Tava fuçando os arquivos de textos durante as férias e encontrei esse texto que escrevi em 2010, próximo à Copa do Mundo, para o Pop to the People, um blog coletivo que eu tive com o pessoal da faculdade na época. Entretanto, ele acabou não sendo publicado, e quando o reencontrei, achei uma pena deixá-lo de lado.
Brasileiros e brasileiras, chegamos à época da Copa do Mundo. Pra muitos de nós, isso significa tirar a amarelinha cheia de traças do armário, juntar os amigos, colocar um monte de cervejas na geladeira, preparar uns petiscos ou aquele churrasco e ligar a TV - com direito a roda de samba antes, durante e depois do jogo. Peraí, alguém falou em samba? O Pop To The People aproveita esse espírito futebolístico para apresentar, lembrar e cantar: futebol e música é uma tabelinha que dá "samba, muito choro e rock'n roll".
Todo homem brasileiro que se leva a sério tem um time de futebol, não é verdade? Veste a camisa, acompanha as campanhas pelos jornais, sabe cantar o hino - e o faz com emoção. E com razão: alguns dos hinos brasileiros são tão bonitos que até os torcedores de outros times os cantam. Lamartine Babo fez os dos quatro grandes do Rio - mas o mais bonito é o do seu América. E o que dizer da canção de guerra do Grêmio ("Até a pé nós iremos/Para o que der e vier/Mas o certo é que nós estaremos/Com o Grêmio onde o Grêmio estiver"), composta por Lupicínio Rodrigues em meio a uma greve de ônibus? Até alguns colorados a entoam por aí de tão linda que é.
Já alguns músicos-torcedores também fizeram canções que, se não são hinos, são belas declarações de amor a seus times. Curiosamente nessa seção há um domínio quase que completo dos times de maior torcida do país: Corinthians e Flamengo. Rita Lee se disse masoquista – com muita razão, diga-se de passagem - ao torcer pelo alvinegro da capital paulista em "Amor Branco e Preto" e Toquinho disse que ser "corintiano é ser um pouco mais brasileiro" - isso sem comentar a clássica marchinha "Meu Coração é Corintiano", ma-oê!, do Sílvio Santos. Já Luiz Ayrão, sem palavras para definir o que é ser rubro-negro em "Flamengo Maravilhoso"; Tim Maia, que nem usa palavras na instrumental e empolgante "Flamengo"; Marcos Valle, feliz por até o presidente ser "Flamengo Até Morrer"; e Jorge Ben, que é "fla-fla" e sua Teresa que é "mê-mê", em "País Tropical", vestem com honra as cores do esquadrão musical do time da Gávea.
Como não esquecer também das canções feitas especialmente para comemorar ou incentivar as campanhas da seleção brasileira nas Copas? Desde 1958, com "A Taça do Mundo é Nossa", passando pela adesista e ufanista "Pra Frente Brasil", do compositor carioca Miguel Gustavo, até chegar à investida no mínimo engraçada de Júnior - é, aquele do Flamengo e do futebol de areia - pelas rádios do país com "Voa Canarinho". Para essa Copa que se aproxima, o Skank regravou a música da Coca-Cola, "Waving Flag", em português.
Há também quem tenha utilizado o futebol como pano de fundo para criticar o panorama político ou o próprio jeito de ser tupiniquim: é o caso de Chico Buarque e a já citada "Meu Caro Amigo", da carta de Gilberto Gil ao amigo Afonsinho ("Meio de Campo", onde ele tenta "aperfeiçoar o imperfeito, dando um tempo, dando um jeito"), de João Bosco narrando a cena de um crime ("Em vez de rosto, a foto de um gol", de "De Frente pro Crime") ou da recente canção do grupo paulistano Pullovers dando um leve puxão de orelha no espírito conformista: "Pra que reclamar se tem conhaque/Se na tevê tem um craque/e o meu Timão só entra pra ganhar?".
Não se pode deixar de lado as homenagens àqueles craques que fazem toda a torcida vibrar de emoção e saem aplaudidos do estádio. Moacir Franco fez a "Balada Nº7" para Garrincha, Marcelo D2 teceu loas ao fenômeno em "Eu Sou Ronaldo", Sérgio Brito enalteceu o matador bom de bola e de briga Serginho Chulapa em "Chulapa Free" e Jorge Ben (olha ele de novo!) sacralizou Zico (o "Camisa 10 da Gávea") e mitificou "Fio Maravilha". Já Chico Buarque fez um tributo por atacado: em "O Futebol", acontece uma imaginária tabelinha entre Mané Garrincha, Didi, Pagão, Pelé e Canhoteiro.
E se ultimamente você também tem xingado o Dunga querendo o Ganso ou o Ronaldinho Gaúcho na África do Sul, console-se: em 1974, Luís Américo compôs "Camisa 10" para reivindicar ninguém menos que o Rei na Copa da Alemanha - como se sabe, não deu muito certo e o Brasil ficou em quarto lugar na ocasião.
E o que acontece quando os compositores juntam à música e ao futebol a paixão pelas mulheres? A resposta fica por conta de Tom Jobim – cuja amada fazia ele “até se esquecer do futebol” em “Falando de Amor” -, do mundo livre s/a – que comparava a garota ideal com “um treino de futebol/um domingão de soll” ou “Rivaldo maravilha mandando um gol” em “Meu Esquema” – e Pullovers, na nerd e fofa “Futebol de Óculos”, dedicada a “todos os craques tímidos que de uma maneira ou de outro usavam óculos na alma”. Isso sem comentar a escrachadíssima – com direito a participação especial do narrador Sílvio Luiz (aquele do “Olho no lance!”) – “Futebol, Mulher e Rock’n Roll”, dos metaleiros do Dr. Sin.
E o que acontece quando os compositores juntam à música e ao futebol a paixão pelas mulheres? A resposta fica por conta de Tom Jobim – cuja amada fazia ele “até se esquecer do futebol” em “Falando de Amor” -, do mundo livre s/a – que comparava a garota ideal com “um treino de futebol/um domingão de soll” ou “Rivaldo maravilha mandando um gol” em “Meu Esquema” – e Pullovers, na nerd e fofa “Futebol de Óculos”, dedicada a “todos os craques tímidos que de uma maneira ou de outro usavam óculos na alma”. Isso sem comentar a escrachadíssima – com direito a participação especial do narrador Sílvio Luiz (aquele do “Olho no lance!”) – “Futebol, Mulher e Rock’n Roll”, dos metaleiros do Dr. Sin.
Existem também artistas que preferiram dar destaque a situações ou posições específicas do gramado. Jorge Ben (novamente!) aparece aqui: seja na reclamação da torcida de "Cadê o Pênalti?", avisando o "Goleiro” que ele não pode falhar ou glorificando a figura do "Ponta de Lança Africano", com direito a um acachapante riff de guitarra na introdução. O Rappa, por sua vez, registrou a fome de gols por parte da torcida em "Eu Quero Ver Gol", enquanto Jackson do Pandeiro torcia pelo desempate em "Um a Um" e Pixinguinha chorava o "Um a Zero". O Trio Esperança mostrou o momento de explosão após um gol chorado em "Replay" e o Skank preferiu juntar todos esses ingredientes em "É Uma Partida de Futebol".
Ok, eu sei: você vai reclamar que esse texto não quis te provar nada e apenas mostrou uma lista gigante de músicas que talvez você devesse ouvir sobre futebol. É, é justamente isso – ou por acaso você queria uma seqüência lógica estabelecida cheia de táticas e conclusões num esporte que, pra usar mais um clichê do léxico futebolístico, é nada senão “uma caixinha de surpresas”? Então, o que você está esperando pra clicar em todos esses links, baixar as músicas e montar a trilha sonora do seu churrascão de Copa pra botar pra tocar enquanto os amigos da roda de samba afinam os instrumentos?
Lista muito completa e até tem alguma encadeação lógica.
ResponderExcluirAinda bem que postou
Adorei a lista, mas eu tenho mais uma que adoro e não está aí nessa lista.
ResponderExcluirEddie - Futebol e Mulher
http://www.youtube.com/watch?v=TonVlMVzOw0