, com representação teatral e performance explosiva, é um tour-de-force inesquecível.  

11º:"A Bossa Nova é Foda", Caetano Veloso

De melodia e arranjo explosivo, "A Bossa Nova é Foda" fez muita gente achar que Caetano é fã de MMA e está contente com os rumos da nação. Ledo engano: do primeiro ao último verso, o baiano traça uma gênese do Brasil, mostrando seus heróis (o bruxo de Juazeiro, o bruxo de Cosme Velho), seus contrastes (uma ergométrica, restos de rabada, rio São Francisco) e sua própria mitologia (a ideia das três raças tristes,  oriunda de Bilac e forjada por Paulo Padro em Retrato do Brasil), para desembocar na crítica ao panorama atual do país, hoje representado lá fora por homens musculosos, de força descomunal e pouca massa cinzenta. 

12º:"Vai Ver", Benjamins

Em seu primeiro álbum, os Benjamins mostram que tem boa mão para canções pop altamente cantaroláveis. É o caso de "Vai Ver", uma balada que caminha entre o folk e o soft-rock com boa letra de André Spera: "vai ver/foi só o susto/de se gostar demais de alguém".


13º:"Maria Lúcia, Santa Cecília e Eu", Jair Naves

Pedindo benção à padroeira dos músicos, Jair Naves toca fundo na bela letra de "Maria Lúcia, Santa Cecília e Eu", uma música feita em homenagem à sua mãe. Segure as lágrimas: "Pois eu te digo que o meu maior temor/é que quando a minha mãe se for/ela vá intranqüila, sem a sensação/de partir com a sua missão cumprida".

Leia: Entrevista de Elson Barbosa com Jair Naves, para o S&Y

14º:"Nem Todo Brasileiro que Gosta de Futebol Gosta do Neymar", Merda

58 segundos foram suficientes para a banda capixaba de hardcore Merda lançar um manifesto: jogadores de futebol deveriam apenas usar bigode, black power e mullets. Até mesmo o santista que mora em mim tem de concordar: haja saco para aguentar todas as dancinhas e penteados de Neymar. 

15º:"Esse Cara Sou Eu", Roberto Carlos

1,5 milhão de fãs não podem estar errados: quem é Rei nunca perde a majestade. Mas se a guitarra do meio da música corresse solta, com certeza essas palavras estariam mais acima neste post.


16º:"+Q1 Amigo", Bidê ou Balde

O primeiro disco completo da Bidê ou Balde depois de oito anos pode não ser a maravilha que os fãs esperavam, mas contém pérolas maravilhosas como o hino à amizade colorida de "+Q1 Amigo". Ouça - e tente não cantar junto. 

17º:"Ah É? Ah Tá!", Rafael Castro

Um hino para o falatório do Twitter, todo o chorume que escorre pela timeline do Facebook e um jab de direita na cara daqueles manés que ficam toda hora tentando mostrar que são os caras. Essa é "Ah É? Ah Tá!". 

18º:"Enquanto Espero", Lestics

Em trabalhos anteriores, os melhores momentos dos Lestics eram feitos de músicas cercadas de desesperança e ironia, como "Gênio", "Dorme Que Passa" e "Tudo é Memória". Entretanto, ao se escutar História Universal do Esquecimento, a faixa que mais salta aos ouvidos é a "Enquanto Espero" uma declaração de amor charmosa: "Você pode ir decidindo/Enquanto beija/E eu posso ir te beijando/Enquanto espero".

Leia: Entrevista com o Lestics para o S&Y


19º:"Passarinho", Curumin

Menos orgânico e com mais sintetizadores que em seus trabalhos anteriores, o paulistano Curumin manda um alô para Roberto Carlos e Lafayette (o dos teclados) citando "Namoradinha de Um Amigo Meu" em uma música feita sob medida para reconquistar um amor, avisando que "Não tem gaiola que possa me segurar".

Leia: Resenha de Arrocha escrita para o S&Y

20º:"Ela é Top", MC Bola

2012 foi o ano em que o funk paulista botou os cariocas no chinelo, alçando veículos como os carros Megane e Captiva e as motos Hornet e Hayabusa como símbolos máximos de uma nova riqueza, além de ostentar áreas vips, Red Labels e várias meninas. O santista MC Bola, porém, não precisou soltar referências de grifes como uma metralhadora para chamar a atenção, preferindo emprestar sua voz para  louvar uma musa que "é top, é capa de revista/e tira foto no espelho/para postar no Facebook". Tem uma meia dúzia de coisas que podem ser discutidas aqui - da popularização das redes sociais até a posição da mulher dentro do funk, mas deixe isso para outro dia e siga em frente com o tamborzão de Bola.

20 músicas nacionais de 2012 by Bruno Capelas on Grooveshark

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