15 de jan. de 2014

Melhores 2013: Discos Nacionais

2013 foi um ano difícil. Complexo. Longo. Mas talvez por tudo isso, um ano interessantíssimo - especialmente para a safra nacional de música, talvez a melhor desde que este escritor começou a acompanhar com afinco profissional e coração de amador a cena brasileira. Na segunda parte do especial de Melhores do Ano, apresentamos os grandes discos nacionais de 2013, em uma lista que mostra que o pop e o rock brasileiro parecem finalmente ter se desgarrado da influência hermânica (o que não é de todo ruim, como se verá a seguir), mostra veteranos fazendo grandes canções e traz gratas surpresas. A canção brasileira pulsa, e muito bem viva. A seguir, o Pergunte ao Pop apresenta os 15 melhores álbuns brasileiros de 2013. 

1º - Antes Que Tu Conte Outra, Apanhador Só

No primeiro texto que escrevi sobre a Apanhador Só, lá em 2010 (republicado aqui em março de 2013), eu encerrava os trabalhos dizendo que Apanhador Só, primeiro disco cheio dos rapazes, era capaz de espantar invernos e deixar ouvintes com sorrisos bobos no rosto. Três anos depois, Antes Que Tu Conte Outra transforma o sorriso bobo em sorriso amarelo - ou nervoso de raiva. No lugar da banda "bonitinha" que ecoava Tom Zé e Los Hermanos falando de relacionamentos afetivos com delicadeza e sinceridade, surge um grupo cheio de guitarras ruidosas, sucata propositada, fúria e letras com forte (con)texto social. Em doze faixas, os gaúchos disparam contra o establishment, a publicidade (mesmo quando se servem de sua linguagem, como em "Liquido Preto"), o cotidiano alienante e opressivo ("Despirocar", "Vitta, Ian, Cassales") e quem mais quiser levar porrada - não foram poucas as formas que músicas como "Por Trás", "Mordido" e "Reinação" foram utilizadas por terceiros para criticar a Fora do Eixo, o governo brasileiro ou a Copa de 2014. Antes Que Tu Conte Outra merece também o troféu de melhor disco do ano por revelar, em versos e notas (e timbres), a energia do descontentamento que pode ter levado milhões de brasileiros às ruas em 2013. Entretanto, reduzi-lo apenas ao papel de "trilha sonora das manifestações" seria pouco para um disco que, além de tudo isso, mostra o amadurecimento de uma banda que já havia feito uma das melhores estreias de sua geração. Não se precipite, leitor: nasce aqui um grande grupo.

Ouça: "Vitta, Ian, Cassales"
Leia mais: 
Seis vídeos do show de lançamento de Antes Que Tu Conte Outra em SP
- Entrevistão com a Apanhador Só no Scream & Yell


2º - Sacode!, Nevilton

Em 2011, ao lançar seu primeiro trabalho de fôlego, os paranaenses da Nevilton surpreenderam fazendo pop-rock inteligente no disco “De Verdade”. Duas temporadas depois, Nevilton de Alencar (voz, guitarra e composições), Tiago Lobão (baixo) e Eder Chapolla (bateria) retornam ainda melhores com “Sacode”. Com produção impecável de Carlos Eduardo Miranda e Tomás Magno, o álbum elimina os excessos da estreia e investe em uma sonoridade roqueira, sem deixar a brasilidade e o lirismo de lado. É o caso de “Porcelana”, uma moda de viola com guitarras nervosas e refrão poderoso (”Ouça o queixar dessa insana / vida frágil, porcelana / trincando ao tocar o chão”), da balançada faixa-título, que soa como um Queens of the Stone Age de férias na praia, ou de “Noite Alta”, balanço cativante com vocal de inflexão caipira e um olho no despertador, outro na vida boa. O moleque que acabou de comprar a primeira guitarra provavelmente vai se divertir com a ramonística “Bailinho Particular” e perceber que há vida além dos Black Keys com “Crônica”. Por outro lado, o tiozão barrigudo fã de Creedence se emocionará com a fofura de “Friozinho”, e ficará nostálgico com a dançante “Satisfação”, carregada pelo baixo portentoso de Lobão. Em 2013, qualquer seja a sua idade, "Sacode" merece o troféu de melhor disco de rock brasileiro do ano.

Ouça: "Sacode"
Leia mais:
Entrevista com Nevilton no S&Y, por Rodrigo Guidi

3º - Saudade, Selton

A história de Saudade parece um conto de fadas roqueiro: quatro amigos de colégio saem do Rio Grande do Sul para fazer intercâmbio na Europa, começam a tocar covers de Beatles de manhã no Parc Guell em Barcelona para ganhar uns trocados, são descobertos por um produtor italiano e migram para Milão. Na Itália, os rapazes começaram a carreira fazendo covers de um compositor dos anos 60, alcançaram o mainstream e voltaram atrás em busca de um trabalho autoral, desembocando neste Saudade, produzido por Tommaso Colliva (Twilight Singers, Muse). Ecoando os grupos vocais brasileiros dos anos 40, Caetano Veloso, Beach Boys, Dirty Projectors e Vampire Weekend num único caldeirão, o disco é um punhado de canções pop muito bem tramadas sobre "o ser estrangeiro" e o "estar longe de casa", cantado entre o italiano (a brooklyn-romana "Vado Via"), o inglês (a cativante "Across the Sea") e português (a bonita balada "De Volta Pro Futuro" e a canção popular "Eu Nasci No Meio de Um Monte de Gente"). Sobrou até tempo para uma espertíssima releitura pra "Qui Nem Giló", com a participação de Arto Lindsay (produtor de um sem-número de coisas que Marisa Monte fez nos anos 90). Sem precisar tirar as barbas de molho, o pop brasileiro respira aliviado.

Ouça: "Across the Sea"
Leia mais: 
Entrevista com Selton no S&Y, por Marcelo Costa
- Selton ao vivo em São Paulo no S&Y

4º - Se Apaixone Pela Loucura do Seu Amor, Felipe Cordeiro

Uma vez por temporada, o Pará abastece o Brasil (ou melhor, o eixo RJ-SP) com uma "novidade" musical. Se nos últimos dois anos foram Gaby Amarantos e Gang do Eletro, agora é a vez de Felipe Cordeiro e sua malemolência romântica. Munido de guitarras espertas (Felipe é filho de Manoel Cordeiro, um dos mestres da guitarrada, que para um neófito na música do estado nortista, soa como um surf rock tropicaliente, em uma simplificação didática), Se Apaixone Pela Loucura do Seu Amor é o terceiro disco de Felipe, e chega com produção assinada por Carlos Eduardo Miranda feito sob medida para dançar coladinho. Duvida? Então tente se manter parado ao som de balanços deliciosos como "Problema Seu" e "Ela é Tarja Preta", duas faixas que contém letras embasadas na sabedoria popular sem cair em uma simplificação beócia, ou da saborosa instrumental "Lambada Alucinada". Quer mais? Tudo bem: tem ainda uma bacana releitura de "Marcianita", clássico do rock brasileiro dos anos 50, a esperta "Bréa Époque", que acredita que Belém hoje vive a sua era de ouro cultural, e a fofa "Trelelê" (sinônimo para "namorico" ou "affair"), que lamenta: "Porque viver não é só trelelê/mas bem, meu bem, que poderia ser". Ah, se poderia.

Ouça: "Bréa Époque"

5º - De Graça, Marcelo Jeneci

Com De Graça, Marcelo Jeneci exorciza diversas nuvens negras que pairavam sobre sua cabeça. Primeiro, o famoso "teste do segundo disco": afinal, como ele conseguiria surpreender após uma das estreias mais cativantes dos últimos anos? Segundo, uma desilusão amorosa na vida pessoal. Terceiro: ao lançar o primeiro single, que leva o nome do álbum, houve quem torcesse o nariz para a abordagem caetanística que o músico parecia ter tomado. Entretanto, é possível respirar aliviado. Amparado por velhos parceiros (Luiz Tatit, Arnaldo Antunes, a angelical Laura Lavieri) e novos colegas (o principal deles é o arranjador Eumir Deodato, responsável pela épica atmosfera setentista do trabalho), Jeneci renova seu estoque de canções, reconhecendo a vida por um aspecto otimista ("O Melhor da Vida", "De Graça", "Alento"). Há, claro, canções que parecem inspiradas em sua separação, e elas fornecem os melhores momentos do disco, quando a voz de Laura Lavieri se transforma em pungência e beleza - é o caso de "Tudo Bem, Tanto Faz", uma versão lírica de uma vida sem significado ("Tem tantas coisas pra resolver/Não vem ninguém/Mas sempre diz que tá tudo bem") e da linda "Pra Gente Se Desprender", um relato de desamor que, quanto mais triste, mais belo, e quanto mais belo, mais triste. Mas, no fim, é possível sorrir, em um balanço como "Sorriso Madeira" (embalado pela nervosa fuzz guitar pilotada por Régis Damasceno) ou na inocente "Só Eu Sou Eu", composta especialmente para o programa Vila Sésamo, que diz que há sete bilhões de pessoas na Terra, mas entre Ronaldinhos e rainhas da Inglaterra, só há um "eu". Nosso desejo sincero é que esse eu siga em frente.

