24 de mar. de 2013

Churrasquinho Grego: Atenas, parte 3


Quando o sábado começou, eu jurava que ele ia ser um dia tranquilo, dedicado a andar calmamente pelas ruas de Atenas, tirar algumas fotos e dar uma última olhada nos meus lugares favoritos da cidade. Ledo engano - mas não que isso tenha se convertido em um problema, de fato. Na noite anterior, um brasileiro chegou ao hostel, e quase como em um momento de Quase Famosos (aquele filme que fala também sobre as pessoas interessantes que você encontra na estrada), nos juntamos o dia todo. 

O resultado foi um passeio que me fez voltar ao Estádio Panathinaiko, ir ao Kerameikos e ao Monte Filoppapo (o lugar que tem a vista mais incrível de Atenas), comer o delicioso souvlaki (parecido com o gyros, mas no lugar da carne fatiada, entra um espetinho de porco de dar água na boca), mas, mais que isso, também me fez conhecer mais sobre o mundo e um pedacinho da Grécia.


Stênio, o brasileiro de quem falei no parágrafo anterior, nasceu em São Luís, estudou no Japão e hoje mora em Munique. Graças a ele e ao seu amigo Athanasios, vi um pouco da noite grega (percepções gerais: um povo que dança pouco, cujos DJs pararam no tempo há uns 5 anos, mas com lugares bastante animados) e consegui as respostas para algumas das minhas perguntas sobre o país de Sócrates e Platão (uma dupla de ataque que faria bastante sucesso no futebol de hoje, hehe). 

Por exemplo: há um ou dois dias, eu disse que acreditava em algum otimismo resignado quando pensava na maneira como os gregos pensavam sobre o passado de glória e os dias de hoje. 

Em um papo descontraído enquanto jantávamos em um restaurante tipicamente grego (onde provei o queijo feta, amor em forma de latícinio, e um iogurte diferente temperado com cebola e pepino, além de lulas, sardinhas e pão), Athanasios me contou que a maioria dos gregos não chegava nem a pensar sobre os tempos idos. 

Eles simplesmente viviam sem ter muita noção do que acontecera antes, e os que pensavam, tinham em mente que era impossível superar os homens que habitaram aquela terra na Antiguidade. A ignorância pode ser uma benção - mas, mesmo assim, ainda acho que apesar de um cenário pior, a maior parte da população consegue lidar melhor com a crise do que os portugueses. 



Isso não significa, entretanto, que as coisas não estejam tensas em Atenas: poucas horas antes de eu ir embora, já na manhã do domingo, a polícia cercou a principal praça da cidade (a Syntagma), e muitos manifestantes protestavam, em uma prévia do que pode vir a acontecer nessa segunda-feira. 25 de Março é feriado nacional na Grécia, em comemoração ao começo da revolução que, no século XIX, tirou o país do jugo do Império Turco-Otomano, após 400 anos de dominação. 

Nesse dia, normalmente acontecem paradas (assim como no nosso 7 de Setembro), mas, nos últimos anos, as festividades têm sido palco de tumultos e confrontos entre o povo, a polícia e os políticos.

E pelo pouco que consegui conversar com alguns gregos, parece que as coisas não têm melhorado: a cada ano que passa, o governo aperta mais o cinto da austeridade, tornando a vida um bocado mais difícil. 

Enquanto escrevo, prestes a chegar a Barcelona, acredito que esse é o lado triste e escuro de um país incrível, solar e cheio de histórias, habitado por um povo alegre, que gosta de rir, receber, comer bem e "viver a boa vida" (especialmente se for ao ar livre). 

Meu lado racional não permitiria nunca que eu morasse na Atenas dos dias de hoje, mas o coração bateu forte quando o avião subia e deixava a capital grega para trás. Vou embora com a certeza de voltar, torcendo para encontrar a cidade em tempos melhores. Como diria Bruce Springsteen, em "Atlantic City": "Everything dies, baby, that's a fact/Maybe everything that dies someday come back".

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COISAS DE GREGO:
a) Churrasquinho: check
b) Presente: check
c) Falando: check
d) Arroz: não rolou
e) Tragédia: não, ufa, ainda bem

Leia mais do Pergunte ao Pop Turnê Europeia:
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Um comentário:

  1. O iogurte com pepino é o tzatziki que tinha te falado! :)

    Grécia é demais, Atenas foi um dos lugares mais legais que já fui na vida e tenho certeza de que vou voltar!

    Abraço!

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