15 de fev. de 2013

Ó, Pá: Sigur Rós em Lisboa

Na noite da última quinta-feira (14), a cidade de Lisboa recebeu o segundo show da turnê euro-americana de 2013 do Sigur Rós. Divulgando as canções de seu último disco, "Valtari", lançado no ano passado, os islandeses mostraram no Campo Pequeno (uma antiga praça de touros da capital portuguesa) porque são uma das bandas mais instigantes da atualidade, graças uma proposta artística ousada, mas muito cuidadosa. 

A noite começou pouco antes das 21 horas, quando o Blanck Mass (projeto solo de Benjamin John Power, dos Fuck Buttons) subiu ao palco para um recinto ainda à meia lotação. Durante 45 minutos, ele encheu o auditório com sons manipulados por sintetizadores com bastante ruído e distorção, impactando os presentes, que demonstraram mais irritação do que interesse pelo que se via ali - em óbvio clima de espera pela chegada do grupo liderado por Jonsi. 

Criado no meio dos anos 1990, na Islândia, e alçado ao sucesso mundial em 1999, com a obra-prima "Agaetis Byrjun", o Sigur Rós prima por um projeto musical que lida com as fronteiras entre o mundo real (traduzido pelo ruído) e o intangível (simbolizado pelas belas melodias da banda e pelos bonitos arranjos de metais e cordas que as acompanham). Não é algo que tenha grandes inovações nos últimos discos do grupo - todos eles seguem mais ou menos o caminho traçado por "Agaetis" - mas, que ao vivo, acompanhado de trabalhos visuais, ganha contornos memoráveis.

É o que acontece, por exemplo, nas três primeiras músicas da apresentação lisboeta, "Yfirborò", "Vaka" e "Ný Batterí". Durante as canções, as quatro "paredes" do palco ficam envolto por telas transparentes: nelas, projeções de luz e as próprias sombras dos integrantes ficam expostas, criando camadas visuais que auxiliam o espectador a entrar no espaço sonoro proposto pelo Sigur Rós. Quando cai o pano, a plateia está completamente rendida (e, às vezes, às lágrimas), e todo o ambiente para que os islandeses desfilem suas músicas de maneira colossal já está estabelecido. 

As projeções continuam de maneira bela durante todo o show - é salutar citar, por exemplo, a execução de "Hoppipolia", que ilumina todo o palco -, mas elas pouco ajudariam se o que sai das caixas de som não ajudasse. Ao vivo, as tensões entre ruído e beleza de petardos como "E-bow" e "Brennistein" ganham arestas que as gravações não comportam, podendo chegar a grande força, sustentada pela condução inspirada do baterista Ágúst Ævar Gunnarsson e pelos trios de metais e cordas que o grupo traz consigo. É essa base que faz com que Jonsi possa brilhar à frente da banda. 

Dono de uma voz aguda extremamente marcante, e cultor de um estilo de tocar guitarra bastante peculiar (misturando dedilhados e palhetadas com o uso do arco de violino), Jonsí é um dos grandes frontmen que existem hoje no mundo, mas não à maneira americana de ser. Ele não é um entertainer, e pouco dialoga com a plateia, mas sabe que o que faz no palco causa efeitos incríveis nela. Quer uma prova? Que tal uma ovação de 10 minutos de palmas após o bis (formado pela grande "Svefn-g-englar" e pela poderosa "Popplagið"), fazendo com que a banda retorne duas vezes ao palco para agradecer à platéia?

Mais do que essas, palavras são poucas para dizer mais sobre a noite mágica que o Sigur Rós proporcionou aos lisboetas na última semana. Aos brasileiros, considerando os recentes boatos de que os islandeses querem tomar um pouco de sol no final de 2013, este é um show para não se perder. 

Um comentário:

  1. Quanto a mim, que sigo o Sigur Rós a uma década, só posso ficar com inveja de quem assistiu ao show. É aguardar para ver se essas águas chegam aqui aos trópicos de novo. Desta vez não hei de perder.
    Sou suspeitíssimo para falar deste artigo, mas arrepiei. Motivos não me faltam.
    E pensar que a primeira vez que ouvi o Sigur Rós foi via Napster, lendo Saramago. Muito fixe.

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