Ouça: "Tudo Bem, Tanto Faz"

6º - O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui, Emicida

Em sua "estreia" em álbum após um sem número de mixtapes e apresentações ao vivo, Emicida reforça a ideia de que hoje, o melhor rap feito no Brasil é ferramenta, e não mais uma simples divisão de gênero. Ao longo de catorze faixas, o dono do Laboratório Fantasma recebe convidados como Wilson das Neves, Pitty e MC Guime para versejar em cima de bons sambas (a deliciosa crônica "Trepadeira", "Hino Vira-Lata), funks ("Gueto"), baladas ("Sol de Giz de Cera", dividindo vocais com sua filha e com Tulipa Ruiz) e rocks (a poderosa "Hoje Cedo" e a groovada "Levanta e Anda"). A versatilidade de ritmos entretanto, de pouco adiantaria se Emicida não tivesse nada a dizer, mas felizmente não isso é o que acontece: em "Hoje Cedo" e "Gueto", o ponto de vista do rap não-miserável abordado pelos Racionais MCs em Nada Como Um Dia Após o Outro é recuperado de maneira firme, enquanto os punhos aparecem cerrados na poderosa "Bang!", que mostra um país "ciclista/fã do filho do Eike Batista" e questiona a diferença entre a dor dos judeus e a dos negros. Os excessos, porém, ficam por conta das maçantes intervenções "poéticas" de Elisa Lucinda ao longo do disco, que cansam o ouvinte ao reforçar explicitamente o poder da "palavra". Não precisava: os versos rápidos de Emicida já são suficientes para mostrar o quanto a arte de juntar vocábulos é capaz de transformar as coisas nesse país que começou a brigar por mais que vinte centavos.

Ouça: "Bang!"

7º - Vazio Tropical, Wado

Sétimo disco de Wado - e o quarto em 'carreira solo', sem a companhia do Realismo Fantástico - Vazio Tropical soa, inicialmente, como um passo atrás na carreira do cantor radicado em Alagoas. Em pouco menos de meia hora, produzido por Marcelo Camelo, Wado despe-se dos grooves e de teclados que marcaram seus últimos trabalhos para apostar em uma atmosfera delicada, acústica e algo melancólica, que demora a conquistar o ouvinte de primeira hora. Bobagem: ainda que seja desigual em seu todo, Vazio merece destaque por fortes baladas como "Flores do Bem" (de Momo), "Rosa" (parceria com Cícero que relê o refrão de "Canto de Ossanha") e "Cidade Grande" (original do cantor já gravada por Cris Braun em 2012). Alheio ao bafafá todo, Wado ainda pratica seus feitiços.

Ouça: "Cidade Grande"
Leia mais:
- Entrevista com Wado para o Scream & Yell

8º - Tribunal do Feicibuqui, Tom Zé (EP)

Passo um: Tom Zé aceita R$ 80 mil da Coca-Cola para fazer um comercial sobre a Copa do Mundo. Passo dois: Tom Zé é crucificado no Facebook sobre ter feito a peça publicitária. Passo três: Tom Zé devolve a questão fazendo um dos melhores discos do ano, atirando perguntas para todos os lados da música indie-dependente ("Zé a Zero") brasileira, além de ter se cercado de bons nomes da nova geração. Este é Tribunal do Feicibuqui, EP que traz Emicida, Tatá Aeroplano e Gustavo Galo chamando o velho baiano de Mané ("Tom Zé Mané"), põe Tim Bernardes, d'O Terno, a discursar sobre a diferença entre esquerda e direita ("que já foi clara, hoje não é mais", em "Papa Francisco Perdoa Tom Zé") e revisita um velho jingle que o compositor de Irará fez para o guaraná Taí nos anos 70 ("Taí").

