Pela primeira vez desde 2010, quando assinei o atestado de sofrimento e confirmei que eu queria ser jornalista, tenho me empenhado em assistir todos os longas-metragem indicados ao Oscar de Melhor Filme antes da premiação. Esta é a primeira vez que consigo realizar tal feito (a muito custo, deve-se dizer) - e antes dos pitacos, gostaria de compartilhar com vocês algumas impressões gerais sobre a safra 2013 da estatueta dourada que deveria ser um C3PO. (Em outro texto, dou meus pitacos sobre quem deveriam ser os vencedores e faço minhas apostas).
A primeira sensação é a de que este é o Oscar mais americano desde 2009, quando a categoria de Melhor Filme voltou a ter mais do que cinco indicados (naquela ocasião, foram 10, e nos anos seguintes, 9). Pelo menos cinco dos nomeados à principal estatueta da noite versam sobre a construção ou o panorama atual dos EUA - e é bastante simples aproximá-los do ponto de vista político. Lincoln e Django Livre discutem a escravidão (embora este não seja exatamente o grande foco de Quentin Tarantino), enquanto Argo e A Hora Mais Escura têm como ponto principal a legalidade (e a legitimidade) de ações realizadas pelo governo norte-americano em territórios estrangeiros. Por fim, mas não menos importante, O Lado Bom da Vida é o clássico feelgood movie, feito sob medida para enfatizar a ideia de que, apesar da crise, estamos todos bem, e tudo vai melhorar.
Em compensação, apesar de todo o sentimento ianque desperto, dois dos melhores filmes desta safra pouco têm a dizer sobre o país de Hollywood, mas são capazes de falar muito sobre a vida: o poderoso drama francês Amor, uma grande fábula sobre envelhecimento (um tema muito caro aos europeus, e que deveria se tornar próximo de nós, brasileiros); e o belíssimo A Vida de Pi, uma ode à arte de contar boas histórias (e que seria ainda melhor se não se servisse de uma muleta religiosa em parte de sua solução). Para quem é bom em matemática, ficou claro que faltam apenas dois filmes nesta conta: o musical Os Miseráveis, que perde grande parte de sua força ideológica por ser um musical (e por contar com Russell Crowe cantando), e o queridinho-indie-pé-no-saco Indomável Sonhadora.
Olhando para trás, nos filmes que vi nos últimos meses, dá para indicar no mínimo dois grandes esquecidos pela Academia. Um deles é As Vantagens de Ser Invisível (e paro por aqui porque já cansei de me derramar sobre esse filme), merecedor de no mínimo uma indicação para Roteiro Adaptado e outra para Ezra Miller como Ator Coadjuvante. O outro é O Mestre, lembrado apenas nas categorias de atuação, mas sem chances de vencer - o Marcelo Costa fala bem sobre isso aqui - e ignorado em Roteiro, Direção e Filme, sendo capaz de desbancar com tranquilidade os indicados em qualquer uma dessas três categorias.
Pelo sim, pelo não, o que se verá no próximo domingo é uma cerimônia bastante política da indústria cinematográfica. Política externa, na medida que pode premiar a visões diferentes de Hollywood sobre as práticas recentes americanas (Lincoln parece querer beatificar Obama, enquanto A Hora Mais Escura é quase colaboracionista com o atual governo, sendo esse um de seus poucos defeitos). Política interna, na medida que pode escolher premiar velhos nomes, talentos já reconhecidos anteriormente ou dar a chance para novos nomes surgirem. É pouco.
Para além das estatuetas, cabe ainda um comentário: há, dentre os indicados, filmes que teriam melhor futuro se não fossem incluídos nessa caça ao tesouro. É o caso de O Lado Bom da Vida, um filme sensível e esperto de David O. Russell que tem grandes atuações de Jennifer Lawrence (amor, só amor) e Robert de Niro. Ou mesmo do grande favorito Argo, um filme muito bem realizado, mas com pouca sustância para receber caixa alta em arte. Se vencedor, o terceiro filme de Ben Affleck por trás das câmeras parece fadado a entrar para a galeria dos Oscars fracos (junto com Shakespeare Apaixonado, Crash, O Paciente Inglês ou O Discurso do Rei). Por outro lado, agrada ver que uma das melhores funções do Oscar apareceu em 2013: fazer o grande público tomar seu primeiro contato com um cineasta instigante (Haneke, neste caso). Ainda assim, é pouco.
