Depois de um texto bastante mal-humorado sobre o Oscar, é hora de curtir a festa da cinematografia nas ruas... quer dizer, fazer a parte divertida da cerimônia, que é falar das presenças admiráveis do tapete vermelho e apostar com os amigos sobre os vencedores. A seguir, comento as principais categorias da noite, ressaltando para quem eu daria os prêmios e pitacando quem eu acho que merecia levar o C3PO para casa.
Filme: quando as indicações ao Oscar saíram, lá no meio de janeiro, muita gente se assustou com a não-indicação de Ben Affleck para Diretor, o que praticamente excluiria Argo da briga pelo principal prêmio da noite. Entretanto, de lá para cá, o filme do Demolidor vem passando um rolo compressor em seus concorrentes, vencendo o Globo de Ouro e boa parte dos prêmios das guildas. Se os prognósticos se confirmarem, seria uma vitória justa - uma vez que o filme de Affleck é bem realizado e não constrange politicamente, ao contrário de seus concorrentes - mas frustrante, já que Argo é nada menos e nada mais que um bom filme (além de ter perdido a chance de fazer uma grande cena com "Sultans of Swing") , pronto para ser esquecido assim que os discursos de agradecimento se encerrarem. Os governistas Lincoln e A Hora Mais Escura correm por fora, representando dois bons nomes do cinema atual, enquanto parece muito improvável a vitória do bonito A Vida de Pi e do lindíssimo Amor.
Diretor: Sem Ben Affleck e Kathryn Bigelow na disputa, a estatueta de Diretor é uma das grandes incógnitas da noite, especialmente por possivelmente servir para aplacar alguns ânimos ou servir como prêmio de consolação. Considerada essa hipótese, a briga fica provavelmente entre Spielberg (vencedor por O Resgate do Soldado Ryan e A Lista de Schindler) e Ang Lee (que tem um C3PO por Brokeback Mountain). O azarão David O. Russell corre por fora com O Lado Bom da Vida, uma história tipicamente americana, mas muito pouco além do bem azeitado; enquanto isso, Benh Zeitlin não deveria nem ter sido indicado e Michael Haneke aparece como o melhor candidato à vitória que nunca vai levar uma estatueta pra casa.
Ator: é barbada dizer que Daniel Day Lewis vai levar mais um Oscar para casa e se tornar o maior vencedor da história nesta categoria por sua sobrenatural atuação em Lincoln. E é difícil alguém tirar dele essa vitória: a sorte da maioria dos atores é que DDL só faz um filme a cada três ou quatro anos, qualificando-se assim poucas vezes para a premiação. E é uma pena que tamanha vantagem esteja declarada, porque Joaquin Phoenix está incrível em O Mestre, naquela que é provavelmente sua melhor atuação desde sempre. E, se Day Lewis nem parece fazer esforço para ser grande, Phoenix mostra tudo isso de maneira estrondosa, seja em diálogos explosivos ou movimentos turbulentos.
Atriz: Há quem aposte na novidade (Quvenzhané Wallis), há quem aposte na experiência (Emanuelle Riva), mas a briga mesmo em 2013 está entre a atuação durona de Jessica Chastain como uma heroína modelo da Geração Y em A Hora Mais Escura e a cativante Jennifer Lawrence (uma das melhores atrizes de sua geração) por O Lado Bom da Vida. Me agradou mais a atuação de Lawrence, um tipo de personagem diferente do que ela vinha fazendo em seus últimos filmes, mas sua juventude e a força da campanha de Weinstein podem atrapalhá-la.
Ator Coadjuvante: Chega a ser ridículo dizer que Django Livre poderia ter ocupado mais da metade das vagas nessa categoria, com Samuel L. Jackson, Leonardo DiCaprio (meu favorito) e Christoph Waltz (o único indicado de fato). Waltz está incrível, mas seu esforço é praticamente mínimo, uma vez que repete aqui, com a polaridade trocada, o papel que o tornou conhecido em Bastardos Inglórios. Dessa maneira, ressalto que meu favorito ainda é Philip Seymour Hoffman, responsável pela outra metade masculina devastadora de O Mestre. Alan Arkin (Argo) e Robert de Niro (O Lado Bom da Vida) têm pouquíssimas chances, mas o Thaddeus Stevens de Tommy Lee Jones pode surpreender a festa de Waltz.
Atriz Coadjuvante: Uma das grandes produções de 2013, Os Miseráveis pode ter nesta categoria o seu prêmio de consolação, contando com uma chance razoável de vitória para a atuação interessante de Anne Hathaway - prejudicada, é claro, pela forma escolhida por Tom Hooper para recontar a história de Victor Hugo. A veterana Sally Field (dona de um dos melhores discursos de agradecimento da história da Academia) corre por fora pela pentelha mulher de Abraham Lincoln, mas o C3PO devia mesmo era ir para as mãos de Amy Adams: sua presença em O Mestre dá novos contornos ao conflito central de P. T. Anderson - uma prova disso é a grande cena do banheiro, na qual ela mostra como uma grande mulher pode ter um grande homem nas mãos.
Roteiros: Se Django é um filme bastante exagerado em sua execução, seu roteiro é de grande maestria: há poucos dialoguistas como Tarantino no cinema pop dos dias de hoje, e só isso já bastaria para justificar sua vitória em Roteiro Original - algo que só pode escapar se a Academia resolver premiar o trabalho de pesquisa gigantesco de Mark Boal para A Hora Mais Escura, ainda que o filme tenha certa estrutura tradicional. Em Roteiro Adaptado, concorrência forte entre A Vida de Pi (que parte de um romance quase infilmável de Yann Martel) e Argo (vencedor do Writers Guild of America, principal associação dos roteiristas) - a preferência deste escriba fica com o filme de Ang Lee, mas o C3PO deve ir para a mão de Chris Terrio.
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