23 de fev. de 2012

Clássicos em 3D: Saudade do que Eu Não Vi

Nos últimos meses, os cinemas têm sido invadidos por uma série de filmes... antigos. Em nova versão, calcada na tecnologia 3D (utilizada há décadas em parquinhos de diversão mundo afora), clássicos recentes como "Toy Story", "O Rei Leão", "A Bela e a Fera" e "Star Wars: A Ameaça Fantasma" estão sendo exibidos nos grandes centros do Brasil. A grande pergunta é: o que raios o espectador tem a ganhar com isso?

O 3D, enquanto plataforma para o cinema, é um auto-atentado. Sejamos francos: é difícil se impressionar por mais de dez minutos com os óculos e toda a artimanha picareta das três dimensões - o que dirá por duas horas? Além disso, nem todo mundo gosta de ver pedras, pássaros ou explosões passando de frente por sua cara.

Pra quem usa óculos, ver cinema 3D é uma operação de muita engenharia facial: é preciso equilibrar quatro hastes e dois pares de lentes em apenas uma cara, e ainda conseguir focalizar tudo ao mesmo tempo. Sem falar na probabilidade alta de enxaqueca ao se ler legendas em profundidade. (Desnecessário, diga-se de passagem). Tudo isso considerando um filme que foi pensado para ser exibido em 3D - imagina, então, um que não foi? A sensação é paralela, ainda que salvas as proporções, a assistir um filme dublado ou ver um programa de TV que foi colorizado. 

Mas tem uma coisa nessa história toda que merece destaque - e nela pode estar toda a chave da brincadeira. Pode notar que na listinha de filmes citados no primeiro parágrafo, todos eles contam mais ou menos vinte anos de lançamento - aproximadamente, a média de idade das pessoas que mais vão ao cinema hoje em dia.

Mais do que isso: são filmes que tem seu lugar na memória afetiva de muita gente. Ir assisti-los no cinema é como recuperar uma parte da infância perdida ou, no caso de "A Ameaça Fantasma", ir procurar alguma coisa que não se podia ter visto antes, por culpa de idade e por dificuldade de apreciação à altura na época.

Os mais críticos dirão que é a indústria cultural se aproveitando de uma fraqueza emocional, mas há certa beleza nessa história toda. Numa paráfrase torta de Renato Russo, ver filmes antigos em 3D é perceber a "saudade do que eu não vi".

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