3 de mai. de 2013

Ó Pá: Algarve (Sagres e Lagos)

Nada de terra à vista!
Se a primeira parte da viagem ao Algarve já tinha me deixado um bocado empolgado com as praias de Portugal, o que veio a seguir com certeza transformou a região em um dos meus lugares favoritos no mundo. Tudo culpa de uma cidadezinha minúscula chamada Sagres e o "fim do mundo".

O sábado começou com uma longa viagem de trem de Faro a Lagos, em coisa de uma hora e meia para percorrer 90 quilômetros de distância. Jogamos as malas no hotel (uma pensãozinha com um quarto para três pessoas e chuveiro dentro do aposento) e fomos direto pra rodoviária pegar o ônibus para Sagres, uma vila minúscula onde, supostamente, o Infante. D. Henrique, rei de Portugal no século XV, instalou a Escola de Navegação que possibilitou os muitos descobrimentos portugueses naquela época. Além de toda essa mitologia, Sagres é também conhecida como a "última cidade da Europa", distante apenas 7 quilômetros do Cabo de São Vicente, ponto extremo a sudoeste do Velho Continente. 

Parece covardia, mas é só o Algarve.
Para chegar ao Cabo, existem três opções: táxi (que não havia na vila quando lá chegamos); ônibus (que só funciona de segunda a sexta-feira) ou a pé. Pode parecer coisa de louco, mas sim, fomos andando pela estrada, de chinelo, pelo nada qualquer, como se natural fosse - e foi uma das coisas mais legais que eu já fiz na vida, fácil fácil. Talvez seja difícil por em palavras, mas a sensação era realmente de andar rumo ao fim do mundo - e como bom fã de R.E.M., vocês sabem o que o meu Invisível DJ tinha colocado pra tocar na cabeça, certo? 

No meio do caminho, paramos para tomar um banho de mar (gelado, mas refrescante) e, ocasionalmente, ver garotas de topless na Praia do Beliche, que disputa atualmente com a Praia da Rocha, de Portimão, e a Praia do Corsário, em Ubatuba, o troféu de "praia mais legal que eu já fui na vida". (Nota rápida: sobre o assunto "peitos de fora", fecho com o que o Marcelo Costa falou nesse texto aqui, sempre respeitando o provérbio "procura a claridade, mas respeita o mistério!"). Como estávamos com o tempo contado, seguimos andando rumo ao Cabo. 

Me dê duas velhinhas e eu te dou a história do mundo!
E a caminhada de quase duas horas valeu a pena: é bonito demais ver o Atlântico se estendendo para todos os lados possíveis e imagináveis, e se sentir um pouquinho mais perto do Brasil (alô, saudades, o esporte nacional de Portugal!). Mais que isso: ainda que seja tudo mentira (como diria o seu Armindo), é difícil não se entusiasmar com a energia de Sagres e a gigante aventura desses portugueses malucos que resolveram construir navios e sair por aí mundo a fora. Já devo ter falado isso em algum lugar, mas as Grandes Navegações são um passo muito mais complicado (e importante) para a humanidade do que a Conquista da Lua. 

Na volta, estávamos com o tempo apertado para pegar o ônibus para Lagos de volta, mas por sorte conseguimos carona com um casal de alemães em um trailer, que nos deixou em Sagres de novo a tempo de tomar uma das principais cervejas de Portugal... a Sagres! Fato é que a jornada do dia nos deixou mortos de cansaço (em vez de aproveitar a noite em Lagos, eu e meus companheiros ficamos no hotel vendo o fim do jogo do Santos e comendo pizza de microondas), mas na verdade, não me arrependo. 

Discordâncias
Do pouco que vi de Lagos, deu pra perceber que se trata de uma cidade bem turística, até demais. Estando em Portugal, é estranho um restaurante começar a te servir em inglês, e era fácil perceber que havia mais alemães que portugueses nas ruas do lugar. Na banca de jornais (onde eu sempre passo para comprar uma recordação jornalística das cidades por onde passo), percebi que existia até mesmo um jornal em inglês para os residentes do Algarve. 

Como meu pai disse, "é praia de alemão", mas pra mim tanto faz: melhor ter na memória o Atlântico ao meu redor do que ficar se importando com essas pequenices. Seja como for, fica aqui a minha dica: caso você venha a Portugal, não hesite em programar um ou dois dias no Algarve (e, de preferência, alugar um carro para fazer todo o roteiro). Você ainda vai me agradecer.




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