Ouça: "Papa Francisco Perdoa Tom Zé"

9º - Amor Atlântico, André Mendes

Em seu terceiro trabalho solo, o homem à frente da Maria Bacana (os caras que cantavam que "tem dias que a vida parece coca-cola sem gás") põe o pé no freio e despluga as guitarras para abraçar o formato acústico. A investida deu muito certo, valorizando o romantismo pop das letras de André Mendes e seus bons refrões. Faça o teste com "As Velhas Ondas", "Lobo Só" e "Casa Amarelo Ouro", três delicados poemas musicados. O melhor do disco, porém, fica por conta do tapa com luva de pelica na grande mídia de "Tchau Jornal" (na qual André diz "minha imprensa sou eu") e na faixa título, cantada à capella em fôlego surpreendente. Como o próprio André diz: sim, deixa fluir. 


10º - Impossível Breve, Jennifer Souza

Parte de uma das melhores bandas surgidas no País nos últimos anos, a Transmissor, Jennifer Souza aproveitou 2013 para se lançar em carreira solo com o bonito Impossível Breve. Produzido por Thiago Corrêa, colega de banda, o disco passeia por uma sonoridade que mistura momentos nublados do Clube da Esquina com Elliott Smith, Jeff Buckley e Bright Eyes, sendo perfeito para corações em tormenta. Destaque para o dueto com Fábio Góes ("Pedro e Lis") e na quase-alegre balada "Para Kerouac", que percebe que a estrada pode ser longa, mas é o melhor caminho. Em dez canções, Impossível Breve mostra uma compositora cheia de personalidade e sem medo de se abrir perante o microfone. Fique atento.

Ouça: "Pedro e Lis", com Fábio Góes

11º - É o Que Temos, Bárbara Eugênia

Boa promessa de 2010, Bárbara Eugênia atingiu um nível interessante em seu segundo trabalho, É O Que Temos. Um passeio entre o blues, a canção de cabaré e a música romântica brasileira que tocava no rádio FM da sua mãe, a carioca se cercou de aliados de primeira linha como Edgard Scandurra, Pélico e Tatá Aeroplano para fazer um trabalho pessoalíssimo cantando e compondo, que a destaca perante outras cantoras de sua geração. Entre os destaques, o bom dueto com Pélico na turbulenta "Roupa Suja", as doces "Ugabuga Feelings" (com bom solo de Edgard Scandurra imitando Hendrix) e "You Wish, You Get It" e o especialíssimo cover de "Por Que Brigamos", pinçado da obra de Diana Pequeno, ex-mulher de Odair José.

Ouça: "Por Que Brigamos"
Leia mais:
- Três perguntas para Bárbara Eugênia no S&Y
- Bárbara Eugênia ao vivo em SP no S&Y

12º - Six Months of Death, Veenstra

A grande revelação de 2013 vem de Curitiba, faz post-rock e não teria idade para dividir uma cerveja com este escritor. Lorenzo Molossi, de 17 anos, escolheu o pseudônimo François Veenstra para assinar seu projeto paralelo - ele é oficialmente o baterista da banda Dunas, que deve soltar novas canções em breve - e com ele, criou uma das gratas surpresas desse ano. Um disco que plana no ar, sem abusar dos cacoetes e clichês do gênero, para ser escutado no escuro, em bons fones de ouvido. 

Ouça: "Negative Space"

13º - Condição Humana (Sobre o Tempo), Guilherme Arantes

Primeiro disco de inéditas de Guilherme Arantes em quase uma década, Condição Humana não deixa de lado o romantismo que fez a fama do compositor  faixas como "Oceano de Amor" poderiam facilmente estar em qualquer novela da Globo hoje em dia. Dessa vez, o homem do coração paulista regressa com o apoio de velhos camaradas, como Edgard Scandurra e Luís Sérgio Carlini, e fãs da nova geração, como Marcelo Jeneci e Tulipa Ruiz. Entretanto, o esquecimento do mercado deixou marcas em Guilherme, que tenta entender a velhice ("Olhar Estrangeiro"), dispara contra aqueles que o abandonaram ("Onde Estava Você") e, apesar da ingenuidade, compõe um painel social e político das mudanças dos últimos 30 anos no País na sincera "Moldura do Quadro Roubado". No final, o saldo é positivo: “Condição Humana” pode não ser o comeback que Guilherme Arantes merece, mas é o que ele precisa agora.