É claro que, ao se falar sobre o Oscar, é preciso ter em mente que este é um prêmio da indústria cinematográfica - e não do Cinema. Mesmo assim, é triste perceber que, após uma dúzia de filmes, fica difícil subtrair da produção atual um longa-metragem capaz de conciliar o interesse de grandes audiências com o de fazer grandes obras artísticas (por que é isso que a indústria quer, antes que se pergunte "mas e apenas a arte?"). Hoje, como atestam as nove indicações de O Lado Bom da Vida (impulsionadas pelos irmãos Weinstein), o que importa mais é não aquele que faz o melhor filme, mas sim a melhor campanha (algo que o chileno No, indicado a Filme Estrangeiro, busca discutir em termos eleitorais). Mais uma vez, é pouco. Muito pouco.
Em compensação, apesar de todo o sentimento ianque desperto, dois dos melhores filmes desta safra pouco têm a dizer sobre o país de Hollywood, mas são capazes de falar muito sobre a vida: o poderoso drama francês Amor, uma grande fábula sobre envelhecimento (um tema muito caro aos europeus, e que deveria se tornar próximo de nós, brasileiros); e o belíssimo A Vida de Pi, uma ode à arte de contar boas histórias (e que seria ainda melhor se não se servisse de uma muleta religiosa em parte de sua solução). Para quem é bom em matemática, ficou claro que faltam apenas dois filmes nesta conta: o musical Os Miseráveis, que perde grande parte de sua força ideológica por ser um musical (e por contar com Russell Crowe cantando), e o queridinho-indie-pé-no-saco Indomável Sonhadora.
Olhando para trás, nos filmes que vi nos últimos meses, dá para indicar no mínimo dois grandes esquecidos pela Academia. Um deles é As Vantagens de Ser Invisível (e paro por aqui porque já cansei de me derramar sobre esse filme), merecedor de no mínimo uma indicação para Roteiro Adaptado e outra para Ezra Miller como Ator Coadjuvante. O outro é O Mestre, lembrado apenas nas categorias de atuação, mas sem chances de vencer - o Marcelo Costa fala bem sobre isso aqui - e ignorado em Roteiro, Direção e Filme, sendo capaz de desbancar com tranquilidade os indicados em qualquer uma dessas três categorias.
Pelo sim, pelo não, o que se verá no próximo domingo é uma cerimônia bastante política da indústria cinematográfica. Política externa, na medida que pode premiar a visões diferentes de Hollywood sobre as práticas recentes americanas (Lincoln parece querer beatificar Obama, enquanto A Hora Mais Escura é quase colaboracionista com o atual governo, sendo esse um de seus poucos defeitos). Política interna, na medida que pode escolher premiar velhos nomes, talentos já reconhecidos anteriormente ou dar a chance para novos nomes surgirem. É pouco.
Para além das estatuetas, cabe ainda um comentário: há, dentre os indicados, filmes que teriam melhor futuro se não fossem incluídos nessa caça ao tesouro. É o caso de O Lado Bom da Vida, um filme sensível e esperto de David O. Russell que tem grandes atuações de Jennifer Lawrence (amor, só amor) e Robert de Niro. Ou mesmo do grande favorito Argo, um filme muito bem realizado, mas com pouca sustância para receber caixa alta em arte. Se vencedor, o terceiro filme de Ben Affleck por trás das câmeras parece fadado a entrar para a galeria dos Oscars fracos (junto com Shakespeare Apaixonado, Crash, O Paciente Inglês ou O Discurso do Rei). Por outro lado, agrada ver que uma das melhores funções do Oscar apareceu em 2013: fazer o grande público tomar seu primeiro contato com um cineasta instigante (Haneke, neste caso). Ainda assim, é pouco.
É claro que, ao se falar sobre o Oscar, é preciso ter em mente que este é um prêmio da indústria cinematográfica - e não do Cinema. Mesmo assim, é triste perceber que, após uma dúzia de filmes, fica difícil subtrair da produção atual um longa-metragem capaz de conciliar o interesse de grandes audiências com o de fazer grandes obras artísticas (por que é isso que a indústria quer, antes que se pergunte "mas e apenas a arte?"). Hoje, como atestam as nove indicações de O Lado Bom da Vida (impulsionadas pelos irmãos Weinstein), o que importa mais é não aquele que faz o melhor filme, mas sim a melhor campanha (algo que o chileno No, indicado a Filme Estrangeiro, busca discutir em termos eleitorais). Mais uma vez, é pouco. Muito pouco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário