22 de mar. de 2013

Churrasquinho Grego: Atenas, parte 2

Gamado no gamão (ao fundo, o Monastiraki)
Quanto tempo é necessário para um amor nascer? As canções pop me dizem que são mais ou menos três minutos, os filmes de Richard Linklater avisam que basta apenas um período do dia (antes do nascer ou do pôr-do-sol), e os poemas do Bandeira precisam de apenas algumas poucas linhas para fazer o coração bater. Atenas, entretanto, foi um pouco mais exigente: pediu dois dias e pouco menos para deixar algumas marcas em mim.

Se ontem foi um dia bastante nublado, com o sol e a chuva dando às caras de vez em nunca, a sexta-feira foi talvez o dia mais bonito que eu vi desde que cheguei na Europa, em um sábado de carnaval. Fez sol o dia todo (e deu pra usar só camiseta, coisa que fazia quase dois meses que eu não fazia), o que deixou uma cidade já colorida com um brilho todo especial. Aproveitei para tirar fotos (algumas vocês podem ver aqui neste texto, mas todas elas estão lá no Facebook) e pra curtir a cidade a pé, como deve ser feito (apesar de muitos gregos tentarem me fazer pegar o metrô).

A Ágora
Saí do hostel lá pelas dez da manhã, depois de enrolar na cama um tempão, rumo à Ágora, o antigo centro da cidade, onde Sócrates supostamente desafiava a galera prum diálogo animado e a ferveção acontecia (risos). De lá, rodei pelo Monastiraki, um mercadão de pulgas, e aproveitei para passar numa loja de vinis e levar comigo um Velvet Underground & Nico, edição italiana, por 10 euros, e um Five Leaves Left, do Nick Drake, de encomenda pro Vini. Os dois LPs me fizeram passar alguns apuros mais tarde, quando o vento mais forte que eu já vi na vida quase me levava pelos ares no Estádio Panathinaiko.

Erguido no século VI a.C, reformado pelos romanos nos primeiros séculos depois de Cristo, transformado em campo de pastagem na época da dominação cristã e reerguido no século XIX, após a independência grega, o Panathinaiko é uma visita obrigatória para qualquer um que se diz minimamente fã de esportes. Afinal, é dele que saem as tochas olímpicas em sua caminhada para todas as Olimpíadas e é ele um dos principais espaços dos primeiros jogos da era moderna, realizados aqui em 1896. Além disso, para os brasileiros o lugar guarda um sabor especial: foi nele que o maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima (salve primo!) conquistou a medalha de bronze em Atenas-2004, após liderar a prova e ser atingido por um padre irlandês.

Voa, aviãozinho, voa
Por apenas 3 euros, é possível visitar todo o estádio, dar uma volta na pista de atletismo, conhecer um museu pequenino com as tochas de todas as Olimpíadas e apreciar, do topo das arquibancadas (todas elas de mármore), uma das vistas mais legais da cidade. A visita ainda inclui um áudio-guia espertíssimo, narrado em português de Portugal, cheio de informações divertidas para você pentelhar o almoço dos amigos.

Antes do estádio, porém, relembrei meu momento nerd da época do Ensino Fundamental e me enfiei em três museus: o Arqueológico Nacional (bacana, mas um bocado repetitivo), o Numismático (uma casinha simpática que conta em dois andares curtos a história das moedas, da Ásia Menor aos dias de hoje) e o Benaki (o único museu que paguei na viagem, 5 euros pela entrada reduzida, contando a história da arte grega do período pré-histórico até 1922, com destaque para a reconstrução do período bizantino e da ocupação turca). Entre eles, uma passagem rápida pela Academia de Atenas, onde Platão antigamente ensinava a seus alunos e hoje é um prédio dedicado a palestras, pesquisas e atividades acadêmicas (dup) da Universidade de Atenas, vizinha ao prédio.

Comida <3
Depois de tanto andar, deixei as coisas no hostel e voltei pra rua: não tinha comido nada o dia todo e resolvi ter uma refeição grega de verdade. Ou quase: tentei bravamente, mas não consegui resistir à tentação de comer mais um churrasquinho grego. Dessa vez, a porção veio no prato, com muito pão pita, cebola, tomate e carne de porco, por 9 euros (caro, mas delicioso). Acompanhando, o saganaki, porção de queijo grego frita com ouzo (uma bebida típica daqui), que lembra muito o nosso queijo de coalho, mas em uma versão um pouco mais salgada.

Amanhã resta pouca coisa pra fazer - preciso ir dar uma olhada no Templo de Zeus Olímpico, único item essencial da minha lista de coisas a visitar aqui. Estou dividido a gastar o resto do dia entre ir de novo na Acrópole (e torcer para um pouco de sol) ou pegar um livro, botar na mochila e achar um parque para ficar sossegado por aí. Conto pra vocês depois, com um (possível) puta sorriso no rosto.

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Um comentário:

  1. Tempo, tempo, tempo. És um dos deuses mais lindo.
    Tempo é um bem precioso, não nos é dado em ambundância. Quando usado de forma generosa, o mundo sorri absoluto, como que mágica. Certo Bruno?

    Ludy

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