Ouça: "Condição Humana"
Leia mais: 
- Três vídeos de Guilherme Arantes em Paranapiacaba: "Meu Mundo e Nada Mais", "Moldura do Quadro Roubado" e "Brincar de Viver"

14º - Cavalo, Rodrigo Amarante

É fácil dizer que Cavalo talvez seja o disco mais decepcionante de 2013, embora a expectativa em volta dele tendesse ao infinito. Também, pudera: trata-se do primeiro trabalho solo do melhor compositor da banda mais influente da primeira década do século XXI nesta terra de Anittas e Amarildos. Ao contrário de canções pop arrebatadoras, porém, Amarante investiu em uma sonoridade mínima, em um disco que tem como temas centrais a saudade e o exílio, um sinal de sua perdição nos últimos anos (veja o texto linkado abaixo). Ele não é o primeiro e nem o último a lidar com tal tema na história da música (e da literatura) lusófona, e sofre com a concorrência desleal, mas tem bons momentos na baladinha "Mon Nom", cantada em francês, na melodiosa "Tardei" e na balançada "Maná". Amarante pode mais, mas isso não significa que ele não mereça um lugar nessa lista.

Ouça: "Mon Nom"
Leia mais:
- Cavalo sem rumo: Rodrigo Amarante ao vivo em SP

15º - O Cantor Mudo e a Sonora Vaia, O Cantor Mudo e a Sonora Vaia (EP)

Quatro anos após parir o melhor disco de rock brasileiro do novo milênio, Tudo Que Eu Sempre Sonhei, junto com os Pullovers, o paulista Luiz Venâncio volta a dar as caras no EP conceitual (e no show ópera-rock que o acompanha) O Cantor Mudo e a Sonora Vaia, um personagem que não fala, não dá entrevistas, só canta e se comunica através de placas. É pouco perto da força de canções como "1932", "Marinês" e "Futebol de Óculos", mas o trabalho tem acertos como a cover delicada de "Como Dois e Dois", a confessional "Pai" e a zoeira "Chocar a Mamãe", com irresistível sotaque da Mooca. Vale a pena esperar para ver. 

Ouça: "Como Dois e Dois"
Leia mais:
- O Cantor Mudo e a Sonora Vaia ao vivo em SP

Menção Honrosa: Mundão de Ouro, Riachão

Capitaneado pela cantora Vânia Abreu, Mundão de Ouro é um trabalho sui generis, por recuperar com galhardia a obra de um dos mais importantes sambistas da Bahia. Riachão, hoje com 92 anos, é o homem que fez "Chô Chuá" e "Vá Morar Com o Diabo", mas suas músicas vão muito além disso: e é isso que está no disco. Durante alguns meses, o sambista compareceu a um estúdio em São Paulo e foi relembrando seus sambas - entre eles, pérolas perdidas como "Valdineia", que duvida do amor por uma mulher mais jovem, "Eu Queria Ela", a história de um romance proibido e a divertida "Parabéns", a melhor música sobre aniversários feita desde "Birthday", dos Beatles, além da bonita "Meu Dia Vem Aí", que imagina a morte do sambista. 

Ouça: "Meu Dia Vem Aí"

2 comentários:

  1. Gosto da diversidade da lista. Mas creio na descartabilidade de discos como "Saudade", "Condição Humana (Sobre o Tempo)", "Vazio Tropical", "Sacode", "Impossível Breve", "Amor Atlântico". As tentativas de Jeneci, B.Eugênia, Emicida, Amarante e Apanhador são razoavelmente distantes dos outros da lista. Seja para o denso, seja para o pop. Uns mais certeiros que os outros, mas todos em tentativa. Fico em dúvidas até onde o disco do Felipe Cordeiro merece um espaço na lista senão somente por sua qualidade de produção. A se discurtir. Boa lista.

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