27 de abr. de 2013

Ó, Pá: Algarve (Faro e Portimão)

"Enquanto ali estávamos
Fazendo um perfeito e absoluto nada
(...)
Nós, os da costa
Éramos habitantes
Não de um continente
Mas sim de um oceano"
(Wado e Mia Couto, "Estrada")

Como bom brasileiro que eu sou, sempre desconfiei de gente que tem sangue tupiniquim correndo nas veias e passa hora falando sobre praias e mais praias no exterior. Não importa em que lugar do país você esteja (até mesmo em Minas Gerais, que além de bar também tem o mar do Espírito Santo), você sempre vai estar perto de pelo menos uma meia dúzia de lugares de costa lindíssimos, de maneira que eu nunca vi muito sentido em gastar uma boa quantidade de dinheiros pra vestir uma sunga e sair da água falando "please mister, give me a coke" pra tirar o sal da boca. 

Em compensação, há algo em mim que sempre me pede para ir ouvir o barulho das ondas. Já cheguei a cancelar rolês, shows e churrascos só pra passar ume meia dúzia de horas dentro do carro, pegar um jacaré e voltar com o corpo todo salgado pra casa (ainda estou na função de sair de uma balada e ir para a praia, entretanto). Morando em Lisboa, um pouco dessa sensação estava sendo compensada pelo Tejo, mas o Tejo não é o mar que se encosta na minha aldeia, e uma hora eu fatalmente ia precisar ir rumo ao litoral (aquela molhadinha de pés no Mediterrâneo em Barcelona não conta). E foi esse o meu destino nesse feriado português de 25 de Abril (quando, em 1974, aconteceu a Revolução dos Cravos): o Algarve, no sul do país, conhecido pelos turistas europeus como um dos hot spots para o verão. 

Saí de Lisboa na manhã da quinta-feira, dia 25, e chegamos em Faro, a capital da região, já pelo meio da tarde. Joguei as malas no hostel, troquei a calça pela bermuda e o tênis pelo chinelo Rider (me deixem) e peguei o ônibus para a praia de Faro, tentando aproveitar um restinho de calor e sol que ainda havia. Brrrrrr. Aviso aos navegantes: o mar daqui é bastante gelado, mas o vento é quente e seca fácil o corpo. 

O problema maior, entretanto, são as pedras: a área da beira do mar (ou "o rasinho", como mamãe dizia) é toda lotada delas, sendo mais seguro ir adiante no mar do que correr o risco de tomar uma onda na cara e bater a cabeça ou ralar o corpo todo. 

Mas há uma compensação pra tudo isso: o mesmo processo natural que fez essas pedrinhas irritantes também fez com que boa parte das praias portuguesas estivesse cercada por grandes rochas, falésias e outra meia dúzia de fenômenos de relevo que eu esqueci o nome, mas fazem o coração parar de bater. Em Faro não, mas no dia seguinte, na Praia da Rocha, em Portimão, eu queimei fortemente a língua. Eu poderia tentar descrever o verde da água e o laranja das rochas, mas é mais fácil deixar vocês com essa foto aqui. 

Mas devo confessar que, até o momento, pouco há de interessante no Algarve que não as praias. Faro e Portimão são duas cidades bacanas (e bastante parecidas entre si), mas sem muito charme peculiar: ambas têm um centro velho, cheio de casas térreas e ruas estreitas, um porto no centro da cidade, antigamente usado por pescadores e hoje tomado por iates e veleiros, uma igreja antiga aqui, uma fortificação moura acolá, um ou outro restaurante e sempre uma sede do McDonald's (não, não, eu não comi nada lá: o Melhor Hambúrguer da Cidade está temporariamente de férias). 

Enquanto escrevo, rumo a Lagos, cerca de 100km a oeste de Faro, para passar o dia em Sagres - o ponto mais ao sul de Portugal, onde mitologicamente o Infante D. Henrique, patrono das descobertas portuguesas, instalou sua escola de navegação. Vamos ver o que acontece.

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