E no fim das contas, acabou dando tudo certo no Show Protesto da USP. Depois de uma quarta a tarde bastante tumultuada, no qual a entrada da cerveja e até de banheiros químicos e do som foi questionada pela Reitoria - a festa chegou até a ser cancelada em um momento pelo Comando de Greve - o clima que reinou na Praça do Relógio foi de paz e música - sem a presença da polícia por perto e com cerveja. Em cima de um trio elétrico, B. Negão, a Patife Band e a Isca de Polícia (esta última reforçada em boa parte do show com Tulipa Ruiz e Arrigo Barnabé) fizeram três apresentações pra ficarem guardadas na história da Universidade.
B. Negão e seu Sound System abriram os trabalhos perto das onze da noite, saudando o fato de que aquele era um evento apartidário. No repertório, teve espaço para boas canções do disco Enxugando o Gelo, de 2003, como a faixa-título e "(Funk) Até o Caroço" - esta última com uma citação de Jorge Ben - e até para um pedaço de "Contexto", petardo do Planet Hemp. Na sequência, a Patife Band de Paulo Barnabé fez uma apresentação hermética, enquanto seu bandleader se dividia entre cantar e tocar bateria - o destaque ficou para o encerramento, com a porrada "Tô Tenso".
O relógio (sim, isso foi uma piada) apontava duas da manhã quando a Isca de Polícia, banda que acompanhava o mestre Itamar Assumpção. Ontem, ela era composta por Vange Milliet e Suzana Salles nos vocais, Luiz Chagas (pai de Tulipa Ruiz) e Jean Trad nas guitarras, Paulo Lepetit no baixo e Marcos Costa na bateria, e misturou clássicos do Nego Dito, como "Luzia", "Embalos" e "Nego Dito", a um cover esperto de Roberto/Tim Maia ("Não Vou Ficar") e as participações especiais de Arrigo e Tulipa. Não foi uma apresentação dos sonhos - o som, como era de se esperar, era precário - mas o importante era o clima e a mensagem, e mais do que isso, que aquilo ali que estava sendo visto fosse um evento possível. Aos pés da Reitoria, lembrei da última vez que lá estivera, rodeado de quatrocentos policiais e cinco helicópteros sobrevoando a Universidade.
Olhando aquele trio elétrico iluminado, eu tive talvez uma das primeiras percepções do que todo mundo costuma dizer sobre uma instituição como a USP: "aqui é um lugar do livre pensamento". E por isso, não quero dizer que eu concorde com todas as ideias que foram ali propostas, nem que discorde de todas elas. A música diz muito a mim, e acho que o fato culpado de eu estar dizendo tudo isso é que eu simplesmente não consigo imaginar outro lugar em que algumas centenas de pessoas cantem (e dancem) "Clara Crocodilo", uma canção que sempre me assombrou (desde a infância, quando meu pai colocava o trecho inicial da canção pra tocar na vitrola querendo me assustar) por sua estranheza genial. Mais, não digo: espero que os vídeos (registro precário, aviso) que ilustram esse texto sejam capazes de falar melhor que eu.
PS: Amanhã ou depois, solto aqui mais vídeos do show e uma informação... bacaninha.
Foto por Bruno Capelas.
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