Fazer um show inesquecível é, por vezes, dançar sobre a corda bamba das coincidências. Não basta apenas uma meia dúzia de boas músicas com refrão agitado. É preciso um dia inspirado dos músicos que estejam no palco, um lugar com condições decentes de visibilidade e conforto, um bom sistema de som, um repertório encaixado e um público desejoso de que, à sua frente, se faça um momento especial. Aos olhos de um matemático, tal somatória parece impossível, mas, dia após dia, sempre há um artista capaz de realizar a conta com perfeição. Na primeira sexta-feira de maio (03), as cinco mil pessoas que lotavam o Coliseu dos Recreios, em Lisboa, viram uma execução primorosa dessa operação não aritmética, realizada pelas mãos, instrumentos e vozes do grupo português Deolinda.
A apresentação em Lisboa foi a primeira do grupo na capital portuguesa após o lançamento de seu terceiro disco, “Mundo Pequenino”. Um passo à frente promovido com o incentivo do produtor Jerry Boys (engenheiro de som de R.E.M., Rolling Stones e Pink Floyd), o álbum vai além da dualidade fado-pop promovida nos dois primeiros discos da banda, o arrasador “Canção ao Lado” (2008) e o lírico “Dois Selos e um Carimbo” (2010), em busca de uma sonoridade ampla. Trocando em miúdos: para além das guitarras lusas e dos agudos típicos do gênero consagrado mundialmente por Amália Rodrigues, em seu novo trabalho, o Deolinda arrisca brincar com pianos, percussões africanas e arranjos de sopros. E, seguindo bem o ditado, quem não arrisca não petisca.
Tô de volta ao Scream & Yell, dessa vez contando sobre a noite inesquecível do Deolinda no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, naquele que é o show do ano até agora para este blog. Entre uma paixão (platônica) por Ana Bacalhau e as grandes canções de Mundo Pequenino, aproveitei a deixa para tentar explicar porque o Atlântico não é grande o suficiente para separar a música brasileira da lusitana. Quem sabe eu não te convenço também? Bora ler - e se é pra acontecer, pois que seja agora!
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