31 de dez. de 2013

Um Ano Long-Play

"Ser leitor de blogs em pleno final de ano é uma merda. 

Afinal, em todos os blogs rola aquela reflexão sobre o ano que se passou e as etapas que terminam, expectativa pelas mudanças do ano que se aproxima, enfim, um clichê total". 
(Marco Lopez)

O pôr-do-sol em Vila Nova de Gaia, que me fez chorar numa tarde de junho


2013 foi o meu ano long-play. Primeiro, pela divisão em lado A (o intercâmbio em Portugal, a vida 'tranquila', as viagens no velho continente) e lado B (a volta ao Brasil, o novo trabalho, a correria de São Paulo). Segundo, porque apesar do nome "long", passou voando como se tivesse apenas 42 minutos. Terceiro, porque nessa época de blu-rays, alta definição e consumo de conteúdo na nuvem, parecia em alguns momentos que eu havia regressado a outras épocas da minha vida, em puro apelo vintage. Mas, acima de tudo, é mais um ano regido pela música.

Love and only love. 
O ano em que eu me apaixonei pela música portuguesa (falaremos disso em breve, prometo) e que realizei o sonho de ver duas das bandas que eu mais escutei na vida ao vivo: Sigur Rós (na terrinha) e Neil Young (em Dublin, com abertura dos Los Lobos e dos Waterboys). Isso para não falar no Primavera Porto, nos dois shows do Deolinda (em Lisboa e em São Paulo), no estrondoso Bruce Springsteen, no espetacular (no melhor sentido) Elvis Costello no Royal Albert Hall e na belezinha que foi o Planeta Terra (e a volta pra casa dele, como mostra o vídeo abaixo) em São Paulo. Foi um ano de grandes discos, dono da melhor safra nacional desde 2010, quando comecei a acompanhar assídua e criticamente a cena brasileira como proto-jornalista. Dentro de alguns dias, começo a publicar o especial de Melhores do Ano do blog, e acredito que isso ficará mais claro.


Já que estamos falando de jornalismo, vamos a ele: nos últimos 365 dias, boas reviravoltas e boas histórias passaram pela minha frente. No Scream & Yell, tive a honra de fazer algumas das entrevistas mais lidas do site no ano, como os papos polêmicos com Wado e Apanhador Só e as memórias de dois grandes compositores de outrora, Bernardo Vilhena e Paulo Sérgio Valle, além de cobrir o Primavera Porto, o Planeta Terra e conversar com Pedro da Silva Martins, o homem por trás das letras do Deolinda. Aqui no Pergunte, além dos diários de viagem (que ficaram incompletos), destaco as duas votações que fiz com queridos convidados sobre as melhores músicas de Bruce Springsteen e Blur, em um material gostoso para ler e reler muitas vezes. 

Equipe Link 2013 e o Bebê-Objeto
Entretanto, a grande novidade da segunda parte do ano foi ter começado a escrever para o Link, a editoria de tecnologia e cultura digital do Estado de S. Paulo. É por causa do Link que eu tenho sumido bastante do blog (risos), mas também ele que tem me dado as maiores alegrias jornalísticas desse fim de 2013, mesmo quando eu escrevo sobre assuntos que não domino direito (quem diria que o moleque que nunca teve um videogame agora escreve sobre games?). 

Como eu disse em um texto por aqui quando comecei a trabalhar no jornal, a profissão dá trabalho, é cansativa e "paga pouco" (ainda mais para um estagiário), mas "acordar no dia seguinte, ir na banca e ver o teu nome impresso lá perto de um texto enorme faz a gente sorrir e até duvidar: 'cara, fui eu mesmo que fiz isso?'". Tem sido um baita aprendizado, todos os dias, ao lado de gente boa como o Camilo Rocha, a Ligia Aguilhar e o Murilo Roncolato, meus parceiros de equipe, além da Carol Papp, a quem eu devo a dica e o apoio inicial para chegar à redação do Limão.  É uma galera com quem eu, assim como o Camilo disse esses dias, sairia para tomar uma breja e emendaria um show na sequência (ou um samba, hehe). 

Ah, o Cais do Sodré...
Mas acho que nada o que eu tivesse feito na segunda metade de 2013 (que, além do Estadão e dos escritos contou com boas botecagens, boas noites nas companhia de amigos e bons encontros, como diria o poeta Vinicius de Moraes) conseguiria superar o primeiro semestre e a viagem a Portugal (inspirada, sobretudo, pela minha família e pela invejinha boa das jornadas do Marcelo Costa narradas no S&Y).

Olhando hoje, parece até brincadeira ou invenção que eu morei em Lisboa durante quatro meses, e depois de adquirir um sotaque da terrinha (só não peçam para imitar, mas é bué fixe) e curtir grandes shows na noite portuguesa com o amigo Pedro Salgado, ainda conheci Londres (e atravessei a faixa de pedestres), Paris, Roma (com as pizzas mais daora do mundo), Berlim ("alemãozinhos, coitados, comem salsicha", uma das frases de 2013), Atenas, Barcelona e Madri, além de um monte de cidades legais em Portugal e visitei a terra de onde meu avô paterno saiu para ganhar a vida no Brasil. (As fotos, pra quem quiser ver, risos, tão lá no Facebook. Garanto que não é só um monte de 'selfies')

De volta para a terra dos Capelas
Mais que isso: foram meses em que eu morei sozinho pela primeira vez na vida, aprendi a cozinhar e tive grandes companheiros de estrada, senti saudades de casa e vivi. E, quando, talvez, eu tenha tido meu último respiro de adolescência. 

Não é à toa que, toda semana, eu sinto saudades do Tejo, do Bairro Alto, do Cais do Sodré, das ginjinhas e dos pastéis de nata (cujo refresco só fui encontrar na Casa Mathilde, aberta no meio do ano no centro de São Paulo). Não é à toa que, depois de voltar,  parece como se eu tivesse me dividido em dois, e uma parte de mim tenha ficado em além-mar (ainda volto pra buscar). E, se de regresso à Pátria, me pareceu difícil voltar a amar São Paulo, é cada vez mais saboroso me reapaixonar por ela, na arte do reencontro que Vinicius não pode escrever. 

Pés descalços, como manda o figurino
2013 foi meu ano long play mesmo nas horas mais difíceis, quando, "no fundo do poço/achei algo que vale a pena". 

Faltam menos de 24 horas para 2014, o ano que promete ser o mais atormentado desde 2009, quando eu prestei vestibular em esquema intensivo promovido pelo ETAPA. Afinal, continuo no Estadão, aqui e batucando coisas no Scream & Yell, mas começo (e termino) uma nova jornada, com um trabalho de conclusão de curso para ser feito (e finalmente buscar o diploma de jornalista). A ideia é boa, vontade não falta, e até orientador já está escolhido. Só é preciso começar, e, como diz meu hino pessoal de 2013, a música que me acompanhou nos momentos necessários - da ida à volta de Portugal, na hora de aceitar um novo emprego ou tomar um passo adiante, como me contou Pedro da Silva Martins - "se é para acontecer, pois que seja agora". Sigam-me os bons (ou simplesmente dancem junto da gaja Ana Bacalhau).

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